Um ator em dificuldades tenta lidar com a morte da esposa ao mesmo tempo em que lida com as complicações de criar um filho. É essa a tônica do filme O Fim do Amor (The End Of Love, 2012), exibido na 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, uma história triste e tocante que sintetiza a dor de uma perda e a coragem necessária para enfrentá-la.
Ambientado em Los Angeles, o filme é o segundo longa metragem do ator e diretor Mark Webber e foi exibido no Festival de Sundance, o maior festival de filmes independentes dos Estados Unidos. Webber começou sua carreira atuando em filmes como Fica Comigo (Drive me Crazy, 1999), O Articulador (People I Know, 2002), Dirigindo no Escuro (Hollywood Ending, 2002), Querida Wendy (Dear Wendy, 2005) e Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs. the World, 2010), e estreando na direção com Explicit Ills (Idem, 2008).
No filme, o diretor interpreta Mark, um jovem que não consegue superar a perda de sua amada e precisa cuidar de seu filho de dois anos, Isaac. Em um tom intimista, o longa retrata com uma câmera na mão, muitas vezes com imagens tremidas, momentos privados do cotidiano entre pai e filho.
Morando de aluguel e sem dinheiro para pagar suas dívidas, Mark tenta conseguir um papel em um filme importante, mas precisa levar o filho junto, o que acaba o atrapalhando. Nesta cena, a atriz Amanda Seyfried faz uma pequena participação representado ela mesma ao contracenar com Mark no teste. Ele passa o resto da trama esperando uma resposta, mas ela não chega, o que o leva a ser despejado no final do filme.
Certo dia, ele conhece Lydia, uma mãe solteira com quem tenta criar algum tipo de laço. Porém, logo no primeiro beijo, Mark solta frases como “eu te amo” e “casa comigo”, assustando a moça e os afastando. Isso se repete novamente quando Mark vai a uma festa e acaba reecontrando uma antiga namorada, revelando para si mesmo sua dificuldade em entrar em uma nova relação.
Mais do que seus problemas amorosos, chama atenção no filme a relação entre pai e filho e a atuação do pequeno Isaac, interpretado por Isaac Love. O menino carismático arranca risadas do público com sua maturidade precoce e bom humor, assim como carrega a ingenuidade da criança que não sabe o que é a morte. O pai constantemente o leva para visitar o cemitério em que a mãe está enterrada, mas não tem coragem para revelar a verdade e diz ao filho que se trata de um parque.
Em uma das cenas mais fortes, Mark desaba e se debruça no túmulo enquanto Isaac brinca com as flores das lápides, pedindo força à sua mulher. Ele se sente muito sozinho e sem rumo, e precisa de ajuda para explicar ao filho sobre a morte, o que acaba fazendo através de um peixe. Nomeado pelo filho de “mamãe”, o peixe parece reacender o trauma de Mark à citação do nome da mulher, culminando na cena em que o peixe morre quando Mark joga a água do aquário na pia.
Ele ainda parece se arrepender e tenta salvá-lo, mas não consegue, e com o peixe morto explica ao filho o que é a vida e a morte e como todos um dia pararão de respirar. Juntos, eles enterram o peixe ao lado da lápide da mãe.
Não há um desenlace bem definido para os dramas do enredo, o que faz o público se perguntar o que aconteceu com Mark após ser despejado e o fim da história com Lydia, após ele lhe revelar a morte de sua mulher e pedir para ela se manter longe.
Mesmo assim, as lacunas não atrapalham a mensagem do longa, que emociona pois faz o espectador sentir a imensa dor de Mark, se colocando no lugar do homem desolado pela perda de seu grande amor e do pai solteiro que precisa continuar a vida. A atuação de pai e filho é tão verídica que nos faz questionar a existência de um roteiro e nos torna apenas espectadores de uma vida triste e amargurada.
O diretor acertou principalmente porque o longa não tenta criar finais felizes nem fazer com que o homem encontre uma nova família, mas é sim um retrato fiel da angústia trazida pela morte e do caminho tortuoso que precisamos trilhar após grandes perdas.
Por Larissa Teixeira
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