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Sobibor: um drama sobre liberdade e resistência

Por Luana Franzão e Bruna Irala luanafranzao@gmail.com brunairala@usp.br Vívido e inquietante, Sobibor (2018) é um drama histórico que retrata o convívio entre russos, judeus e soldados nazistas alemães no campo de extermínio que nomeia o filme. Apesar de tratar de um tema delicado e cruel como o Holocausto, o longa que representou a Rússia no …

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Por Luana Franzão e Bruna Irala
luanafranzao@gmail.com
brunairala@usp.br

Vívido e inquietante, Sobibor (2018) é um drama histórico que retrata o convívio entre russos, judeus e soldados nazistas alemães no campo de extermínio que nomeia o filme. Apesar de tratar de um tema delicado e cruel como o Holocausto, o longa que representou a Rússia no Oscar 2019, diferentemente de outras produções apresentadas sobre o assunto, centraliza o seu principal acontecimento em contar a história da rebelião dos encarcerados em busca de fuga e vida.  O líder da insurreição, Alexander Pechersky, é interpretado por Konstantin Khabenskiy, que além de transmitir precisamente a angústia e a resignação do personagem, também é responsável pela direção, fator que aproxima ainda mais o espectador dos conflitos apresentados e cria uma relação sutilmente coesa entre todos os elementos da narrativa.

É importante destacar que apesar de haver um comandante da situação, ele não é a única figura central da trama, a qual conta com uma diversidade de componentes que integram, em sua maioria, os oprimidos. Entre judeus, russos e algumas outras etnias, destaca-se o elenco feminino, representado principalmente por Selma (Mariya Kozhevnikova), Luca (Felice Jankell) e Hanna (Michalina Olszanska), incumbido de transmitir o pânico, a esperança e as implicações de possuir um corpo fetichizado em um ambiente hostil. Além disso, os atores mais jovens também ganham notoriedade devido às suas atuações emocionantes, especialmente os meninos Toivi (Kacper Olszewski) e Shlomo (Ivan Zlobin), que representam a perda da inocência e a dor de uma juventude roubada pelo sofrimento. O filme, porém, continua operando dentro da lógica da indústria cinematográfica de sempre: o elenco, apesar de diverso em suas nacionalidades, não apresenta pessoas racializadas ou não-brancas, perpetuando uma noção de que elas não existiam ou estiveram presentes no Holocausto.

O menino Toivi e seu melhor amigo no cativeiro, um dos cavalos dos soldados [Imagem: Lukas Salna]

A respiração pesada e ofegante dos primeiros segundos de Sobibor traz uma afirmação em si: esse não vai ser um filme fácil. E não é. Em poucos minutos, centenas de pessoas são mortas pelas câmeras de gás, contando com personagens já introduzidas na trama. E neste ponto, o filme perde certa sensibilidade necessária para a narrativa do Holocausto ao demonstrar com detalhamento os segundos torturantes antes da morte de um grupo de mulheres levadas ao extermínio, uma cena que pode servir de gatilho para quem está assistindo.

Após os momentos introdutórios, as pessoas que conseguiram algum trabalho no campo são submetidas a um ciclo desumanizante de torturas, humilhações, maus tratos. E essa sensação infernal é mantida por toda a duração do filme. Não há descanso e não há tempo para respirar, até que a revolta começa e com ela, o sentimento de esperança que os infla e se traduz em força.

Crueldades cometidas com os prisioneiros [Imagem: Lukas Salna]

O tormento das vítimas possui, obviamente, um agente executor. Caracterizados fielmente, os detalhes apresentados dos soldados de Hitler impressionam os espectadores, desde personalidades à perfeição dos uniformes. Os torturadores provocam emoções intensas na audiência devido a seu nível de crueldade e bestialidade, demonstrada claramente em cenas como a corrida de carroças, onde os animais açoitados são os cativos. Apesar de irreparavelmente tirânicos, os oficiais nazistas ganham mais dimensão emocional nesta obra do que em outras do gênero. É possível perceber em diversos momentos a sedução que as riquezas e o poder exercem sobre eles, os quais ficam extasiados pela riqueza adquirida e pelo domínio que possuem sobre vidas alheias. Além de tudo, é notória a visão que estes homens têm sobre quem controlam. Eles objetificam aquelas existências para não sentir o real peso de suas ações, e é perceptível que não enxergam nenhuma humanidade nelas, e deste modo, acabam por desumanizar a si mesmos.

Oficiais responsáveis por Sobibor [Imagem: Lukas Salna]

O que Sobibor tenta, e se sucede ou não cabe a interpretação de cada um, é trazer um olhar que vai além da representação unidimensional das vítimas do Holocausto, com personagens que, de alguma forma, conseguem levantar para mais um dia e lutar. É uma história de resistência e resiliência que desafia os horrores do período. O sofrimento e a dureza dos campos de concentração não são usados como gatilho único para empatia do espectador. O filme diz: além de todos os infernos de Dante, vamos sobreviver.

Dentro deste universo vil, é curioso observar a criação de uma hierarquia própria do ambiente adverso em que vivem os prisioneiros, independente do mundo externo, sendo a guerra em si mencionada pouquíssimas vezes. Almejando a emancipação, criam-se grupos de acordo com as posturas adotadas para atingir seu objetivo. Enquanto alguns se adaptam às regras do regime para se preservarem e usam da fé como âncora e guia, outros acreditam que o único caminho possível é a rebeldia, e assistir os conflitos entre eles por vezes se assemelha a um documentário antropológico.

É com a quebra dos muros e uma corrida para a liberdade que o filme retoma a respiração do início, mas dessa vez, ela vem carregada de alívio e vontade de viver. Sobibor termina com uma história de sucesso em meio a tantas tragédias, é o retrato da exceção da regra, mas um quadro igualmente necessário de ser pendurado.

O longa chega aos cinemas brasileiros dia 25 de abril de 2019 e você pode assistir ao trailer aqui:

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