Inglaterra, século 19, mulheres sem direitos iguais aos dos homens e uma menina em busca de se provar capaz. Esse é o cenário que encontramos em Enola Holmes 2 (2022), nova produção da Netflix que dá sequência às aventuras da irmã de um dos detetives mais conhecidos do mundo, Sherlock Holmes (Henry Cavill). Mas aqui, a atenção não vai para ele, e sim para Enola (Millie Bobby Brown).
Determinada a se tornar uma grande detetive e dar início a uma saga de descobrimentos, Enola Holmes decide abrir seu próprio negócio. Mas ser jovem, do sexo feminino e empreender no século 19, e ainda, ser irmã de um dos maiores detetives da época, não torna as coisas mais fáceis para Enola. Pelo contrário, isso só dificulta a conquistar a confiança de seus clientes, principalmente porque todos os seus méritos são passados para o seu irmão.
Sem casos para desvendar, Enola se vê obrigada a fechar a sua empresa e quase desistir do seu sonho, quando uma menina de 11 anos, Bess Chapman (Serrana Su-Ling), a encontra e contrata para achar sua irmã adotiva, que desapareceu há uma semana. Agora, a jovem detetive tem uma missão: achar Sarah Chapman (Hannah Dodd).
A única informação que Enola tem sobre Sarah é que a jovem foi acusada de roubo. Atrás de mais pistas, Enola vai até a fábrica de fósforos, local onde Sarah, Bess e mais 600 garotas trabalhavam. E lá, ela faz sua primeira descoberta: Sarah Chapman roubou sim. Mas não uma quantia em dinheiro, e sim documentos. Por que Sarah roubou esses documentos? Ela sabia de algo que ninguém poderia saber? Isso teria a ver com seu desaparecimento? Ela estava desaparecida ou estava fugindo?
Em busca de responder suas próprias perguntas, Enola prossegue para o próximo passo: ir até o teatro onde Sarah fazia um bico. Só que, por ainda ser menor de idade e viver causando confusões, a jovem se vê legalmente dependente do irmão, principalmente quando um policial que não está nada disposto a ajudá-la, entra no seu caminho. Parece que Enola e o policial Grail (David Thewlis) estão atrás da mesma pessoa, contudo, por motivos diferentes. Com um histórico de problemas com a família Holmes, o policial passa a investigar a investigação de Enola.
Em paralelo a seu caso, também temos Sherlock Holmes, que também está trabalhando em um caso de investigação. O irmão, que possui maior participação neste filme, está tentando desvendar um episódio de corrupção que envolve a política. Um ponto positivo para o roteiro do filme ao trazer mistérios em dose dupla e explorar mais sobre a personalidade de Sherlock. O que ambos os irmãos Holmes não sabem, é que seus casos podem estar ligados.
Contudo, Enola não está disposta a viver à sombra de Sherlock. Aqui, não é sobre uma competição entre irmão e irmã, mas sim sobre homem e mulher. Enola, assim como outras personagens do filme, está cansada de ser subestimada. Ela precisa e quer mais. Só que sua jornada pode ser mais difícil do que parece. Isso porque Enola não sabe que sua procurada, Sarah Chapman, não é apenas mais uma jovem que desapareceu.
Garotas assim, trabalhadoras de fábricas, são facilmente descartadas. Mas Sarah Chapman é diferente. Por que ela chama tanta atenção? Assim como Enola, Sarah é uma garota que não se conforma com sua realidade. E mulheres que fazem perguntas, não agradam homens que estão no poder. Enola mexeu em um enxame de abelhas.
Além disso, é claro, temos o amor. Dividida entre seguir os ensinamentos da mãe e ser uma mulher independente, solucionar o seu caso ou dar um pouquinho de vazão aos sentimentos de adolescente que começam a florescer, Enola tem que decidir o que faz com o Lorde Tewkesbury (Louis Partridge), que desde o primeiro filme, ficou explícito um possível romance.
Em meio a tudo isso, a trama se desenrola. Com direito a baile, luta, fugas e romance, e claro, muitos mistérios para serem desvendados, cada pista encontrada é apenas uma ponta solta em um emaranhado de fios, o que convida o telespectador a querer mais. Quando você acha que está prestes a solucionar o caso, descobre que o buraco é mais embaixo e se anima ao ver duas mentes geniais, Enola e Sherlock, tendo que trabalhar juntos lado a lado. Aliás, se um Holmes já é bom, imagina dois?
Com um roteiro muito bem construído e conectado, Enola Holmes 2 aborda diversos temas sociais, como condições péssimas de trabalho, epidemia, desigualdade para as mulheres e corrupção na política. Com referências aos movimentos históricos que marcaram a Inglaterra no século 19, como o movimento Sufragista e a greve feminista em 1888, o filme é uma combinação perfeita para quem deseja profundidade, descontração e muita animação.
Enola Holmes é a representação de mulheres revolucionárias, a primeira de muitas, que estão cansadas de estarem à margem da sociedade e terem suas vidas resumidas a um cônjuge, e que estão dispostas a fazerem o barulho que for necessário. E o mais legal é que a produção traz personagens históricas que marcaram a revolução feminista, como a própria Sarah Chapman, responsável por liderar a greve de mulheres, e a lendária Mira Troy, arqui-inimiga de longa data de Sherlock.
Não só como atriz principal, mas também como produtora do filme, Millie Bobby Brown realizou uma performance incrível ao participar em todas as etapas da produção do longa. Definitivamente, esse filme marca, mais uma vez, um ponto importante na carreira da garota que já conquistou o coração de todos ao interpretar a Eleven em Stranger Things (2016 – atual). E agora, ao dar vida a Enola.
Dirigido por Harry Bredbeer, Enola Holmes 2 conseguiu superar o primeiro filme e pode ser só o começo de uma incrível saga. Se você está em busca de um filme cheio de mistérios, complexo e com referências a movimentos e fatos reais, prepare sua pipoca e sua lupa, pois Enola Holmes 2 promete não decepcionar.
O filme estreou dia 4 de novembro e está disponível para todos os assinantes da Netflix. Confira o trailer:
*Imagem de Capa: Divulgação/Netflix