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Woody sombrio

Saulo Yasssuda A humanidade e seu pavor de mudanças. Esse tema, que atinge seres de diferentes idades, está presente no novo filme do argentino Daniel Burman, que estreia hoje (30) em São Paulo e outras capitais. Em Ninho Vazio, o cineasta, de 35 anos, mostra o passar das horas de Leonardo (Oscar Martínez), escritor cinquentão …

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Saulo Yasssuda

A humanidade e seu pavor de mudanças. Esse tema, que atinge seres de diferentes idades, está presente no novo filme do argentino Daniel Burman, que estreia hoje (30) em São Paulo e outras capitais. Em Ninho Vazio, o cineasta, de 35 anos, mostra o passar das horas de Leonardo (Oscar Martínez), escritor cinquentão bem-sucedido da classe média argentina.

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A diferença da idade entre criador – Burman – e criatura – Leonardo – talvez influencie nos cortes bruscos que percorrem todo o longa. Isso, talvez, configura em uma forma de o diretor, que também escreveu o roteiro, evitar mergulhar no que não conhece. E, se o filme mostra o passar das horas de Leonardo, o faz com esses pequenos recortes.

Leonardo em um jantar com a esposa – crise no casamento. Leonardo conversando com o novo amigo psiquiatra – reflexões existenciais. Leonardo no consultório da bela dentista – relacionamento relâmpago. É montando essas pequenas peças cotidianas que o escritor passa seus dias – não se sabe bem quanto tempo é percorrido – para tentar preencher o vazio deixado pela saída dos filhos de casa.

Os filhos crescem e vão embora. O ninho fica vazio. Restam Leonardo e a esposa, os dois que, longe do caos diário que era a vida com os três filhos, caem de volta dentro de uma relação a dois, que entra em crise. Os filhos seguem suas vidas. Enquanto isso, Leonardo parece estacionar a sua. O chefe da família se ressente e mergulha em si, enquanto Martha (Cecília Roth), a esposa, volta aos estudos, faz novas amizades na faculdade, tem uma vida mais ativa, cheia de amigos. Um casal de antítese.

3759jpgNesse conflito que não explode – uma espécie de “guerra fria” – Leonardo parece agonizar. Vemos passagens suas que não se sabe se são sonho, realidade, ou o próprio interno do personagem. Tudo acompanhada de uma gostosa trilha jazzística. E são nesses momentos de menos fala e de mais contemplação que Burman ganha pontos.

Muito comparado a Woody Allen, o diretor, pelo menos se depender de Ninho Vazio, parece se distanciar mais do cineasta norte-americano – a não ser que fosse chamado de “Woody sombrio”. Ninho Vazio é sombrio. Ou, se quiser dar um sentido gustativo ao longa, Ninho Vazio é amargo.

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