Jornalismo Júnior

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Jorge Zaverucha: “Não entendo esse conceito de risco à democracia. Acho que as pessoas estão perdidas.”

A cinco dias das eleições de 2018, uma das mais polarizadas da história, a J.Press entrevistou quatro cientistas políticos: dois pró-Haddad e dois pró-Bolsonaro. Confira a primeira entrevista:   Por Letícia Camargo (camargoleticia@usp.br) Jorge Zaverucha é um cientista político formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com mestrado em Ciência Política pela Hebrew University Of Jerusalem …

Jorge Zaverucha: “Não entendo esse conceito de risco à democracia. Acho que as pessoas estão perdidas.” Leia mais »

A cinco dias das eleições de 2018, uma das mais polarizadas da história, a J.Press entrevistou quatro cientistas políticos: dois pró-Haddad e dois pró-Bolsonaro. Confira a primeira entrevista:

 

Por Letícia Camargo (camargoleticia@usp.br)

Jorge Zaverucha é um cientista político formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com mestrado em Ciência Política pela Hebrew University Of Jerusalem e doutorado pela University of Chicago. Também é autor do livro “FHC, Forças Armadas e Polícia: entre o autoritarismo e a democracia, 1999-2002.”

Em entrevista a J.Press (Jornalismo Júnior), Zaverucha explica porque vai votar em Jair Bolsonaro e também expõe pontos positivos de um possível governo do candidato à presidência, que tem liderado as pesquisas com quase 60% das intenções de voto, segundo o Datafolha.

 

  • Quais são os projetos do programa de governo que, em sua opinião, estão motivando as classes mais pobres a apoiarem o candidato à presidência, Jair Bolsonaro?

 

Não sei se as classes mais pobres apoiam Bolsonaro por causa de um projeto específico, mas sim porque há uma situação de “desencanto”. As pessoas estão decepcionadas com a política, a corrupção habitual e a alta violência. Então estão atrás de alguma novidade, e Bolsonaro conseguiu capturar esse sentimento. Por isso ele está liderando as pesquisas.

Podem pensar que essa liderança ocorreu após ele ter falado em pagar o 13º salário do Programa Bolsa Família, mas isso foi dito apenas agora, no final da campanha. Antes disso, já liderava. Ele apenas reagiu à uma acusação feita pelo PT, dizendo que queria acabar com o Bolsa Família. Então disse “Não vou acabar, e mais: darei o 13º.”

Mas, na minha opinião, não é isso que leva os mais pobres a votarem nele. É aquela sensação que permeia o país de querer mudanças, e ele representa a mudança.

 

  • Sobre a economia, Bolsonaro afirma que a perda de direitos seria uma premissa para a geração de empregos e quer brasileiros trabalhando “à beira da informalidade”, em entrevista à Jovem Pan. Como resolver a falta de benefícios ao trabalhador, que ganhará menos e consumirá menos?

 

Isso é uma tentativa de desconstruí-lo, ele não fará isso. Uma afirmação isolada não o torna alguém que quer cortar os direitos das pessoas.

Essa é uma situação que pode acontecer no Brasil, assim como em qualquer outro lugar do mundo. Não é uma política na qual ele esteja pensando deliberadamente em fazer. Sugiro que devemos reagir em cima do que ele fizer. Devemos ver o que está propondo e qual será a solução da situação. Porém, não o vi dizer especificamente que ele tirará direitos.

 

  • O candidato não menciona nenhuma proposta relacionada à cultura em seu programa de governo. Não seria importante promover a cultura do país como parte de incentivar o nacionalismo, incitado por Bolsonaro?

 

Sim, eu acho. Bolsonaro não é uma pessoa ilustrada, não representa a direita ilustrada, industrializada e sofisticada. Então as questões culturais não são prioridades em seu governo. Mas com certeza haverá um Ministro da Cultura, que levará à diante algumas medidas nessa área.

 

  • Bolsonaro tem se ausentado dos debates desde o 1º turno, devido ao ataque que sofreu. Se isso persistir, será a primeira eleição desde a redemocratização sem debates no 2º turno. Quais os efeitos disso? Há consequências para os eleitores?

 

Também será a primeira eleição em que um candidato leva uma facada. Tivemos Dilma e Lula, que já deixaram de comparecer aos debates, embora não tenham levado nenhuma facada. O Lula mesmo disse que só iria para debates se fosse de seu interesse.

Isso é uma estratégia de candidatos que estão na frente [em pesquisas eleitorais], pois têm muito a perder. Então não é o caso apenas de Bolsonaro. Repito que Dilma e Lula também não participaram de debates.

Não sei até que ponto isso influencia os eleitores. Apesar de Bolsonaro e Haddad não estarem indo para debates, estão falando o tempo todo nas televisões. As pessoas estão sabendo, basicamente, o que cada candidato está propondo. Se houvesse um debate nesta eleição, seria para que um tentasse nocautear o outro, e não para realmente discutir as questões mais importantes do país.

 

  • A merenda da escola é, na maioria das vezes, a única refeição de muitos alunos da classe média e baixa. Qual seria, em sua opinião, a alternativa para esses alunos que ficarão sem o almoço, uma vez que o candidato propõe escolas em formato EaD (Ensino à Distância)?

 

Essa é uma boa pergunta. Já perguntaram isso a ele? Um jornalista, colega seu, deveria fazer essa pergunta muito bem colocada que você fez. Preferia que essa pergunta fosse feita a ele e lamento que até agora não foi feita. Só você que está fazendo essa pergunta.

 

  • O posicionamento da imprensa internacional, tanto da esquerda quanto da direita, é contrário à candidatura de Jair Bolsonaro, por afirmarem que ele está promovendo um regime ditatorial, ou ainda, fascista. Qual a sua opinião sobre a ameaça à democracia que a grande mídia internacional está sugerindo?

 

Isso é uma questão não só da imprensa internacional, mas temos vários intelectuais dizendo que Bolsonaro é uma ameaça à democracia sem especificar que tipo de ameaça, grande, média ou alta. Que tipo de risco é esse? Qual parte da democracia está sendo ameaçada?

Quando dizem que isso é um golpe de estado, é um reflexo das instituições, que já são bastante avacalhadas. Nossa democracia já é bastante avacalhada.

Não entendo muito esse conceito de risco à democracia. Acho que as pessoas estão perdidas.

 

  • Apesar de ter rejeitado o apoio, Bolsonaro foi elogiado pelo ex-líder da Ku Klux Klan, David Duke. Por qual motivo um grupo supremacista se identificaria com as ideias de Bolsonaro?

 

Não sei em quais condições, isso é muito estranho. Será que o ex-líder teria sido induzido a isso? Como alguém dá uma declaração repentina como essa?

Realmente não sei, suponho que isso tenha sido armado. Será que a esquerda não plantou isso contra Bolsonaro? Para mim parece uma coisa plantada.

 

  • Bolsonaro já declarou explicitamente ser a favor do porte de armas. Em uma sociedade acostumada a resolver conflitos com violência, combatê-la com mais violência seria mesmo o melhor caminho?

 

O que Bolsonaro fala é que quer flexibilizar a posse de armas e fazer com que as pessoas possam adquirir armas para se defenderem. Isso está acontecendo porque praticamente não temos polícia. A polícia do Estado, que foi criada para garantir a integridade física e patrimonial, não o faz. Então o que um indivíduo vai fazer? Certamente vai querer comprar uma arma para se defender, porque não há polícia.

Se estivéssemos na Dinamarca não precisaríamos disso, porque lá há policiamento. Mas vivemos em um país que tem 63 mil homicídios por ano. Acredito que ele está corretíssimo em flexibilizar a posse de armas. O Estatuto do Desarmamento já morreu porque não impediu o armamento, cada vez mais pessoas se armam no Brasil legalmente. E os números de homicídios, ao invés de caírem, estão subindo.

 

  • Uma jovem em Porto Alegre teve uma suástica desenhada na barriga com um canivete, quando estava usando uma camisa com os dizeres “#EleNão”. Há relação entre os recorrentes casos de violência e a candidatura de Bolsonaro? Por que isso tem se intensificado?

 

Temos violência de ambos os lados. Temos violência tanto por parte da turma de Bolsonaro, como por parte da turma do PT. Pegaram em uma capela, no Rio de Janeiro, pessoas pichando suásticas. A polícia descobriu que quem estava pichando essas suásticas eram as mesmas pessoas que estavam pichando “Ele Não”, ou seja, pessoas do PT pichando para se parecerem com eleitores do Bolsonaro.

A campanha está polarizada, os nervos estão à flor da pele, as pessoas estão com medo e com ódio umas das outras. Cada grupo quer fazer valer sua opinião sobre o outro sem dialogar, como deve ser em uma democracia, então as pessoas apelam para a violência para ganharem o jogo.

 

  • Bolsonaro já prestou algumas declarações de ódio às minorias, como por exemplo quando disse que “as minorias devem se curvar às maiorias, ou se adequam, ou simplesmente desaparecem.” Em sua opinião, qual seria a repulsa do candidato por essas pessoas? Por que ele profere esses discursos?

 

Bolsonaro já fez uma série de declarações infelizes. Se olharmos para trás e vermos o que era Bolsonaro, não levaremos o voto à diante. O que temos que perceber é que ele está mudando para melhor. Está se moderando.

Ele já disse abertamente que não quer um golpe de Estado, que irá seguir a Constituição e tem dado declarações que demonstram que ele está muito mais moderado do que ele era há alguns anos e acho que é isso que devemos levar em conta.

O que você disse pesa. Mas, como eu disse, se vemos que ele está mudando e está mudando para melhor, palmas para ele.

 

  • Como a eleição de um presidente que já se demonstrou contra os direitos humanos pode influenciar nas relações exteriores do Brasil e na presença do nosso país na ONU?

 

Antes Bolsonaro era um mero deputado obscuro e o que vinha na cabeça dele, ele dizia. Só que há certas coisas que dizemos em uma mesa de bar e que não podem ser ditas ao público geral. Agora que ele tem a expectativa de ser presidente, está começando a se policiar e dizer o que um presidente da República pode dizer. Então, como eu lhe disse, tenho uma visão otimista, acho que ele está melhorando seu desempenho e eu aposto nisso.

Em relação às questões exteriores, o presidente do Chile acabou de trazer uma delegação chilena para cá e elogiou Bolsonaro. Ele acredita que o candidato fará bons negócios, como propor uma via entre Chile e Brasil, visitar Israel e trazer tecnologias do país, além de garantir o abastecimento do semiárido nordestino com água e alimentos.

É claro que os países de esquerda não terão simpatia por ele. Já os países de direita, terão. Faz parte do jogo político.

 

  • Por que o Jair Bolsonaro é o candidato que a política brasileira precisa?

 

Não sei se é necessariamente o candidato que a política precisa, estou mais convencido de que o Haddad não é a política de que o país precisa. O PT precisa ser destruído. Mas o Jair Bolsonaro é uma grande incógnita para mim, e eu estou disposto a dar uma chance a ele.

 

Foto de destaque: Pedro Ladeira/Folhapress

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