Sequências de animações não são novidade. Desde clássicos da Disney como Rei Leão (The Lion King. EUA. 1994, 1998, 2004) a franquias mais recentes, como Shrek (EUA. 2001, 2004, 2007, 2010) e A Era do Gelo (Ice Age. EUA. 2002, 2006, 2009, 2012), a tendência é fazer três ou mais filmes. Madagascar não poderia ser diferente, após sucesso dos dois primeiros longas, a Dreamworks não hesitou em renovar o investimento. Assim, chega aos cinemas Madagascar 3: Os Procurados.
A saga continua para Alex, o leão; Marty, a zebra; Gloria, o hipopótamo e Melman, a girafa, que depois de aportarem na ilha de Madagascar e caírem nas matas da África continental, ainda tentam encontrar o caminho para casa, o zoológico na cidade de Nova York. O plano da vez é aguardar os pinguins espiões, que lhes prometeram uma carona de avião para os EUA assim que voltassem dos luxuosos cassinos de Monte Carlo. Quando percebem que as aves nunca retornarão resolvem segui-las até a Europa para exigir que cumpram sua promessa.
É então que surge um pequeno erro de roteiro. Se os quatro animais, juntamente com os famosos lêmures que cantam I Like to Move it, conseguem chegar até o continente europeu sozinhos, por que precisam da ajuda dos pinguins para chegar aos Estados Unidos? De qualquer forma, esse questionamento torna-se secundário com o desenrolar do filme.
Após causarem alvoroço em uma casa de jogos, os bichos passam a ser perseguidos pelo controle de animais francês, liderado pela maníaca Capitã Chantel DuBois. A louca, que tem como meta conseguir a cabeça do leão Alex empalhada em sua parede, rouba a cena toda vez que aparece. É mais um estereótipo americano de uma francesa um tanto frígida, mas que ainda não perdeu a graça. Uma rendição dramática de Non, Je Non Regrette Rien é um de seus ápices.
A perseguição faz com que os animais de zoológico se passem por artistas e consigam escapar no trem de uma companhia de circo decadente. No entanto, a única forma de permanecerem a bordo e conseguirem voltar aos EUA é comprar o circo, melhorar seus números e impressionar um produtor americano. Surge, então, um clima de amizade entre os bichos nova-iorquinos e os circenses europeus, que incluem um tigre russo, um leão marinho e uma leoparda italianos. Também merece destaque a ursa triciclista Sonya, par romântico de um personagem um tanto inusitado do elenco original da trilogia
As cenas de circo são sensacionais. Fazendo alusão às performances do Cirque du Soleil com (ainda) menos limites impostos pela física, elas são cheias de cores e luzes que beiram o psicodélico. A trilha ganha destaque nesses momentos: seguindo a tradição, o filme aposta no pop, além de muito Hans Zimmer, com músicas como Firework, de Katy Perry. Essa caracterização divertida é ainda mais ressaltada com os efeitos 3D.
Há os aspectos básicos, como profundidade, que acabam sendo dispensáveis e que não compensam o desconforto de usar aqueles óculos de plástico. Porém, a animação abusa da finalidade mais ridícula, e quem sabe mais interativa, do 3D: os objetos que voam na direção do espectador. É possível discutir se é falta de imaginação continuar fazendo uso da tecnologia com esse objetivo, mas as risadas após o susto não tem preço.
É importante ressaltar que o Madagascar 3 não é exceção ao sistema de franquias e traz reciclagens dos outros dois longas. O hit I Like to Move it (Eu Me Remexo Muito, na dublagem brasileira) retorna com um twist, por exemplo. A coreografização de outras músicas, no caso We No Speak Americano, é outra marca da trilogia. Não há nada de errado em explorar personagens e aspectos que fizeram sucesso em prol dos lucros, desde que a qualidade não decaia drasticamente.
Por exemplo, é unanimidade dizer que Toy Story 3 (EUA. 2010.) é o exemplo mais recente de continuação que deu certo. Acuso de ser sem coração qualquer um que não tenha derramado rios de lágrimas em cima do saco de pipoca quando viu Andy brincar com Woody e Buzz pela última vez. Sem falar que o fato do último filme ter sido lançado 17 anos após o primeiro fez com que uma geração inteira retornasse ao cinemas para se apaixonar, novamente, por aqueles brinquedos.
Já outros, como Cinderela… Bom, muitos nem sabem que Cinderela teve duas sequências. É, gente. Se você era um desses, finja que ainda não sabe. Até hoje não consigo ver motivos para pegar um clássico de 1950, renová-lo sem sucesso em 2003 e insistir ainda mais com um terceiro em 2007. Walt Disney com certeza revirou-se em seu túmulo.
Se esses dois extremos estabelecessem uma escala, Madagascar 3 estaria mais perto de Toy Story 3, mas ainda mantendo certa distância. Provoca gargalhadas – tem até piada referente à Revolução Russa para agradar aquela prima nerd ou o tiozão formado em história -, porém não chega nem perto em termos de emoção. Assim, cair no clichê acaba sendo inevitável: é um filme para toda a família.
Letícia Sakata
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