Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.
Misturando mitologias de monstros e forças da natureza, Lua Vermelha (Lúa Vermella, 2020) ambienta seu terror numa pequena vila da Espanha. De um experimentalismo arriscado, o longa se desenvolve por meio do som e das imagens, estas que até parecem pinturas devido aos belos enquadramentos do diretor Lois Patiño. E isso se repete em grande parte das cenas: uma sobreposição de imagens estáticas mais contemplativas que narrativas, com sons ou vozes em off ao fundo.
Uma vila amaldiçoada por uma besta, deixando os moradores paralisados como estátuas, e um herói – Rubio – que sumiu no mar em busca do monstro são as premissas do filme. De uma lentidão exaustiva, o ritmo é tão estático quanto as pessoas do local. Parece que o tempo parou lá, apenas se ouve as vozes dos moradores, o que por si só já configura um elemento perturbador, sendo o recurso mais eficiente empregado para desenvolver o terror.
Sem personagens desenvolvidos, o protagonista é o ambiente e o que se passa nele. Além das residências da vila, também há um pano de fundo sobre a natureza e como ela é afetada por uma represa construída ao redor do local. Com muitas linhas narrativas mal desenvolvidas, o meio ambiente é, certamente, uma das únicas questões que o longa debate com clareza, ainda que nas entrelinhas: grandes construções ambientais que favorecem o meio urbano, muitas vezes, são prejudiciais a pequenas comunidades.
Os elementos de terror de bruxas e monstros se mesclam à uma estética surrealista que até faz pensar se o que acontece ali é sonho ou realidade. Mas, na verdade, todas as histórias de horror se dão mais no campo do que é contado pelos residentes do que no que é realmente mostrado.
O que mais se vê são contrastes: entre ambientes claustrofóbicos das velhas casas da vila e a natureza com seu verde vivo, entre o marrom de terras de rios secos e o mar azul, entre a lua vermelha de sangue e o branco do manto das bruxas, e assim é repetido exaustivamente.
Claramente, a proposta de Lua Vermelha é ser experimental e, talvez, sua lentidão e excessiva preocupação com estética estejam ligados ao desconforto esperado para o espectador, tão acostumado com um cinema atual recheado de ação. Pode-se muito discutir o que o longa quis trazer nos subtextos, pois no plano principal pouco funciona.
É uma ode de Lois Patiño à imagem, ao som, à pintura, à mitologia e, principalmente, aos sentidos. Para alguns pode funcionar, mas, no geral, pede-se que a gente sinta até demais.
Confira o trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=U3FuX_7lWDU
*Capa: [Reprodução/Zeitun Films]