Depois de passar pela Praça Charles Miller, mergulhe no Pacaembu e no Museu do Futebol, por meio de uma série de fotografias, marcadas por toda a subjetividade que elas permitem. Uma definição de futebol, história e paixão, permeados pela construção do Brasil.
Por Tainah Ramos
Estar ali, no estádio, é ver a história e a memória serem escritas sem intermediários, somente eu e o que o futebol provoca em mim. Ninguém contou como foi a partida, eu estava ali, eu vi, eu senti. Nesta imagem estão as arquibancadas amarela e verde do Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, nelas, a história foi escrita e reescrita. Memória a cintilar.
Mas e quando não estou? Quando não posso estar? O Museu emblema.
É passado, e também presente e futuro. Afinal, o que é um homem sem suas memórias? O que é um homem sem sua história? Nas telas, é possível assistir aos gols e narrações que foram mais emocionantes segundo os próprios narradores.
A reconstrução suscita uma nova memória, uma nova história. Não vi Pelé, não vi Garrincha, mas ali, com o coração no Museu, tive uma nova lembrança de seus feitos, algo para guardar em mim. Um pouco da biografia de cada ídolo brasileiro com a bola nos pés é colocado nessas brancas letras.
Por que não sentir a atmosfera de uma torcida vibrante? O momento intitulado de “exaltação” é composto por telas nas quais se passam os gritos das torcidas, mas ele não está em qualquer lugar desse santuário, ele está exatamente nos alicerces da arquibancada vista lá fora.
Mas se posso senti-la com os olhos e ouvidos, por que não senti-la com o tato e tocá-la na alma?
Estar ali desperta algo em mim, mas não só no “eu”, também no “nós”. Nossa história, enquanto brasileiros, com suas belezas e mazelas, exposta, ali reverbera no “eu”. O enorme letreiro aponta o que esse esporte, o qual “civiliza o pé” e mais que tudo, “não discrimina classes sociais”
Tentaram nos impedir de alcançá-lo, é verdade, mas ele bateu em nossa porta e não pediu RG. Em luz dourada, os quadros desta sala tratam disto: da História da Nação, da chegada dessa modalidade e de como as elites tentaram se apoderar dela.
Ser negro, ser mulher, ser pobre, ser criança, ser excluído nunca foi fácil no Brasil.
O futebol nos uniu, mesmo com todo o autoritarismo das classes dominantes.
Por isso, ele faz parte do Brasil, de sua História, como qualquer outro personagem citado nos livros.
Ele é o cotidiano, ele é a resistência, ele é a paixão.
Dessa paixão, vem a nostalgia. A sala sobre as Copas do Mundo nos reserva a presença do maior campeonato de futebol, ancorado em lances históricos e fatos políticos.
Da resistência, a luta por direitos, de ser e de fazer.
Do cotidiano, o ser futebol até quando não é.
Fato.
História.
Memória.
Presença.
Tudo isso é o futebol, pois está em todos os lugares.
O significado do que ocorre depois de ultrapassar a Praça Charles Miller é nosso patrimônio.
Este aqui é o meu, o seu, o nosso Pacaembu.