Engana-se quem, ao olhar para o filme intitulado Os Acompanhantes (The Extra Man, 2010) e classificado como comédia, o associa a algum filme do gênero Gigolô Por Acidente (Deuce Bigalow: Male Gigolo, 1999). Os Acompanhantes peca em sua intenção cômica, mas traz ao espectador mais que apenas risos vazios, traz risos catárticos.
Logo no início do longa-metragem há um breve diálogo entre Louis Ives (Paul Dano), professor de literatura na universidade de Princeton – emprego do qual é despedido logo no começo do filme por ter sido visto vestindo um sutiã – e uma aluna. Nesse diálogo entre aluna e professor é exposta a proposta do filme e a maneira como esse foi feito. A aluna comenta com o professor que não entende o porquê de um autor ter utilizado um narrador tão medíocre em determinado livro. Como resposta, Louis coloca que o foco da história, mesmo que contada em primeira pessoa, não está no narrador em si e sim na pessoa a quem o narrador se refere – estratégia que pode ser encontrada em livros de Arthur Conan Doyle (O Cão dos Baskervilles), de Edgar Allan Poe (Os Assassinatos da Rua Morgue) e, inclusive, de Eça de Queiró (A Cidade e as Serras). Nota-se logo que o filme segue tal formato (principalmente pelo fato de possuir um narrador), porém em outro nível: Louis não passa de um personagem estereotipado e medíocre, assim como o era o narrador do livro, e mesmo assim a história gira em torno dele – aí é que está! O espectador não deve focar Louis como centro da história analisando apenas seu desenvolvimento, e sim dar atenção às situações e questões às quais Louis é exposto durante o filme.
Um dos aspectos mais interessantes do filme é o fato de ele abordar a juventude como época de dúvidas. Ainda que Louis tenha exercido a função de professor de literatura em Princeton, ele caracteriza fielmente o jovem em formação, não intelectual (afinal lecionar em Princeton é para poucos e, logo, Louis boa possui formação acadêmica), mas pessoal. Durante tal processo de formação Louis tem seu caminho cruzado com o de Henry Harrison (Kevin Kline), um velho Escort com ares de aristocrata que passa a ocupar, de maneira peculiar, um cargo de mentor na vida de Louis.
Interessa ao espectador notar que o jovem ex-professor de literatura, em sua trajetória, pende entre duas condutas completamente opostas. Por um lado Louis deseja se comportar e ser reconhecido como o idealizado cavalheiro galante que tanto encontra nos romances, por outro, Louis reconhece em si curiosidades instintivas e desvios a respeito de sua sexualidade – sendo o ápice de tal atitude e momento de epifania para o rapaz, a cena em que se traveste de mulher.
Quanto às atuações não há muito a se destacar. Como a maioria dos personagens é caricatural em um ou mais aspectos, torna-se facilitada a interpretação das personagens pelo exagero e não pela complexidade. No entanto deve-se reconhecer a qualidade dos atores, principalmente de Kevin Kline, que conseguiu simultaneamente estereotipar seu personagem com extravagâncias e ainda assim lhe dar profundidade.
Embora Os Acompanhantes não seja um filme que faça o espectador contorcer-se em risadas, há momentos no filme – poucos, mas presentes – que devem ser destacados por seu conteúdo cômico (principalmente a cena na qual Henry ensina Louis a urinar na rua como um devido aristocrata). O longa não atinge o nível risível esperado e divulgado por seu trailer, mas não diria que isso diminuiu o filme em nenhum aspecto. O erro está em sua classificação como “comédia”, mas de maneira alguma em sua proposta.
Por Valdir Ribeiro
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