Jogar videogame para viver parece uma ótima ideia, não é? Em Crônicas de Battledream (Battledream Chronicles, 2016) a realidade é bem próxima disso, mas passa longe de ser um cenário agradável para seus personagens. Com pitadas de Tron (Tron: Legacy, 2010) e Matrix (The Matrix, 1999), a animação retrata uma distopia diretamente ligada ao mundo virtual.
No ano 2100, os seres humanos desprendem-se de seus corpos e passam a viver num universo digital, chegando perto de atingir a imortalidade e a completa paz. Existe somente uma ameaça para esse bem-estar: o vírus Isfet. Representado por uma imagem feminina, Isfet invade todas as nações humanas e, em troca de não destruí-las, obriga sua população a participar de um jogo, o Battledream.
Equipes de três membros se enfrentam em um arena computadorizada, mas os resultados dos duelos têm consequências muito reais. O time vencedor, representando seu país, ganhará domínio sobre o território dos derrotados, e os jogadores que forem mortos durante a partida também perderão a vida fora do jogo.
Isaac Ravengorn, do império de Mortemonde, é praticamente invencível no Battledream e garante que sua nação domine praticamente todo o planeta. Os oponentes derrotados de Ravengorn têm suas memórias apagadas e se tornam escravos de Mortemonde. A tirania é ameaçada somente por Syanna, uma jovem escrava que encontrou, dentro do videogame, a única arma capaz de derrotar essa supremacia: o Pássaro de Fogo.
É muito clara a tentativa de inserir inúmeros elementos culturais no enredo. O Pássaro de Fogo, por exemplo, possui habilidades com nomes de deuses egípcios, como Amon-Rá e Set. Outras ideologias, como a grega, britânica e até mesmo cristã aparecem muito durante as batalhas, transmitindo a sensação de que o filme poderia ter sido feito em qualquer país do mundo.
As referências não param por aí. O público geek se sentirá em casa com a imensa quantidade de recursos visuais idênticos aos dos jogos eletrônicos e programas de computador, como em Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs. the World, 2010). Ainda assim, quem não é familiarizado com tais interfaces pode ficar tranquilo, pois o longa é muito intuitivo nesse aspecto.
A produção de Martinica esbarra somente na simplicidade de seu roteiro frente ao complexo ambiente no qual se passa a história. O espectador precisa se habituar às regras do universo em que os personagens vivem e, para isso, muitos minutos são gastos com explicações e exemplos. Como consequência, a trama tem poucos momentos de real tensão e os personagens são mal-aprofundados, falhando em estabelecer qualquer tipo de conexão com o espectador.
Mesmo com alguns problemas e mão-de-obra limitadíssima (o nome do diretor Alain Bidard ocupa quase todos os postos nos créditos finais), Crônicas de Battledream é muito divertido e impressiona na qualidade técnica de sua animação. Com poucos e baratos ingredientes, Bidard preparou um prato cheio para os amantes da tecnologia.
Crônicas de Battledream está em exibição no Anima Mundi 2016. Confira o trailer!
por Breno Deolindo
breno.deolindo.silva@gmail.com