O distanciamento social em função do Coronavírus impediu que os shows do Cirque du Soleil acontecessem, sinalizando risco de falência. Nesse cenário, a companhia lançou a plataforma CirqueConnect, que apresenta vídeos e playlists, incluindo um especial de 60 minutos com trechos de três espetáculos: Kurios – Cabinet of Curiosities, O e Luzia.
O especial, disponível no YouTube, é uma oportunidade para quem nunca teve condições de assistir a esse tipo de show circense. Embora sejam apenas trechos, é possível conhecer o trabalho do grupo e se divertir, fugindo da preocupação e da ansiedade geradas pelo vírus. Foi a alternativa do circo de conectar-se com o público, mesmo longe.
A performance é um intermediário entre dança e teatro, semelhante a peças de balé, porém com movimentos que desafiam a força e a flexibilidade humanas. Procura contar uma narrativa, mas sem a presença do elemento verbal – as únicas “falas” presentes são interjeições. Assim, permanecendo apenas o visual, a história parece um pouco confusa e abstrata – o que a torna menos clara, mas não menos interessante.
Afinal, o destaque é o corpo humano, ao qual é atribuído um valor artístico, reforçado pelo figurino e pela iluminação. As acrobacias da equipe surpreendem por parecerem sobrenaturais e, principalmente, perigosas. Saltos em grandes alturas, danças com fogo e cambalhotas sobre objetos em movimento são algumas das atividades de tirar o fôlego – tanto de quem vê como, imagina-se, de quem faz.
Com a perspectiva de que o corpo humano é capaz da mimese da natureza, ou seja, de imitá-la, não há presença de animais, como em alguns circos mais tradicionais e antigos. Os animais não precisam sair de seu habitat natural para serem admirados, pois os próprios artistas os representam. Com roupas e movimentos característicos, encenam peixes, gatos e aves e, com a assistência de objetos, caracterizam um guepardo. Tudo com o auxílio da imaginação do público.
A ausência de recursos verbais também chama a atenção para a trilha sonora, a qual não serve apenas para embelezar a performance, mas dá sentido à narrativa e ao movimento corporal. Sem a música, as danças e acrobacias executadas perderiam a emoção e a dramaticidade, e provavelmente não deixariam a plateia boquiaberta.
O especial disponibilizado não deixa de ser uma forma de propaganda para promover o circo e cativar um público futuro. No entanto, é uma oportunidade a ser aproveitada. Talvez o espetáculo não seja tão interessante quanto um filme ou uma série, mas é uma maneira de se distrair durante o isolamento social. Mesmo se a mensagem não for captada, as imagens dos artistas são belas, e suas acrobacias, impressionantes.
Além disso, é importante valorizar artistas e a arte em momento de crise, pois toda ajuda para manter a saúde mental na quarentena é bem vinda.
A performance está disponível no vídeo abaixo: