A nova animação Ruby Marinho: Monstro Adolescente (Ruby Gillman, Teenage Kraken, 2023) estreou nos cinemas brasileiros no dia 29 de junho. O filme conta com diversas referências que expõem as intenções empresariais da Universal Studios, mas garante um bom divertimento para o público infanto-juvenil.
Ruby: adolescente normal ou rainha dos mares?
Na trama, uma linhagem Kraken – monstros aquáticos míticos – vive escondida no mundo dos humanos e tenta passar despercebida para manter seu disfarce. Moradora da cidade fictícia de Cabo Fresco, no litoral estadunidense, a família Marinho, composta por Agatha (Toni Collete), Arthur (Colman Domingo), Sam (Blue Chapman) e Ruby Marinho (Lana Condor) se esconde na vida terrestre.
Ruby é uma adolescente que pretende ser normal, mas sua origem monstruosa desafia a tarefa. A protagonista é recomendada a ficar distante do oceano pela sua mãe, Agatha, que esconde muitos segredos e mantém um grande mistério que incomoda a filha.
Ruby deseja convidar Connor (Jaboukie Young-White) para o baile de formatura de sua escola, mas o processo se transforma em um acidente e os dois caem no oceano. A partir disso, a vida da adolescente vira de cabeça para baixo, e o surgimento de novos personagens em sua vida, como a sereia Chelsea (Annie Murphy) e sua avó (Jane Fonda) – também uma Kraken -, expandem ainda mais sua aventura.
O dilema que persegue Ruby, entre viver a rotina de uma adolescente humana com todos os seus problemas normais ou aceitar a sua natureza Kraken e se aventurar pelo oceano, leva à descoberta dos segredos das origens da personagem e das sombras de seu passado.
Aspectos técnicos
A obra se destaca no uso diverso das cores para representar cada ser vivo, mas os traços utilizados para o longa não possuem uma singularidade como outras animações do estúdio. Além disso, todo o design da cidade de Cabo Fresco é visualmente agradável e remete a uma cidade portuária pequena e pacata.
A fluidez dos movimentos e das silhuetas da família Marinho garantem uma leveza e uma dinamização positiva, já que os corpos quase gelatinosos criam cenas curiosas e engraçadas que agregam na construção dos personagens.
Apesar de carecer de um título mais chamativo, a dublagem é um ponto de destaque no filme. Com ótimas adaptações para a versão brasileira, a tradução conseguiu desviar de diversas barreiras culturais que a obra impõe.
As dublagens de Agatha Paulita, como Ruby, e Patrícia Scalvi, como a avó Marinho, adicionam uma grande contribuição para a imersão no longa, por possuírem uma sinergia enorme. No entanto, Giovanna Lancelotti, como a sereia Chelsea, não teve um desempenho à altura de suas companheiras de voz. Diversas vezes, a falta de técnica da atriz como dubladora atrapalha a experiência audiovisual.
Batalha comercial
A mais nova animação da Universal Studios, Ruby Marinho: Monstro Adolescente foi produzida pela DreamWorks Animation, mesma empresa de títulos marcantes como Shrek (2001) e Como Treinar Seu Dragão (2010). O longa se mostra como uma clara resposta da Universal aos últimos lançamentos da Disney, concorrente direta do estúdio no mercado de animação global. O destaque do novo filme está na evidente inspiração em obras de recente sucesso da Disney, com um certo tom de ironia e uma fórmula que está sendo incorporada à indústria.
O destaque de Luca (2021) no mercado, com sua temática de monstros marinhos, é um reflexo na aposta da Universal e no financiamento do projeto da DreamWorks. Red: Crescer É uma Fera (Turning Red, 2022) também pode ser relacionado a Ruby Marinho: Monstro Adolescente com sua temática de amadurecimento e a metáfora do monstro como a fase caótica da adolescência.
Outros títulos da produtora já fizeram algo semelhante. O inesquecível lançamento de Shrek 2 (2004), com um sarcasmo afiado ao “Felizes Para Sempre” das obras da concorrência, trouxe uma característica única e marcante. Na obra da família Kraken, a sutileza da crítica prevaleceu em relação à antiga produção do estúdio e não passa despercebida aos amantes de animação.
Ruby Marinho: Monstro Adolescente pode ser visto como uma linha de defesa produtiva da Universal às inovações das últimas obras da Disney. Não é coincidência que o antagonismo da obra esteja na figura das sereias, poucas semanas após o lançamento do live-action de A Pequena Sereia (The Little Mermaid, 2023). A relação entre as obras fica explícita na aparência semelhante da personagem Chelsea com a Ariel da animação de 1989.
Atingir os corações
A nova animação de monstros marinhos não apresenta inovações muito expressivas. De forma mais segura, a obra tenta comover o público infanto-juvenil com clichês e temáticas já apresentadas em filmes anteriores. No lugar, o sucesso do estúdio está na identificação com o seu espectador alvo.
Há, no filme, diversas referências à cultura atual da Geração Z, claramente o público desejado da obra. O uso de termos sociopolíticos, as tribos escolares modernas e os elementos digitais – como a representação de aplicativos de transmissões de streaming como a Twitch – são estratégias bem-sucedidas de conexão com o espectador, algo que Red: Crescer é uma Fera não conseguiu fazer de forma tão satisfatória.
A temática de amadurecimento e as diferenças geracionais educativas também garantem um contato com os pais, que dialogam com as questões de criação e de traumas. Porém, da mesma forma que outras temáticas foram tratadas, o filme pouco inova nas abordagens.
Ruby Marinho: Monstro Adolescente se apresenta como uma comédia garantida, com uma grande ironia à concorrência. A Universal compete no mercado com uma obra bem-humorada e leve, repleta de clichês e com uma mistura agradável. Mesmo com pouca ousadia, a nova animação consegue se destacar como um bom entretenimento para a família.
O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação/Universal Studios