Após uma longa espera de cinco anos, o segundo álbum de estúdio da rapper australiana, Iggy Azalea, foi lançado no dia 19 de julho. Ao passar por diversos problemas com gravadoras e ter seu trabalho adiado inúmeras vezes – contando até com o descarte de um álbum pronto que se chamaria Digital Distortion –, a cantora comemora o projeto como uma grande conquista, assim como está descrito nas letras de suas canções.
O título In My Defense (traduzindo, “Em Minha Defesa”) se refere às críticas que a rapper sofreu ao longo dos últimos anos, principalmente após atingir o topo com seu hit Fancy, em 2014, em parceria com a britânica Charli XCX. O disco é um testemunho em que Iggy rebate todos os comentários negativos e impõe sua voz enquanto uma mulher, agora independente, dona de sua própria gravadora. A imagem da cantora baleada ao lado de um carro representa, segundo ela mesma, a impotência das mulheres diante ataques do público e dentro de determinados meios, como o da indústria musical.
O trabalho segue essa proposta. A ordem das músicas são pensadas para criar uma obra completa e bem finalizada, de forma a entender o porquê da presença de cada uma das faixas. Os arranjos e acompanhamentos simples, apresentando poucas notas musicais, seguem uma linha já apresentada no rap, em alta na atualidade. Essa forma de produzir as canções valorizam a voz do cantor e as rimas, o que traz a atenção do público às letras em si. Além disso, os refrões, por vezes, acabam sendo repetitivos, uma vez que se repetem exaustivamente ao longo de algumas canções.
O conteúdo é focado na trajetória da australiana e das experiências vividas por ela, contando como principais temas ostentação, respostas a críticas e sexo. Sendo assim, nos é apresentada uma Iggy mais madura e decidida de si do que em comparação aos seus antigos trabalhos, a exemplo de seu álbum de estreia The New Classic. Fica clara a nova imagem que ela deseja passar, não mais de uma rapper alicerçada em raízes do pop urban e conhecida por suas colaborações que possuem um refrão “pop chiclete”. Agora, ela se mostra uma rapper mais focada no hip-hop clássico. Isso pode ser comprovado pelas participações especiais do trabalho, compostas integralmente por outros rappers.
In My Defense começa com impacto. A primeira faixa, Thanks I Get, é uma das mais completas. Tudo citado nessa análise se faz presente na faixa. Um refrão que gruda sem esforço, rimas impecáveis e versos agressivos são uma porta de entrada para essa nova Iggy, que não mede esforços em suas falas e esbanja sua riqueza. Logo em seguida, Clap Back não impressiona tanto, apresentando um refrão demasiado longo. Entretanto, o que chama a atenção nessa faixa é a letra, talvez a mais forte e polêmica de todo o álbum. Ela trata do ódio recebido, do processo de se tornar uma artista independente e, de mais destaque, das acusações de racismo e apropriação cultural sofridas ao longo de sua carreira.
“They call me racist
Only thing I like is green and blue faces”
(Eles me chamam de racista
Única coisa que eu gosto é rosto azul e verde)
No verso acima, ela se refere às cores presentes nas notas de dinheiro, azul e verde. Assim, afirma que só se importa com a remuneração que ganha por meio de seu trabalho e se defende das acusações.
O álbum segue com Sally Walker e Hoemita. A primeira é notável por ser o primeiro single lançado para o projeto e por seu ritmo dançante. A música também conta com um clipe de grande produção.
Próximo à sua metade, o álbum apresenta raps bem produzidos em seguida um do outro, com refrões cativantes e rimas poderosas. Com exceção de Big Bag – monótona e não segue o padrão das demais – todas as faixas do meio do disco têm grande potencial. Começa com a quinta canção, Started, que foi o segundo single que saiu antes do lançamento do projeto. Apresenta um flow que prende o ouvinte e uma Iggy agressiva, que ostenta sua ascensão e como agora é rica e invejada.
“I started from the bottom and now I’m rich[…]
[…]You know that I’m the best, is that why you depressed?”
(Eu comecei de baixo e agora eu sou rica[…]
[…]Você sabe que eu sou a melhor, é por isso que você está deprimida?)
Ainda nessa sequência no meio do disco, também há Spend It, Commes Des Garcons e Fuck It Up. Vale destacar essa última, que recebeu um videoclipe no dia do lançamento do álbum e conta com a colaboração da rapper Kash Doll. Tanto o clipe quanto a letra trazem uma mensagem de amizade e de união feminina.
Já no final, as canções passam a apresentar um tom sexual mais notável. Freak of The Week traz a participação de Juicy J, e configura uma parceria com intensa combinação das vozes, ainda mais pelo tom acelerado presente na música. As duas últimas faixas, Just Wanna e Pussy Pop, não se destacam na produção, mas têm um teor divertido e empoderado, visto que há, na autoria, uma mulher cantando abertamente sobre sexo, seus desejos e vários parceiros. Dessa forma, o álbum termina com um tom engraçado, porém sem abrir mão de sua proposta: explícito e com raízes fortes no hip-hop.
In My Defense é uma experiência interessante e tem seus altos e baixos. Não é uma obra cheia de críticas sociais, mas algumas mensagens proveitosas podem ser tiradas da músicas. E, principalmente, o ponto forte é ver a nova imagem que Iggy quer passar, independente e liberta de amarras. Apesar de algumas canções que não grudam muito, a maioria delas são bem produzidas e apresentam rimas poderosas. Já distante de seu auge, o comeback da australiana traz novas visões e merece reconhecimento.