por Guilherme Weffort
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Quão curioso e paradoxal é um filme repleto de piadas “politicamente incorretas” tratar de cidadania e, analogicamente, defesa de minorias? O ursinho mais “boca-suja” das telonas está de volta, justamente com essa temática. Em Ted 2 (Ted 2, 2015), o foco é a busca por justiça.
Ted, após um ano de casamento, está em uma forte crise com Tami-Lynn (Jessica Barth), sua esposa e colega de trabalho. Na tentativa de salvar sua relação, propõe a ela que tenham um filho. Após serem impedidos de fazer inseminação artificial por um problema nos ovários de Tami, decidem iniciar um processo de adoção. Esse ato chama a atenção do governo para o fato de Ted ser um urso, ou seja, não ser um cidadão. Ele é demitido do supermercado e tem seu casamento anulado.
Então, pede ajuda a seu melhor amigo, John Bennett (Mark Wahlberg), recém-divorciado e deprimido, vivendo a base de maconha e pornografia, para entrar em litígio com o Estado e ser considerado uma pessoa. Sem recursos, recebem a ajuda de Samantha (Amanda Seyfried), uma advogada inexperiente e com um ponto em comum aos protagonistas: admiradora dos princípios da cannabis.
A partir daí, tem início uma interessante, ainda que rasa, discussão. Pode um objeto originalmente inanimado e feito de pelúcia, ser considerado um cidadão americano? Para a defesa do ursinho, são retomados valores de defesa de minorias e grupos, por vezes considerados não-humanos ou mercadorias. O trio (Ted, Mark e Sam) vai à procura de Patrick Meighan (Morgan Freeman), especialista em direitos humanos.
Antes que pensem que Seth McFarlane se tornou um diretor de filmes dramáticos e existencialistas, é bom deixar claro que todas essas discussões são abordadas ao estilo do ursinho: com comédia, piadas “nonsense”, algumas beirando o mau gosto e muita, muita, muita erva (não é uma hipérbole). As piadas envolvendo celebridades, marcas do primeiro filme, permanecem na continuação. Além delas, Flash Gordon é mantido e aparece em diversos momentos da trama, ainda que sua presença não faça tanto sentido.
A união dessa característica humorística a um questionamento não tão profundo constroem um filme simpático e capaz de entreter, ainda que seus resquícios de machismo e homofobia tragam alguns engulhos e um silêncio constrangedor a sala de cinema.
Confira o trailer: