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A busca pelo zelo jornalístico

Começo esta coluna dando as boas-vindas a 2022 e à nova direção/equipe da Jota. Que seja um ano repleto de boas pautas e um trabalho jornalístico ético e de qualidade. Devido a essa transição e a diversas tarefas desta ombudswoman, as primeiras considerações se referem a uma mescla de textos de janeiro, fevereiro e março. …

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Começo esta coluna dando as boas-vindas a 2022 e à nova direção/equipe da Jota. Que seja um ano repleto de boas pautas e um trabalho jornalístico ético e de qualidade.

Devido a essa transição e a diversas tarefas desta ombudswoman, as primeiras considerações se referem a uma mescla de textos de janeiro, fevereiro e março. São eles: “Vai um cafézinho? — Um perfil histórico e emocional do café no Brasil”, por Duda Ventura, para a J.Press; “Psicodélicos no tratamento de doenças e distúrbios mentais”, por Isabella Oliveira, para o Laboratório; “Batman: desvendando os segredos de Gotham”, por Diogo Bachega, para o Cinéfilos; A ascensão da música alternativa durante a década de 90”, por Amanda Marangoni, para o Sala 33 e “A Transformação e o Renascimento da Azzurri”, por Fernando Cardoso, para o Arquibancada.

O cuidado com a apuração – no sentido de uma pesquisa profunda e com levantamento de dados, referências históricas e fontes (físicas ou documentais) – está presente em todos os textos, sejam eles reportagens, resenha e análise.

De maneira geral a Jornalismo Júnior se propõe a fazer reportagens (mais narrativas ou diretas) e resenhas, mas percebo que é possível também escreverem em um outro formato jornalístico: a análise. É um gênero textual mais interpretativo que requer muito mais dados e amarrações para “explicar” o fato. Pode até dar mais trabalho para ser produzido, mas sempre que a pauta permitir e editores/repórteres tiverem domínio da temática, o texto pode ser mais analítico e por conseguinte mais interessante para os leitores.

Nessa seleção para a redação da coluna vejo que o texto publicado em Arquibancada caminha para esse sentido. O autor opta por analisar um fato (a crise da seleção italiana) e, para isso, faz um levantamento histórico, busca dados, exemplificações, faz comparações e ouve duas fontes que “lidam” com a temática.

Para esporte isso é muito comum porque é uma editoria que abraça os apaixonados, pessoas que gostam justamente de fazer essas análises e reflexões, condição que outras editorias podem experimentar, quando o formato for pertinente.

 

Alguns pitacos na escrita

Reforço sempre que cada editoria e equipe tem autonomia para conduzir o texto da maneira que acharem mais condizente com a proposta do espaço e da pauta. Mas, alguns pontos me chamaram atenção e, nesse sentido, imagino que as observações possam contribuir para uma melhor experiência de leitura do público.

A narrativa escolhida para a reportagem do café é muito boa, gosto das histórias dos personagens, da linguagem escolhida; essas combinações são pertinentes ao longo de toda a reportagem.

No trecho “Mesmo naquelas cafeterias to go, nas quais só há um balcão e o objetivo é pegar e ir tomando no caminho para outro lugar…” eu colocaria a palavra “bebida” após pegar. Está subentendido, mas creio que reforça o nosso personagem principal: o café.

A escolha em apresentar a história pessoal de alguns personagens com a bebida para a parte final da reportagem trouxe muita personalidade, uma leveza. Nesse sentido, talvez pudesse terminar o texto nesse ponto. Mas, como a autora voltou para a narrativa, eu acrescentaria uns pequenos detalhes (destacarei em negrito a seguir) para esse fechamento, justamente reforçando essa leveza existente em toda a narrativa apresentada.

O texto original termina assim: “Tradição familiar; pressão dos poderosos e conversas entre o coração e o estômago: a ligação emocional que os brasileiros criaram com o café renderia uma discussão longa e, de preferência, na companhia de uma grande xícara”.

Eu pensei dessa forma:   “Seja na tradição familiar, por pressão dos poderosos e conversas entre o coração e o estômago: a ligação emocional que os brasileiros criaram com o café rende uma discussão longa e, de preferência, na companhia da bebida, seja em copo de requeijão, canecas ou em uma grande xícara.  Vai um cafezinho?”

Na resenha do filme Batman eu acrescentaria no trecho “(…) O Bat-Sinal é um estandarte de medo (…)” a conexão “visto como” após o Bat-Sinal é. Ficaria assim: “O Bat-Sinal é visto como um estandarte do medo”. Mais para frente quando menciona “o agente do MI6” acho importante mencionar o é que o MI6.  Pode ser que algum leitor ainda não saiba.

A reportagem sobre a ascensão da música alternativa durante a década de 90 também faz um ótimo trabalho de pesquisa e utiliza uma fonte, em específico, muito boa (a Natalia Garcia, jornalista cultural e fundadora do ROCKNBOLD), mas como sugestão, para não ficar muito dependente dessa fala, é sempre importante variar as fontes. A autora menciona outra fonte (a jornalista Stephanie Horas), mas fiquei na dúvida se ela é uma jornalista especialista na temática ou uma fã do gênero que é jornalista; talvez trazer mais informações sobre ela ajudaria.

Como o foco é essa ascensão (aliás tiraria “extrema ascensão” e deixaria somente ascensão) a partir dos anos 90 seria muito pertinente ouvir os fãs, como pessoas que nos anos 90 eram adolescentes e começaram a curtir o estilo, e que fazem até hoje na sua maturidade.

Uma outra observação é que no trecho sobre a febre do grunge e a citação das bandas Linkin Park, Foo Figters, a autora usa uma aspa em uma fala indireta da fonte, o que não é comum. Colocamos aspas no começo e final de um trecho direto, ou seja, quando transcrevemos a fala da fonte. Imagino que possa ter sido um erro de digitação mesmo.

A reportagem sobre o uso de psicodélicos no tratamento de doenças e distúrbios mentais é muito objetiva quando já no “abre” traz dados que mostram o problema, formas de tratamento tradicionais e essas novas experiências, que é o foco da pauta em si.

Sempre defendo que o jornalista tem que pecar pelo excesso. Como assim? Ele precisa explicar tudo porque não sabemos o grau de conhecimento do nosso público sobre o tema, principalmente em pautas científicas.

Nesse sentido, quando a autora escreve “escitalopram” e “betacarbolinas” é importante colocar entre parênteses logo em seguida um termo ou uma pequena explicação que já deixe aquilo claro, mesmo que, ao longo da reportagem, isso vá ser esclarecido.

Ressalto também que o uso da palavra magia em um determinado trecho pode induzir o leitor a uma interpretação diferente da real intenção da reportagem, que é mostrar as potencialidades desses tratamentos alternativos. Veja: “E aqui que a magia entra: alguns dos efeitos possíveis são a alteração de pensamento e da memória, mudança na percepção das cores, tempo e luminosidade, alucinações visuais e aumento da introspecção. Esses também podem acompanhar paranoia, medo, dificuldade de comunicação, vômitos, vivências físicas e psicológicas de traumas”.

Normalmente o uso do termo magia é envolto em uma “aura” boa, é como se tudo se transformasse para o bem, no entanto, nas exemplificações não temos apenas “coisas boas”, há efeitos não agradáveis. Penso que quando o público ler que os efeitos possíveis podem ser “alucinações visuais, aumento de introspecção, paranoia…” pode gerar mais medo, ou seja, uma visão de que esses tratamentos psicodélicos “são perigosos”, portanto, poderia ser interessante suprimir a parte da magia e ir direto ao ponto “alguns dos efeitos possíveis são a alteração de pensamento (…)”.

Por fim, quando a autora menciona uma pesquisa da revista científica New England Journal of Medicine sobre o uso da psilocibina, fecha a ideia e, em seguida, abre um intertítulo “Estudo clínico: psilocibina como antidepressivo” para só aí apresentar os dados da referida pesquisa.

O uso do intertítulo é pertinente, mas para a melhor fluidez do texto o mais recomendado é que viesse antes da apresentação da pesquisa. Assim, a sequência seria: intertítulo (destacado em negrito), a apresentação da pesquisa e os dados da mesma sem ocorrer a quebra. “Estudo clínico: psilocibina como antidepressivo. Uma pesquisa publicada em abril deste ano pela revista científica “New England Journal of Medicine” (…) Foram selecionadas 59 pessoas, de 18 a 80 anos de idade (…)”.

 

 

*Carla de Oliveira Tôzo é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, doutoranda em Comunicação pelo PPGCOM-ECA-USP, professora universitária no Centro Universitário FMU|FIAMFAAM. Foi repórter freelancer em revistas cobrindo temas ligados a beleza, saúde e estética.

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