Conflitos foi o tema do quarto dia de atividades da 6ª Semana de Fotojornalismo. Os fotojornalistas Paulo Whitaker e Rogério Ferrari dividiram com a plateia experiências sobre o assunto, contando detalhes sobre seus trabalhos em situações tão graves e diversas em locais como as favelas cariocas, a Cracolândia e o Oriente Médio.
Todo o cuidado é pouco
Paulo, que já fez nos Estados Unidos um curso de sobrevivência em situações difíceis, foi o primeiro a falar e começou explicando como identificar zonas de conflito. A prudência foi algo destacado durante toda a fala do fotojornalista, que repetidas vezes afirmou que o valor de uma vida é muito maior que o de uma foto.
Ele contou ainda que dois colegas seus foram sequestrados e roubados quando estavam fotografando em uma favela. “Ficaram sem foto, sem equipamento, sem nada”, relatou. Segundo Paulo esse tipo de situação é evitável, bastando que algumas precauções sejam tomadas, e enumerou atitudes que podem minimizar os riscos ao se fazer uma cobertura de conflitos: conhecer previamente o local para saber onde é mais perigoso e onde os riscos são menores, identificar possíveis rotas de fuga, não trabalhar sozinho e permanecer atrás da polícia, “apesar de a polícia também gostar de dar porrada na gente.”
No final de sua fala, Paulo comentou sobre o trabalho em conflitos nas favelas do Rio de Janeiro: “É impressionante o número de tiros, o cheiro de pólvora que fica.” O fotojornalista levou um tiro de fuzil no ombro enquanto estava dentro do carro. “Eu acho que vivi de novo”, completou.
Ele terminou sua apresentação exibindo um vídeo de sua cobertura da desocupação da Cracolândia para a agência Reuters, onde trabalha atualmente, e disse que em sua opinião “a fotografia, o fotojornalismo estão morrendo. O caminho agora é o vídeo.”
Cuidado para quê?
“Fiz tudo ao contrário do que o Paulo falou”. Foi com esta afirmação que Rogério Ferrari iniciou sua participação na palestra. O fotógrafo trabalha de forma independente e passou três meses e meio na Palestina, cobrindo um dos conflitos mais antigos da atualidade, sem nenhuma roupa de proteção, com apenas uma câmera, uma lente e cinquenta rolos de filme. “Minha câmera era minha pedra”, afirmou. O número limitado de filmes e a opção pela câmera analógica foram decisões conscientes, pois segundo o profissional essa limitação era positiva para seu trabalho. “A ausência de limite, da mesma forma que proporciona uma liberdade econômica, pode estimular nossa compulsividade, o que antes era o estereótipo do turista japonês. A câmera digital pode estimular a nossa desatenção.”
Rogério contou ter entrevistado o fundador do movimento islâmico palestino Hamas e que pretendia entrevistar ninguém menos que Saddam Hussein, se não fosse uma série de problemas com o exército israelense, que até mesmo o levou quando saía do aeroporto e o revistou minuciosamente.
Citando a frase de um amigo, “a prudência não leva ninguém a lugar nenhum”, Rogério continuou a palestra falando sobre suas passagens pelo Curdistão, Líbano, Saara Ocidental e Marrocos, entre outros locais, além de um trabalho realizado com grupos ciganos no Brasil. Para finalizar, mostrou um vídeo em que combina sons gravados na Palestina com fotografias que tirou nesse país.
Por Ana Luiza Tieghi
ana.tieghi@gmail.com
eu assisti uma palestra dele no começo do ano. Ele disse que estava finalizando um site. fiquei impressionado que muita gente não conhecia o trabalho dele, e sua trajetória. Selecionado pra prêmios importantes e ensaios sempre bem amarrados, assim como vc, fico impressionado que ele nunca tenha feito uma exposição individual aqui no Brasil. Talvez, seja um reflexo da crise no fotojornalismo .