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Despedida em Grande Estilo e a saturação do formato hollywoodiano

Depois de Despedida em Las Vegas (Last Vegas, 2013) e RED – Aposentados e Perigosos (RED, 2010), Morgan Freeman retorna mais uma vez numa história de velhinhos prontos para a ação. Freeman, que nas produções anteriores, já dividiu tela com nomes de peso, como Robert DeNiro, Michael Douglas, Bruce Willis e Helen Mirren, estrela agora …

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Depois de Despedida em Las Vegas (Last Vegas, 2013) e RED – Aposentados e Perigosos (RED, 2010), Morgan Freeman retorna mais uma vez numa história de velhinhos prontos para a ação. Freeman, que nas produções anteriores, já dividiu tela com nomes de peso, como Robert DeNiro, Michael Douglas, Bruce Willis e Helen Mirren, estrela agora com Michael Caine (o Alfred da trilogia Cavaleiro das Trevas (2005-12)) e Alan Arkin (indicado ao Oscar por Argo (2012)) nesse Despedida em Grande Estilo (Going in Style, 2017) – que já havia sido adaptado para o cinema, em 1979; e o resultado não poderia ser mais desastroso.

Após se verem sem a pensão que a firma pelo qual trabalharam 30 anos fornecia, e com a ameaça de despejo por dívida de banco de Joe (Caine), os três amigos decidem assaltar a agência dele, a fim de resgatar todo o dinheiro tomado por ela nos últimos anos. E se o trio até consegue inspirar carisma, tudo se perde em meio ao péssimo roteiro de Theodore Melfi (que assina o roteiro e direção do também péssimo Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, 2016)).

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Repleto de frases de efeito (“Deveríamos estar comendo nossa torta”, numa conversa em que reclamam dos abusos do banco), o maior problema decorre da insistência com que Melfi enfia momentos de “discursinho” – em sua grande maioria enunciados pela (já cansativa) “voz de Deus” de Freeman. O cúmulo chega ao ponto de Freeman interromper o assalto para aconselhar uma garotinha sobre seu futuro. Isso fica ainda pior quando esses momentos são intercalados por outros pretensamente cômicos. Assim, em um momento os protagonistas se questionam sobre a morte ou a desesperança com o Estado, para em outro um banqueiro se jogar no chão com os pés para cima, fingindo ser um cachorro.

Nessa indecisão de tons, a sensação que ainda temos de um sempre tentar se mostrar mais esperto do que o outro completa tediosamente o quadro. Em outras palavras, é impressionante como todos têm uma resposta pronta para tudo. Para exemplificar, em certo ponto, quando o médico revela a necessidade, mas também a dificuldade, de se encontrar um doador de rim, Freeman responde: “Todo mundo quer ficar com os seus”. Esse não só é um comentário artificial, como também desrespeitoso para uma situação dessas, e se Melfi imagina que o admiremos por isso, o que ele consegue no máximo é que reviremos os olhos em desaprovação.

O artificialismo, contudo, não se encontra apenas no roteiro. Afinal, quantas vezes mais teremos que assistir a uma cena de um grupo falando ao mesmo tempo, em que a massa não serve nem como… massa (no caso, quando os trabalhadores recebem e reclamam da notícia do corte de pensão). Esclarecendo melhor, barulhos indistinguíveis de várias pessoas, até que um protagonista decide falar, e todos ao redor se calam. Protagonista acaba, volta o uníssono, e assim por diante. Espacialmente, até os entornos dos protagonistas (que evidentemente se encontram no centro da roda) são buracos, e as primeiras pessoas só se farão presentes a algumas cadeiras de distância. São detalhes, de fato, mas detalhes que dão a sensação de que todos agem mecanicamente, no automático – como Estrelas Além do Tempo, não são as personagens que motivam a trama, mas a trama que motiva as personagens.

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Por fim, mas não menos maçante, Hollywood não parece se dar conta de que mais trilha sonora não é igual a mais comoção. Numa montagem de treinamento, essa lógica até parecer funcionar, mas num mero passeio de avô e neta, não! Tudo, absolutamente tudo, precisa ser pontuado por algumas notas.

Se tudo que fora mencionado fosse pontual em Despedida em Grande Estilo, o cinema estaria em ótimas mãos, no entanto, sendo esses modelos presentes de filmes de heróis às comédias românticas, dos dramas de guerra às biografias, as produções comerciais precisam começar a pensar não em peripécias cada vez mais bizarros que octogenários possam perpetrar, mas em representações cinematográficas mais frescas e realistas. Pelo contrário, em alguns anos, essa pode ser a despedida de grandes estúdios; não à toa, vira e mexe produções de grande apelo comercial se mostram grandes fiascos de bilheteria ou apenas conseguem timidamente se custear (como será provavelmente o caso deste).

 

por Natan Novelli Tu
natunovelli@gmail.com

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