Primeiro longa-metragem de Zhang Zebin, ator sem formação em direção conhecido por seu papel em Old Stone (2016), Ninguém ao Norte (No One in the North, 2021) se propõe a trabalhar Wu Feng (Sun Junsheng) e sua relação traumática com a mãe, que o abandonou quando ele era criança. O longa tem uma narrativa abstrata do início ao fim, o que não é um problema em si, mas, depois de todas as decepções que o enredo traz, acumula para a insatisfação do espectador.
A sinopse ajuda muito a guiar quem assiste diante da rareza de diálogos. Nas lentes P&B do protagonista, só é possível saber seu nome nos créditos, quando se descobre também que o filme é baseado em fatos reais. Num ritmo lento que permeia todo o longa, Wu Feng tenta recuperar traços de seu passado com a mãe ao observar as relações humanas a sua volta — já que ele mesmo não cultiva nenhuma —, registrando-as com sua câmera analógica. No presente, ele se sustenta cobrando dívidas de forma violenta.
Representantes da felicidade e boa sorte, os tsuru de origami pendurados no teto do quarto do protagonista são uns dos poucos feixes de cor — e emoção — de Ninguém ao Norte. Podem ser a esperança nutrida pelo personagem, um pássaro preso pelo peso do passado. (Sim, há a metáfora clichê do pássaro na gaiola.) Wu Feng é expressivamente estático a maior parte do tempo, mesmo quando chora, o que torna o longa bem abstrato.
Um dos homens (Wu Chengjun) que Wu Feng precisa cobrar tem uma esposa (Huang Shijia) e uma filha que lhe lembram muito de sua própria história: assim como essa mulher, a mãe de Wu Feng foi vítima de violência doméstica, o que a levou a abandoná-lo. Wu Feng acaba projetando sua mãe nessa jovem e passa a ver fantasmas dela, quase como alucinações. Na única foto que tem da família, ele coloca o rosto da jovem no lugar do da mãe, anteriormente cortado, por motivos que desconhecemos.
Mas é só. As resoluções não satisfazem, nem em relação à situação da jovem, nem quanto ao passado e presente de Wu Feng.
O telespectador vê
Silencioso, lento e quase superficial, Ninguém ao Norte não cativa apesar do potencial que o tema carrega. Um estudo de personagem que trabalha os impactos nas crianças — e futuras gerações — das relações familiares chinesas marcadas pela questão de gênero certamente abre espaço para muitas reflexões. Quanto ao ritmo, se o diretor tivesse optado por fazer um filme de média metragem, ou até mesmo curta, com cenas mais condensadas e outra dinâmica de acontecimentos, talvez teria tido mais sucesso em provocar emoções no espectador. Nesse caso, menos é mais — o que também combinaria com o baixo orçamento.
Esse filme faz parte da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.
*Imagem da capa: Divulgação/45ª Mostra Internacional de SP