A 9ª Semana de Fotojornalismo começou ontem! E quem abriu o debate sobre o tema “Liberdade de Imprensa vs. Direito de Imagem”, foram o jornalista Bruno Paes Manso, o fotógrafo Cristiano Mascaro e os professores de fotojornalismo da ECA USP, Atilio Avancini e Wagner Souza e Silva. O fotógrafo Moacyr Lopes, um dos palestrantes da noite, não pôde estar presente pois teve que cobrir, de última hora, a tragédia das barragens em Mariana, Minas Gerais. O professor Wagner, no entanto, destacou que a ausência de Lopes dizia muito sobre a importância do fotojornalismo no meio e que essa questão é exatamente o que seria tratado na noite.
Bruno Paes Manso, mediador da noite, destacou a importância de manter a discussão em torno das questões de ética com as quais o fotógrafo tem que lidar no dia a dia, além do pouco tempo que tem para tomar decisões. Em seguida, a fala passou para Cristiano Mascaro, que antes iniciar a discussão ética, falou um pouco sobre sua formação em arquitetura e a descoberta da fotografia: “Quando estava no quinto ano da faculdade de arquitetura, surgiu a oportunidade de trabalhar na Veja, como repórter fotográfico em 1968. Fui atingido pelo vírus da emoção de cobrir os fatos”. Ele também criticou rapidamente a questão de créditos fotográficos: “Apesar da imagem ilustrar os fatos, ela é pouco valorizada. O crédito – ou a falta de créditos – nas fotos mostra muito isso: é preciso virar a página de lado e colocar um monóculos para ver o nome de autor”.
Mascaro continuou contando que optou pela fotografia documental e não mais pela foto reportagem pois, no passado, não via oportunidades de crescimento e ascensão na profissão. Mas ressaltou a influência que a atividade exerceu no seu trabalho documental, especialmente nos primeiros anos. Bruno Paes Manso, então, perguntou para o fotógrafo o que era mais importante quando se vai fazer uma série fotográfica documental. Mascaro apontou que o mais essencial é a paixão, que fará o profissional estar disposto a abrir mão de coisas importantes – como noites de sono – para estar lá e fazer a foto perfeita. A resposta de Cristiano validou uma colocação feita pouco antes pelo professor Wagner: além de noções técnicas, um bom profissional precisa ter uma postura diferenciada, até mesmo agressiva, para estar na linha de frente.
No entanto, para os palestrantes, em situações de tragédias, existe um limite e um espaço a ser respeitado. Eles concordaram que abordar pessoas que estão passando por situações de sofrimento é constrangedor. Para Bruno Paes Manso, o jornalista e o fotografo devem fugir dos clichês e desconstruir o senso comum. Mascaro, por outro lado, ressalta que essa questão é diferente de publicar fotos incômodas. Para ele, algumas imagens, por mais desagradáveis que sejam, devem ser publicadas. É o caso da foto do menino sírio, encontrado morto em uma praia turca, em setembro deste ano. Nesses casos, a foto revela a seriedade de uma situação.
Em seguida, a palestra abriu espaço para perguntas do público. Uma das perguntas feitas comentou o caso de uma mulher que teve suas mãos decepadas pelo ex namorado e que estampou chamadas de notícias online e questionou se o tratamento dado a imagem, inclusive onde ela vai ser colocada, entra na questão ética. O professor Wagner respondeu que é necessário entender o significado da foto e saber incluí-la no contexto. Para ele, muitas vezes, o editor de imagens pode ter tido a intenção de chocar e chamar atenção para o debate que a foto levanta.
Outra pergunta, direcionada para Cristiano Mascaro, indagou sobre a transição da máquina analógica para a digital. O fotógrafo respondeu que, com a analógica, você tinha de esperar mais tempo para ter certeza de que a foto está boa e que hoje as pessoas estão mais seguras com seu próprio trabalho. Mas ele chama atenção para o fato de que a digital e o Photoshop deixaram os fotógrafos mais acomodados e menos atentos. Ele enxerga como positivo o fato de várias pessoas terem a possibilidade de tirar fotos, porque isso torna a fotografia mais democrática.
Os drones – pequenos veículos aéreos não tripulados muito utilizados para tirar fotos ou fazer filmagens – também foram tema de uma das perguntas. A questão foi se eles poderiam ser utilizados no fotojornalismo e como isso entraria em termos de ética. O professor Wagner respondeu que poucos fotojornalistas utilizam essa ferramenta porque ela é muito mais utilitária do que autoral.
Gostou? Os debates sobre fotojornalismo e rua continuam hoje, às 18h30, na Casa da Cultura Japonesa da USP! O tema será “Personagens da Rua e Direitos Humanos” e contará com a presença de Solange Ferraz, dos idealizadores do projeto SP Invisível, Vinícius Lima e André Soler e dos fotógrafos do Selva SP Leo Eloy e Beto Eiras! Não perca!
Por Isabela Augusto
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