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Único réptil exclusivo do Pantanal está ameaçado de extinção, segundo cientistas

“Têm espécies do Pantanal que estão morrendo e não conseguimos mensurar”, disse Alejandro Valença, principal autor do artigo
Por Isabela Nahas (isabelanahas@usp.br)

Nesta sexta-feira (15), um artigo publicado na revista “Biodiversidade Brasileira” mostrou resultados que indicam que a serpente Helicops boitata, único réptil endêmico do Pantanal, é um dos animais mais ameaçados pelos incêndios da região. A alteração do ciclo de queimadas naturais do bioma é um perigo para diversos répteis e anfíbios.

Realizaram a pesquisa cientistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP), da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e da Universidade Federal de Goiás (UFG). 

Método de pesquisa

Entre 2020 e 2023, os pesquisadores registraram espécies de anfíbios e répteis nos municípios de Barão de Melgaço e Poconé, no Mato Grosso. Os animais foram registrados em duas circunstâncias: de emergência, durante incêndios, e de monitoramento, após os incêndios. Indivíduos da espécie Helicops boitata foram encontrados apenas no período de emergência, todos mortos.

Carcaça cinzenta de uma tartaruga em meio a uma floresta incendiada no Pantanal
Tartaruga-do-Pantanal (Acanthochelys macrocephala), também encontrada sem vida durante emergência.
[Imagem: Reprodução/Gabriela do Valle]

No Pantanal, os anfíbios de pequeno e médio porte costumam se abrigar no solo, sob 20 a 30 cm de matéria orgânica. Os animais vão para a superfície durante as cheias, quando é mais complexo acessar a região. Esse comportamento torna difícil para os cientistas localizarem as espécies. Por isso, Alejandro, principal autor do artigo, destacou, em entrevista para o Laboratório e no artigo, que há uma falta de protocolos eficientes para identificação e estudo dos efeitos do fogo para esse grupo de seres.

Além disso, alguns biomas brasileiros, como a Amazônia, têm monitoramentos do impacto das queimadas para espécies da fauna há mais anos do que outros biomas, como o Pantanal. Por isso, é provável que haja espécies que entraram em extinção e que nunca foram descobertas. A equipe de herpetólogos do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN) e do ICMBio, parceiros na realização do estudo, tentam mudar essa realidade, de acordo com a bióloga Lara Cortês, uma das autoras do estudo.

O ciclo do fogo

Floresta incendiada no Pantanal
Os incêndios e as características naturais do Pantanal, como as inundações, dificultam a identificação de algumas espécies.
[Imagem: Reprodução/Carlos Abrahão]

O texto também chama a atenção para a alteração da temporada de fogo. Os incêndios naturais do Pantanal ocorrem no início da enchente, quando a vegetação está seca o suficiente para queimar e, logo em seguida, começam as chuvas. As espécies estão adaptadas a esse ciclo. Porém, o incêndio humano pode acontecer em qualquer época e é agravado pelas mudanças climáticas e alteração do uso do solo, que aquecem o bioma e diminuem as áreas alagadas, facilitando a dispersão das chamas.

“Naturalmente, o que limitava o fogo eram os mosaicos de áreas úmidas. Hoje, esse mosaico é de áreas secas.”

Leonardo Bairros Moreira, outro autor do artigo

Segundo o estudo, as espécies mais afetadas pela mudança dos incêndios são, para os anfíbios, os de grande porte e hábitos terrestres e semifossoriais e, para os répteis, as serpentes aquáticas e semiaquáticas. Por isso, os cientistas reforçam a necessidade de um monitoramento direcionado para esses grupos, especialmente com a Helicops boitata.

Leonardo comentou que os estudiosos não possuem a dimensão do impacto que alguns fenômenos têm no meio ambiente, como o fogo subterrâneo. Sobre os animais que se abrigam no chão, ele ainda comentou que “o solo não precisa pegar fogo. Simplesmente pela fumaça ou aumento da temperatura, os indivíduos podem acabar morrendo lá dentro e a gente não terá nem conhecimento disso.”

*Imagem de capa: Reprodução/Gabriela do Valle

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