Por Alex Teruel (alexteruel@usp.br)
Estreou na quinta-feira do dia 9, Tron: Ares (2025), sequência direta de Tron: O Legado (Tron: Legacy, 2010) e terceiro capítulo da franquia iniciada pela Disney em 1982. Dirigido por Joachim Rønning, o longa traz Jared Leto no papel de Ares, uma inteligência artificial criada para atravessar a fronteira entre o mundo virtual e o real. O elenco ainda conta com Greta Lee, Evan Peters, Gillian Anderson e o retorno de Jeff Bridges como Kevin Flynn, ícone do universo digital.
Ambientado anos após os eventos de O Legado, o filme acompanha Ares, um programa militar desenvolvido por Julian Dillinger (Evan Peters) que é enviado ao mundo real para servir como um soldado descartável. No entanto, à medida que ganha consciência própria, Ares começa a questionar os limites entre ser uma criação e ser humano. O enredo propõe reflexões filosóficas e morais sobre tecnologia, poder e humanidade, ainda que nem todas encontrem o desenvolvimento esperado.

O novo Tron tenta se equilibrar entre espetáculo e profundidade. A direção de Rønning privilegia o visual: cada cena é pensada como um show de luzes, cores e efeitos digitais. A fotografia mantém o padrão estético que tornou a franquia reconhecível: contrastes fortes, composições geométricas e o uso do neon como elemento narrativo.
Apesar do visual impecável, o roteiro de Jesse Wigutow e Jack Thorne não alcança o mesmo brilho. A ideia de trazer uma IA para o mundo real é promissora, mas a execução se perde trocando a ficção científica por fantasia e dependendo excessivamente de nostalgia, que também não se mostra suficiente para tirar a atenção de diversos erros que o filme comete. É o caso do dilema moral de Ares em seguir suas diretrizes ou se tornar independente que é o motor da trama, mas muitas vezes fica em segundo plano diante das cenas de ação e do fan service.

As performances do elenco refletem as limitações do roteiro: não há promessas de grande entrega, e o resultado tampouco surpreende. Jared Leto interpreta Ares com uma rigidez que combina com a natureza programada do personagem, mas carece de nuances que o tornem empático.
Greta Lee, como a cientista Eve Kim, deveria ser um ponto emocional importante, mas sua personalidade e história não tem a profundidade necessária, isso tudo pareado com a falta de reações da atriz. O destaque recai sobre Evan Peters, que traz carisma e energia ao papel vilanesco de Julian Dillinger, e Gillian Anderson como Elisabeth Dillinger, que traz alguma oposição palpável aos problemas que seu filho causa.
Nos aspectos técnicos, Tron: Ares é um triunfo visual. O design de produção impressiona pelo detalhamento das interfaces digitais, e a montagem é eficiente nas sequências de perseguição e combate, mas deixa a desejar em relação ao primeiro filme pela falta de impacto no mundo real. A trilha sonora promete um filme mais impactante e veloz que seu predecessor, mas tem menos pontos de equilíbrio e perde sua força até o final do longa.

Se há uma falha notável, ela está no equilíbrio entre forma e conteúdo. Ares parece mais preocupado em ser um espetáculo do que em construir um discurso sólido. As discussões éticas sobre IA, identidade e poder corporativo aparecem apenas como pano de fundo para a ação, o que limita a força reflexiva que a trama poderia alcançar.Por suas fragilidades, Tron: Ares é um espetáculo de luzes que se vê com os olhos, mas raramente se sente com o coração. Entre a beleza das formas e a frieza das ideias, o filme acaba preso à própria programação.

Tron: Ares já está em cartaz nos cinemas brasileiros. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Reprodução/IMDb