O teatro Cacilda Becker, localizado na região da Lapa, está realizando o Concurso Drag de julho até novembro, uma terça-feira por mês às 21h. O espaço tem trazido uma programação LGBTQIA+ muito enriquecedora a partir de preços acessíveis, o que é ainda mais importante frente à censura política e social impostas à cultura do país.
As drags têm a oportunidade de mostrar a sua arte trazendo estilo, performance e muito carisma, o que quebra a visão daqueles que pensam que elas estão presentes apenas em boates. O concurso tem como principal objetivo oferecer às participantes um espaço para que possam mostrar seu trabalho durante cada mês.
Para Fedra, “ser drag é expressar, através de um alter ego, coisas que a convenção social nos impede de expressar na nossa ‘vida normal’, experiências que passamos, pessoas com quem nos relacionamos, a nossa forma de ver o mundo. Drag é coragem, é vestir a peruca e sair na rua pronta para enfrentar o mundo querendo nos engolir. Drag é subversão, drag é política, drag é paixão.”
Muitas performances já foram feitas com temas Broadway e brasilidades, divertindo o público com números icônicos. As participantes trazem consigo o simbolismo de cada persona, criticando e expressando a liberdade do corpo, sempre com muito humor. Na terça-feira (8), de outubro, o tema da apresentação foi o Halloween, críticas e risos não faltaram.
Chica Didi, drag de Gabriel Cruz, fala um pouco sobre a escolha da personagem para aquela edição do concurso. “Com o tema Halloween, bolei essa bruxa satânica que exorciza a História do Brasil. Um dos baratos de fazer drag é esse: a figura Chica, que tem sua personalidade e trejeitos próprios, tem uma gama enorme de possibilidades.” A sua performance tratou sobre o genocídio negro, escravidão e ditadura, tendo a história do Brasil contada a partir do terror. Além da comparação com Fernanda Montenegro, que pode ser vista no traje e nos livros, em referência à censura de obras na Bienal do Rio. A atriz se veste de bruxa ao redor de uma fogueira rememorando um período não tão distante, mas que ainda está presente. Ainda enfatiza que, enquanto artista, considera o concurso uma linda plataforma de projeção e crescimento, comenta Chica Didi.
O concurso vem para mostrar que drags podem e devem estar em todos os espaços. Tudo isso acompanhado por um teatro cheio de pessoas do bairro, amigos e familiares. O clima de alegria e risadas é compartilhado por todos. A promoção da tolerância, o respeito e admiração pela arte é o que faz o ser humano se despir de julgamentos prévios e moralizadores.
Lunna Black lembra e comenta que, na primeira fase do concurso – com o tema livre – fez uma crítica à homofobia, racismo, transfobia e feminicídio. No tema Brasilidades, fez um mix de músicas na voz de Maria Bethânia, querendo passar sobre as amarras que nos prendem e o quanto somos fortes para se libertar. A diversidade de temas mostra quantos “brasis “ e quantas questões sociais permeiam pela nossa sociedade, e quantos tabus precisamos desconstruir.
Por trás de toda performance, existe também muito esforço. Ensaios, horas se maquiando e muito estudo faz parte de todo show dado no palco do teatro Cacilda Becker.
O show dado pelas drags do teatro Cacilda Becker, em uma terça-feira de cada mês, mostra um Brasil de artes. Estas expressam o que se tem de mais bonito e o quão múltiplo é fazer artístico. O concurso volta este mês de novembro, e é imperdível. Nesta próxima terça-feira, 5 de novembro, com programação mais cedo, às 20 horas, o concurso chega ao fim.
“A drag é uma construção artística e performativa de uma personagem, que pode ou não transpassar questões de gênero. Existem milhares de vertentes e estilos, e, por ser uma linguagem artística, é difícil definir com precisão tudo que envolve ser ou não ser drag” finaliza Chica Didi.