Nos últimos tempos, parece que em todo novo ano o mundo vai acabar; como se estivéssemos na eterna expectativa de uma season finale. 2011 e 2012 nos prometeram o apocalipse, e nada. Mas se 2016 não foi nosso último episódio, ele tem bem a cara do penúltimo: Aquele em que tudo vai pro brejo num clímax fenomenal, antes de qualquer vislumbre de conciliação. Talvez por isso tenha sido um ano de extremos; perdas trágicas e feitos inéditos. Na música, alguns veteranos se despediram em grande estilo (David Bowie, Leonard Cohen e A Tribe Called Quest); outros ressurgiram com seu melhor material em algum tempo (Radiohead, Beyoncé, The Avalanches). Personagens mais novos também lançaram plot twists em seu som e mostraram que só estão começando (Solange, Bon Iver, Frank Ocean). De toda a loucura, selecionamos os 20 discos da cena internacional que mais nos trouxeram sossego, ou força pra continuar na luta.
20. Death Grips – Bottomless Pit
Fãs do trio de hip hop experimental Death Grips estão acostumados a serem maltratados: eles têm uma relação abusiva de amor e desprezo com seus seguidores. Então não foi tão surpreendente quando, pouco tempo depois de terem anunciado o fim da banda, o três tenham voltado com seu quinto álbum. Seu som abrasivo agora já é familiar: depois do extremo da experimentação atingido no que seria seu último disco, The Powers That B, o grupo agora reaparece com algumas de suas músicas mais acessíveis. Nesse sentido, Bottomless Pit lembra seu álbum mais aclamado, The Money Store: a instrumentação é esquizofrênica, os vocais de MC Ride são gritados, e há letras perturbadoramente sombrias e violentas; mas também há batidas envolventes e melodias memoráveis que denotam uma estranha sensibilidade com o pop. Os fãs de Death Grips têm tudo para aproveitar esse disco, e, para quem ainda não conhece o trio, essa é uma boa porta de entrada ao seu mundo deturpado.
https://open.spotify.com/track/2kWzZVd50p6eZ6MuYFcmKR
19. Car Seat Headrest – Teens of Denial
Teens of Denial é um disco que não esconde suas influências. Dificilmente você encontrará alguém chamando a música de Will Toledo de “inovadora” – é mais fácil achar as muitas comparações já feitas aos Strokes. No entanto, é um álbum claramente muito ambicioso. Com 12 faixas e mais de uma hora de duração, o que a banda oferece aqui é rock alternativo puro e simples, mas impecavelmente composto e produzido. Cinco canções se esticam para mais dos 6 minutos de duração; a maior delas, The Battle of Costa Concordia, é uma odisseia de 11 minutos e meio. Nas letras, ainda conta com uma boa dose de sagacidade e humor, como no refrão de Destroyed by Hippie Powers (“Diga a minha mãe que estou voltando pra casa / Fui destruído por poderes hippies”) ou em (Joe Gets Kicked Out of School for Using) Drugs With Friends (But Says This Isn’t a Problem), cujo título já é hilário. Apesar de seu tom monótono e cansado, Toledo só tem 24 anos, e Teens of Denial vale a pena só por seu fôlego, paixão e talento.
https://open.spotify.com/track/1EALzILzmIPtRIvYyo6Lwm
18. Glass Animals – How to be a Human Being
O segundo disco é sempre um ponto desafiador na carreira de uma banda. Depois do sucesso de Zaba, álbum de estreia do quarteto inglês Glass Animals, o grupo tinha a difícil missão de continuar o bom trabalho exercido até então. Felizmente, eles dão conta do recado. Em How to be a Human Being encontramos, mais uma vez, a mistura já conhecida de batidas eletrônicas com instrumentos excêntricos – como flautas e bongos -, sons inesperados e uma pitada de Hip-Hop psicodélico, mas, desta vez, o foco é a vida humana. Cada faixa é uma espécie de crônica sobre um personagem peculiar, trazendo pequenos detalhes nada glamourosos sobre suas excentricidades e sobre a juventude em geral. Com seus refrões-chiclete e letras de fácil identificação, as músicas do disco são os típicos sucessos de festas indie. Para quem gosta da banda Alt-J, vale a pena ouvir. Para quem acha que Alt-J é um pouco over e inacessível, vale mais a pena ainda.
https://open.spotify.com/track/6xN6V82mRqClL3JXxbkcK8
17. Biffy Clyro – Ellipsis
Durante 20 anos e seis álbuns de estúdio Biffy Clyro foi considerada uma banda de rock alternativo. Essa classificação era algo garantido, que indicava aos fãs e a crítica o que esperar. No entanto, o sétimo álbum, Ellipsis, vem para quebrar esse paradigma. “Nós não queremos ser uma banda confiável”, diz o frontman Simon Neil. Eles não são mais a pequena banda alternativa da Escócia. Eles também não são mais apenas a banda que enche estádios e grandes casas de shows. O trio se apresenta de uma forma diferente, com um novo produtor, canções mais experimentais – ainda que On a Bang e o single Animal Style lembrem muito o “antigo Biffy” – e principalmente letras mais autobiográficas, que descrevem de forma emocionada a dificuldade de Neil em conviver com a depressão e seus demônios. Na busca pela direção que Biffy Clyro seguirá depois de duas décadas de carreira, Ellipsis surge como uma alternativa que mescla o antigo, o novo e o inesperado, preparando o terreno para que a banda continue a se reinventar.
https://open.spotify.com/track/3VAvS6hbvz0mjFT1TmLNdd
16. The Avalanches – Wildflower
16 anos atrás, o grupo australiano The Avalanches realizou a proeza de se imortalizar com um único disco. Seu primeiro (e único, até o lançamento de Wildflower) álbum Since I Left You rapidamente atingiu status cult. A música do grupo se caracterizava por um exercício singular em plunderphonics: as canções eram montadas, principalmente, de samples (ou elementos) extraídos de outros lugares – músicas, filmes, propagandas; o acervo deles era verdadeiramente diverso. Com a expectativa sobre o segundo disco, amplificada pela mitologia do primeiro e pelo longo hiato entre os dois, temia-se que The Avalanches cairiam na Síndrome do Segundo Disco, que torna a segunda produção de muitas bandas aclamadas uma grande decepção. Felizmente, não é isso que aconteceu. Wildflower, em 22 faixas, retém toda a dinamicidade que tornou seu predecessor tão encantador, com ainda um novo recurso: a participação de cantores de rap, como o Danny Brown (cujo disco também está nessa lista), em algumas das músicas. O resultado é mais um álbum dançante, divertido, e com um charme retrô de discotecagem.
https://open.spotify.com/track/7BSiSsmT0wj3lexy8bgydw
15. Kendrick Lamar – untitled unmastered.
O que acontece quando um dos rappers mais proeminentes da atualidade, que encabeçou a maioria das listas de melhores discos de 2015 e que levou para casa 7 Grammys decide surpreender e lançar as demos de seu álbum aclamado pela crítica e pelo público? O que acontece é que essa coletânea se torna um dos melhores lançamentos de 2016. Os temas políticos e raciais presentes em To Pimp a Butterfly também estão em untitled unmastered., mas longe de ser repetitivo, o novo disco mostra novas combinações e possibilidades, provando, mais uma vez, o talento e criatividade de Lamar, que parece nunca decepcionar. A nós, só resta agradecer a Kendrick por essa agradável surpresa e esperar o que virá em seguida.
https://open.spotify.com/track/5jTCuOUH1PPJAhPfYZ3pwu
14. Kings of Leon – Walls
Há um ditado popular que diz: “não se deve mexer em time que está vencendo”. Aparentemente, o Kings of Leon aprendeu essa lição – para o bem ou para o mal. Depois de dois trabalhos mais ousados, a banda americana lança Walls, um disco que parece trazer paz ao embate banda de garagem do sul dos EUA x rock mainstream. Neste álbum, encontramos todos os elementos dos artistas de Sex On Fire e Use Somebody que conhecemos e amamos. Eles parecem confortáveis e maduros, e entregam músicas de qualidade. Mesmo que flertem com sonoridades um pouco diferentes, principalmente em Muchacho, nenhuma grande parede é derrubada. Isso, no entanto, não é algo ruim. Com Walls, fica claro que Kings of Leon é consistente e continuará sendo uma banda de rock que tem espaço para fazer grande shows e tocar nas rádios, ao mesmo tempo que aperfeiçoa seu som e caminha para o equilíbrio e qualidade musical.
https://open.spotify.com/track/5LlsD7LdSMkGV4Iu0a2Zq0
13. Bon Iver – 22, A Million
Justin Vernon criou, com os seus dois primeiros discos como Bon Iver (For Emma, Forever Ago e Bon Iver, Bon Iver), música dolorosamente bonita – é difícil fugir dessa palavra ao descrever seu som. Ele era aquele cara, que se fechou numa cabana isolada no meio da floresta por meses escrevendo. E o resultado era música ricamente orquestrada, pontuada por seu falsetto delicado, eventualmente modificado por um uso cuidadoso (mas declarado) de auto-tune (efeito de correção vocal). Em 22, A Million, a sensação que predomina é a de que algum vírus de computador hackeou as faixas do novo disco em que estava trabalhando, o distorcendo irremediavelmente (inclusive os seus nomes, de grafia curiosa). E isso não é uma coisa ruim. Suas vocais rodeiam em loops de tonalidades alteradas na abertura 22 (OVER S??N); se arrastam, banhadas em auto-tune pesado, na acapella de 715 – C?R??KS; pontuam 33 “GOD” com samples. Muitas dessas canções não passam dos 2 minutos de duração. São pequenos espaços oníricos formados da justaposição estranha do sintético com a humanidade latente da música de Vernon. Só podemos nos sentir gratos por termos sido concedidos acesso a eles.
https://open.spotify.com/track/1LfWibYjk0TD8YNPtzym9A
12. The 1975 – I like it when you’re asleep, for you’re so beautiful yet so unaware of it
Com um título assustadoramente longo – que lembra a era de ouro do emo, quando bandas como Fall Out Boy e Panic! At The Disco faziam o mesmo – e metas ambiciosas – “o mundo precisa deste álbum”, dizia o vocalista Matt Healy -, a hype em torno do aguardado segundo trabalho do The 1975 era grande, mas ninguém sabia ao certo se ele conseguiria atender às expectativas. Em geral, os pareceres sobre a qualidade de I like it when you’re asleep dependem da simpatia ou antipatia que o crítico nutra por Healy, uma vez que o álbum é um retrato da persona do frontman e do que passa por sua cabeça. Ainda assim, é difícil negar que o projeto tenha seus – muitos – méritos. Em 17 faixas, o disco nos transporta para uma realidade alternativa dos anos 80, em uma mistura de influências, sonoridades e experimentações. As letras mostram o talento em composição de Matt, que aborda ironicamente a cultura da selfie (Love Me), vício em cocaína e outras drogas (UGH, Paris), religião (If I Belive You), morte (Nana) e a alienação da sociedade do espetáculo (em Loving Someone, talvez a melhor faixa do CD). É um disco polêmico, que divide opiniões, mas perfeitamente adequado para a época em que vivemos.
https://open.spotify.com/track/7EQigqw8SToxlAXF2YMqjg
11. Danny Brown – Atrocity Exhibition
Atrocity Exhibition é, originalmente, o nome de uma música da banda seminal de pós-punk Joy Division. O que o torna um título curioso para um álbum de rap e hip hop. Danny Brown, no entanto, faz jus à referência. A despeito dos gêneros musicais completamente diferentes, em seu quarto álbum, o rapper de Detroit retém muito da angústia, da dor e da escuridão das músicas mais famosas de Joy Division. A temática também é diferente, no entanto: no lugar dos simbolismo sombrio, há menção de drogas, gangues, armas e tiros; criando uma experiência quase cinematográfica. Com uma voz estridente, Brown rima freneticamente por cima de instrumentais dos mais variados, mas sempre com algo de ameaçador. Nessa atmosfera claustrofóbica, não há espaço para enganação ou fantasia: o que você vê é o que você tem.
https://open.spotify.com/track/6l2Q1Jb5c2VycqDEzp5ZlJ
10. Mitski – Puberty 2
O nome do terceiro disco da cantora nipo-americana Mitski não poderia ser mais adequado. Mitski Miyawaki tem 26 anos de idade, mas sua música comunica perfeitamente algo da angústia adolescente de uma garota de 16 anos; só que com a maturidade lírica que a idade lhe trouxe. Em Puberty 2 (“Puberdade 2”), ela lida com temas de identidade, tradição e (claro) amor com uma voz tão sincera que torna tudo o que diz crível. Seu pessimismo em I Bet on Losing Dogs é emblemático de uma geração jovem e frustrada; suas letras em Happy ou Your Best American Girl têm algo da dramaticidade e do poder sintético de um tweet. É um álbum de seu tempo, e talvez por isso também seja de uma potência efêmera. Aproveite agora antes que ela vá embora.
https://open.spotify.com/track/172rW45GEnGoJUuWfm1drt
9. A Tribe Called Quest – We got it from Here… Thank You 4 Your service
Em um ano de retornos e despedidas, o grupo de hip hop lendário A Tribe Called Quest apresenta um disco que é os dois ao mesmo tempo. We got it from Here… Thank You 4 Your service é o primeiro álbum do coletivo desde o The Love Movement, de 1998, e também seu último, devido à morte precoce de um de seus integrantes centrais, MC Phife Dawg, em março – poucos meses antes do lançamento do disco. Com 16 faixas, e colaboradores ilustres que vão de Kendrick Lamar e Kanye West (ambos os quais marcam presença nessa lista) à Elton John e Jack White, eles se despedem com um álbum duplo digno de seu legado. Decididamente políticas e atuais, as músicas aqui têm instrumentais criativos e originais (cortesia de Q-Tip), mas sutis o bastante para manter em foco o que importa: as letras e as rimas. A Tribe Called Quest já é hoje um grupo veterano, e We got it from Here… nos lembra que eles ainda estão tão comprometidos com a excelência quanto sempre – e do que é capaz um grupo de mestres em seu ofício trabalhando em conjunto.
https://open.spotify.com/track/3wUX7HpXS382s1DHTRouVk
8. Angel Olsen –My Woman
Angel Olsen vem, ao longo dos anos, construindo um nome para si mesma na cena independente. Desde seu primeiro álbum solo de 2011, Strange Cacti – um diamante bruto em lo-fi -, a cantora tem progressivamente aperfeiçoado a instrumentação e produção de seus discos. E talvez agora, em seu quarto álbum, ela esteja finalmente realizando todo seu potencial, com um som tão dinâmico quanto o que sempre foram os pontos fortes de sua música: as letras e sua voz única. Olsen vai das palavras de ordem de Shut Up Kiss Me, ao sussurro apaixonado de Intern, ao canto narcótico de Those Were the Days; e sua banda acompanha o ritmo, passando de sons sintéticos a baladas sensuais a explosões instrumentais de puro rock’n’roll. My Woman confirma que Angel Olsen é uma das cantoras-compositoras mais ecléticas dos últimos tempos, e que não importa o gênero, sempre tem algo de novo para oferecer.
https://open.spotify.com/track/5uZLsGY9fknBd5Rxr7AIss
7. Frank Ocean – Blonde
Depois de quatro anos de espera depois de Channel Orange, Frank Ocean finalmente lançou Blonde, talvez o álbum mais aguardado do ano, deixando claro que valeu a pena esperar que o cantor, compositor e produtor trabalhasse em seu próprio ritmo – e sem a gravadora Def Jam – para entregar seu melhor disco até agora. Com participações discretas de Kendrick Lamar, Beyoncé, Pharrell, Andre 3000 e Kanye West, Ocean nos oferece 17 faixas brilhantemente produzidas, que são um mergulho intimista dentro das memórias, percepções e ideias do artista. Com Blonde, Frank Ocean abrange vários gêneros e se estabelece como um dos maiores nomes do cenário musical nos dias de hoje, feito impressionante para um jovem com apenas dois álbuns de estúdio.
https://open.spotify.com/track/3xKsf9qdS1CyvXSMEid6g8
6. Beyoncé – Lemonade
Tá, tá, você é um purista e acha um absurdo que a Beyoncé, uma diva pop da máquina do entretenimento, esteja tão alto em nossa lista de melhores discos do ano. “Tem 1000 pessoas por trás de UMA música dela!”, você pode estar gritando à tela de seu computador. Mas o fato de que Beyoncé selecionou a ajuda dos melhores nomes da música mainstream e underground, e ainda conseguiu criar um álbum coeso diz muito sobre a visão e direção artística dela. A Sra. Knowles está num ponto em sua carreira em que ela tem a liberdade criativa e os recursos para fazer absolutamente qualquer disco que ela quiser. E ela escolheu produzir um álbum de pop e trap e rock e blues e country, sem perder um pingo de sua excelência; e que, além de narrar os momentos mais conturbados de seu casamento com Jay-Z, ainda carrega uma mensagem forte da resistência negra nos EUA. Isso merece o respeito e admiração de qualquer um.
5. Leonard Cohen – You Want It Darker
Leonard Cohen foi o tipo de artista com o qual é muito difícil fazer comparações devido a sua unicidade. Com You Want it Darker, tal unicidade pode ser mais uma vez comprovada de maneira intensa. Cohen, com sua voz poderosa e sonoridade minimalista versa sobre Deus, amor e, principalmente, sobre a morte com a maestria de um poeta épico. É um disco melancólico, mas sereno; a última expressão de um artista brilhante conformado com a efemeridade da vida humana e pronto para o próximo capítulo, seja ele qual for. O álbum, um adeus ao mundo sussurrado por Leonard Cohen, falecido em novembro de 2016, é sombrio e doloroso de se ouvir, mas ao mesmo tempo possui uma beleza intensa que encanta, conforta, acalenta. Em seu 14º álbum, Cohen, que sempre cantou a morte, se despede, mas seu trabalho certamente ecoará por muito tempo.
https://open.spotify.com/track/5zb7npjQqoJ7Kcpq4yD9qn
4. Kanye West – The Life of Pablo
2016 provou que, definitivamente, não dá para defender Kanye West. Declarações misóginas, apoio a Donald Trump, arrogância e ego super inflado e uma promessa (assustadora) de concorrer à presidência dos EUA em 2020. Seu último trabalho, The Life of Pablo, é o disco mais Kanye de toda a discografia de Kanye – uma das faixas, inclusive, é intitulada I Love Kanye. Por que, então, este álbum estaria numa lista dos melhores lançamentos do ano, e em uma posição tão privilegiada? Por vários motivos. A produção, por exemplo, é muito interessante. Há a participação de vários artistas. Verifica-se, nele, uma versatilidade impressionante. Em algumas faixas extremamente pessoais, como Real Friends, é possível até sentir alguma empatia por Kanye e considerar se o seu comportamento não seria uma estratégia de proteção desenvolvida por ele. West é o artista que amamos odiar, que não gostaríamos de valorizar, mas que dificulta tal tarefa com The Life of Pablo ao nos fornecer música inegavelmente boa e se consolidar como o rapper mais influente do cenário mainstream.
https://open.spotify.com/track/3p6fkbeZDIVqapfdgQe6fm
3. Radiohead – A Moon Shaped Pool
Se alguma vez você ouviu alguma música do Radiohead e achou inacessível, experimental ou distante demais, tente de novo. A Moon Shaped Pool pode ser o disco certo para você – e também para aqueles que já são fãs da banda há muito tempo. Depois do eletrônico The Kings of Limbs, de 2011, esse álbum se apresenta simples, calmo, constante e onírico, com o melhor que a voz de Thom Yorke e arranjos bem feitos podem oferecer. A calmaria da participação da London Contemporary Orchestra, pianos e de sons atmosféricos, no entanto, é quebrada pelas letras sombrias, que expressam paranoia, medo e inseguranças. Em Deck Dark, Yorke canta sobre uma espaçonave bloqueando o céu, sem nenhum lugar para se esconder. Glass Eyes fala sobre pânico e incertezas. Daydreaming declara que não há volta; o dano está feito. Ainda assim, há uma certa sensação de conforto ao ouvir A Moon Shaped Moon. E em um ano tão difícil como 2016, isso é o que buscamos.
https://open.spotify.com/track/1uRxyAup7OYrlh2SHJb80N
2. Solange – A Seat At The Table
As irmãs Knowles estão com tudo esse ano. Se Beyoncé está agora em pleno controle de sua voz, Solange finalmente encontrou a sua. Apostando no neo-R&B, o que Solange nos apresenta em A Seat at the Table é um disco difícil com um som fácil. Aqui, ela encara de frente os temas de racismo e resistência esboçados no Lemonade de sua irmã. Solange não está pra brincadeiras: Para se ter uma noção, três das músicas do disco começam com “Don’t”. Ela está cansada (Weary) e brava (Mad), ainda que isso não seja perceptível ao se escutar superficialmente. Sua voz se mantém num tom sereno e a instrumentação é sutil e agradável. Nesse sentido, o álbum é quase um cavalo de Tróia: antes de percebermos, estamos escutando uma crítica ferrenha à supremacia branca, que não fecha os olhos nem às micro-agressões (Don’t Touch My Hair). Impossivelmente atual, A Seat at the Table é a catarse de que 2016 precisa.
https://open.spotify.com/track/48EjSdYh8wz2gBxxqzrsLe
1. David Bowie – Blackstar
Oh, I’ll be free/just like that bluebird/ oh, I’ll be free/ ain’t that just like me? Ouvir o trecho de Lazarus, hoje, dói mais e tem um significado maior do que em sua primeira reprodução. A morte de David Bowie dois dias após o lançamento de Blackstar transformou um disco genial em uma despedida dolorosa, do tipo que nos deixa com o coração partido, porém somos consolados por esse último presente que o camaleão do rock se empenhou para nos deixar. O álbum é o reflexo de uma carreira longa e frutífera. É tão ousado, inovador e atual quanto Bowie sempre foi durante sua vida. Mescla pop, jazz e batidas eletrônicas de maneira que só Bowie seria capaz de fazer. É uma preparação para a partida, na qual o cantor fala do caos, do isolamento, da morte, mas também fala em liberdade. O ano de 2016 levou Bowie, mas o cantor não foi embora sem uma despedida à altura de tudo que sempre foi. Com Blackstar, David Bowie estará para sempre vivo.
https://open.spotify.com/track/3Vn9oCZbdI1EMO7jxdz2Rc
Por Fredy Alexandrakis e Mariana Rudzinski
fredy.alexandrakis@gmail.com | marianarudzinski71@gmail.com