Por Laura Alegre
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Olhos curiosos enxergam tudo em volta como se quisessem realmente absorver o que veem. Pequenas mãos vorazes exploram a terra, a água e até o ar (o que deve ter dentro daquele balão?). Mil ideias diferentes chegam àquelas mentes em turbilhão e, mesmo sem entender muita coisa, a imaginação toma conta e ciência se transforma em diversão.
As crianças entendem o mundo de maneira um tanto peculiar, motivadas pela sua curiosidade de saber o porquê das coisas. A opinião deles sobre assuntos científicos também é baseada nessa perspectiva. Nas aulas, principalmente do ensino fundamental, é comum que os professores usem experiências divertidas como método de ensino. Plantar feijões em um algodão, fazer vulcões que soltam lava e reproduzir o sistema solar são alguns exemplos de como a prática é mais efetiva no ensino por ser algo interativo e interessante.
A psicopedagoga Rebeca Schwarz Ferrari Kretzmann, especialista em estimulação cognitiva infanto-juvenil, afirma que a melhor forma de ensinar ciência aos pequenos é assim: com a mão na massa. “Para crianças, o abstrato ainda é um pouco difícil de entender, então quanto mais na prática você ensinar, mais vai ficar gravado na mente da criança, pois ela aprende com a experiência, sentindo, tocando, cheirando”. diz ela. “Elas precisam desse contato próximo com as coisas ao seu redor para compreender do que o mundo é feito”, diz ela.
Rebeca ainda ressalta que o aprendizado teórico continua sendo parte fundamental do desenvolvimento intelectual da criança, mas que é necessário estimular algo além da pura e simples memorização. Segundo a especialista, “ensinar que 2+2 é 4 é importante, pois ela usará isso para o resto da vida, mas a criança ainda não tem essa visão e perspectiva. Então, deve-se propor desafios e instigar a criatividade, fazer vivências, já que o significado prático é o que ficará marcado para ela”.
Mas como estimular o interesse das crianças por assuntos científicos que, à primeira vista, parecem tão maçantes? Há muitas maneiras divertidas de fazer isso, inclusive pela TV: vários desenhos animados têm como tema a ciência ou cientistas de modo geral, o que pode ser um gatilho para que a criança se interesse pelo que assiste na telinha. Alguns exemplos de animações educativas nessa linha são O Mundo de Beakman, Phineas e Ferb, O Show da Luna, O Laboratório de Dexter, Miles do Amanhã, entre outros.
O estudante do ensino fundamental André Lima, de 11 anos, conta que gosta muito da aula de ciências na escola, principalmente quando aprendeu sobre células. Ele não acha, no entanto, que os desenhos que assiste tenham o influenciado a ter interesse pelo assunto, embora não descarte a possibilidade de que “aqueles que mostram médicos ou cientistas” possam fazer as outras crianças a gostar da área.
Outras atividades voltadas ao público infantil, também com essa pegada científica, são idas a museus e a espaços culturais, como o Catavento Cultural, situado na Avenida Mercúrio, sem número, no Brás, em São Paulo. Lá sempre há várias exposições interativas e mostras gratuitas com foco em um aprendizado divertido. Vale a pena conferir!
O depoimento da psicopedagoga reforça a importância dessas experiências diferentes: “A criança aprende pela experimentação e também pelo lúdico. Os desenhos animados são um caminho para o entendimento e curiosidade, porém não se deve deixar que apenas as mídias instiguem o desejo de aprender ciências. Visitar museus interativos, por exemplo, pode ajudar muito a criança a gostar e entender a área”.
Além disso, jogos também podem despertar a curiosidade da criança a respeito do mundo científico. Rebeca afirma que “jogos são muito bons para simular situações reais e estimular o raciocínio e criatividade, principalmente os de tabuleiro. Alguns boardgames que podem ser utilizados na prática do ensino de ciências para crianças são: Dr. Eureka, Química Maluca, Ecofluxx, Survive, Potion Explosion, entre outros”.
“As crianças são cientistas natas. Vivem fazendo experiências e testando hipóteses, descobrindo o mundo, seus corpos, seus espaços. Ela naturalmente já se interessa por tudo que seja diferente, por como as coisas funcionam e por que são assim. O importante é direcionar essa curiosidade para um ensinamento prático de ciências, utilizando seus próprios questionamentos para introduzir o ensinamento”, conclui a especialista. Em suma, aprender brincando é possível e, definitivamente, muito benéfico — tanto para que a criança se interesse por ciência quanto para que ela tenha um bom desenvolvimento intelectual e pessoal. Que tal resgatarmos um pouco do nosso lado criança-cientista hoje?