De repente, em todas as livrarias, lá está ele: um livro chamativo, de capa alaranjada, neon, com um grande bigode estampado à frente. Em letras grandes, lê-se: Toda Poesia. Paulo Leminski. O livro é inédito – as poesias, no entanto, são as mesmas de anos atrás. Mesmo assim, a reunião de grande parte da obra de Leminski em um volume único é certa e oportuna. Pode ser que você não perceba, mas o mundo clama por poesia.
É lógico que, como toda qualquer outra coisa do mundo, há quem ame e há quem odeie. Aliás, é engraçada essa relação que muitas vezes acabamos tendo com a poesia: a vemos como nossa inimiga, como se ela quisesse nos derrubar. Afinal, muito dela não possui um pingo sequer do racional, e a incapacidade de compreendê-la às vezes nos machuca. Mesmo assim, tenho a impressão de que há um aumento de interesse geral por poesia. Nas redes sociais, as páginas e perfis de poesia atingem milhares de curtidas, compartilhamentos e reblogs. Além disso, recentemente o livro de Leminski ultrapassou, em número de vendas, o polêmico Cinquenta Tons de Cinza, chegando assim ao posto de livro mais vendido da Livraria Cultura. Que sinal é maior do que esse?
Com a leveza de seus versos curtos e de seus hai-kais, Leminski tanto conquistou quanto continua a conquistar os mais diversos tipos de leitores. É lindo ver sua obra sendo gradualmente descoberta por outros que não seus conterrâneos curitibanos – afinal, até hoje Leminski sempre foi muito restrito a Curitiba, onde é mais conhecido e valorizado. Caetano Veloso, em recente artigo para O Globo, afirmou: “Que poesia volte a vender livros no Brasil é uma revolução. Que esta esteja sendo feita por Leminski é sinal de que ela é profunda”. Há, em Toda Poesia, uma universalidade que justifica essa grandeza de alcance que obteve a obra do poeta, e que também condiz com a necessidade de escape que a sociedade sente.
Por Ana Carla Bermúdez
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