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Realidade ou ficção: onde se encaixam os romances?

Como as comédias românticas dos anos 1990 e 2000 influenciaram a forma dos millennials amarem

As comédias românticas dos anos 1990 e 2000 marcaram época: as declarações de 10 Coisas que Eu Odeio em Você (10 Things I Hate About You, 1999), as paixões entre melhores amigos como em De Repente 30 ( 13 Going on 30, 2004) e os amores destinados a acontecer em Um Lugar Chamado Notting Hill (Notting Hill, 1999). Todos esses clichês tiraram suspiros dos telespectadores. No entanto, fora das telas, os relacionamentos não acontecem de forma tão performática, na verdade, estão bem longe disso… Mas será que continua-se esperando, inconscientemente, pelo príncipe e sua declaração de amor? 

Momento em que Patrick faz uma serenata para Kat, na frente todos os alunos da escola. [Imagem: Reprodução/ Walt Disney Pictures]
Momento em que Patrick faz uma serenata para Kat, na frente todos os alunos da escola. [Imagem: Reprodução/ Walt Disney Pictures]


Como funcionam as comédias românticas

Há décadas, a mulher não precisa de mais ninguém para resgatá-la, mas a pressão social de cumprir o papel de amante, acompanhante ou simplesmente não ficar “encalhada” ainda paira por aí.  Porém, não basta estar acompanhada, é preciso viver um romance de cinema: um amor que floresça como melhores amigos,  como inimigos ou à primeira vista.  Paradoxalmente, o importante em um amor cinematográfico é ser feito para acontecer, mas nunca ser planejado.

Para entender melhor: uma das primeiras premissas para ter um amor de cinema é acontecer de repente. Ou melhor, simplesmente acontecer. Seria uma heresia romântica, nos anos 2000, um casal nascer como um casal em um filme. Isso significa que a paixão deve surgir quando os personagens menos esperam. Ou seja, aquele caso de “eu nunca namoraria aquela pessoa” e, depois de alguns anos, estarem se casando em Manhattan. Sim, é cativante, mas raro de ocorrer. Porém, isso é o que faz uma comédia romântica ser uma comédia romântica: a trama idealizada e não realística.

Carrie, protagonista de Sex And the City, se preparando para casar. [Imagem: Reprodução/ HBO Films]
Carrie, protagonista de Sex And the City, se preparando para casar. [Imagem: Reprodução/ HBO Films]
Por fim, vocês precisam ser almas gêmeas. Se todas as constelações não se formaram especialmente para juntar dois personagens, nem vale a pena tentar. Tudo tem que ser muito intenso, mesmo que perigosamente. No cinema, é preferível um relacionamento tóxico e demandante, do que algo saudável e calmo. Óbvio, como dizem: “se não, não tinha filme”.

Fora das telas

E na vida real? Nada disso é verdade? O amor é um sentimento provocado quimicamente e  que diz muito sobre conforto, segurança e reciprocidade. Na verdade, perseguir alguém por anos é razão para uma medida protetiva, não para um amor verdadeiro. Então, até que instância replica-se esses comportamentos oriundos do audiovisual? 

A ficção cumpre um papel fundamental na vida humana: os mitos, assim como os filmes, sempre foram uma forma de exercitar a criatividade e gerar catarse. É socialmente, e pela arte, que criamos nossos parâmetros. A noção de belo, feio, atrativo ou romântico é montada pelos arredores: idealiza-se a imagem do príncipe em seu cavalo, pois foi isso que foi ensinado.

Segundo Keith Oatley, professor de psicologia da Universidade de Toronto, nós transferimos os conhecimentos adquiridos na ficção para a realidade. No entanto, ao realizar este movimento inconsciente, não levamos em consideração que o ambiente do filme não é o mesmo que enfrentamos na nossa vida. Dessa maneira, compartilhar um perfil romântico doente ensinaria as gerações a replicá-los no cotidiano?

Não pense que o amor ideal sempre foi achar sua alma gêmea, se casar com ela, construir uma família e passar o resto da vida juntos. A partir de uma análise renascentista, o amor idealizado dos sonetos era totalmente platônico: uma princesa que recebia os elogios de um homem inferior socialmente, que jamais conseguiria a donzela. Casamento não era sinônimo de paixão: tratava-se de um trato comercial, como qualquer outro. Já o amor era aquilo que não se realizava.

Ao passo que, no romantismo, os finais nunca eram felizes: os jovens se embreagavam tanto de amor, que cometiam suicídio, como os milhares de casos após o sucesso de Os sofrimentos do jovem Werther (1774). Dessa forma, o ideal de relacionamento que montamos atualmente pertence exclusivamente a este período e surge a partir das expectativas sociais e artísticas de nosso tempo.

Bridget Jones após desilusões amorosas [Imagem: Reprodução/ Universal Studios]
Bridget Jones após desilusões amorosas [Imagem: Reprodução/ Universal Studios]

A ilusão de um amor intenso

Até que ponto replicar todas as expectativas audiovisuais na realidade é saudável? Claro, sonhar é o ponto de partida para saber o que se quer. Mas idealizar algo prejudicial, exclusivamente por interferências externas, é doentio. Quando se assiste Um Lugar Chamado Notting Hill  pode se desejar viver aquilo, mas vamos pensar pelo lado racional: quem realmente gostaria de passar meses sofrendo por alguém e quando finalmente supera aquele caso, ele ressurge e destrói toda sua evolução? Além disso, quem gostaria de estragar o casamento da melhor amiga para conseguir a mocinha, como em O Melhor Amigo da Noiva (Made of Honor, 2008)?

Todo esse sofrimento não parece se pagar, quando se cresce, por um relacionamento. Talvez, seja só uma visão cética e racional, que claramente não precisa e nem deve ser explorada em comédias românticas. Contudo, essa visão cartesiana pode evitar sofrimentos. 

Lloyd faz declaração de amor em cena de Digam O Que Quiserem. [Imagem: Reprodução/20th Century Studios]
Lloyd faz declaração de amor em cena de Digam O Que Quiserem. [Imagem: Reprodução/20th Century Studios]
Muitas vezes, os relacionamentos não parecem com nada que já passou em uma tela de cinema. Porém, está tudo bem, porque a vida real não tem roteirista algum.

Assim,  mesmo que o que deseja-se seja: em um dia de chuva, após um término doloroso e dez litros de sorvete, o amor da sua vida apareça encharcado na janela cantando sua música favorita, como no filme Digam O Que Quiserem (Say Anything, 1989), pode ser que isso nunca aconteça comigo, com você ou com ninguém fora das telas… O que resta é aceitar essa história como um capricho artístico que idealiza-se sobre, mas não algo factual pelo qual luta-se.

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