Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

‘Heartstopper’: dos quadrinhos para a Netflix

Com adaptação fiel aos livros, Heartstopper se torna um fenômeno mundial e paralisa corações.

A série Heartstopper (2022-) foi um dos lançamentos mais esperados de 2022, especialmente pelos fãs das histórias em quadrinhos de Alice Oseman, que serviram de base para a produção da Netflix. E, depois de tanta expectativa, podemos afirmar com todas as letras: VALE A PENA! 

 

Muito mais do que uma história clichê

A trama romântica tem como protagonistas dois garotos, Charlie Spring (Joe Locke), um jovem tímido que carrega uma imensa insegurança em decorrência do bullying que sofreu na escola ao ter sido forçado a se assumir gay. E Nicholas Nelson (Kit Connor), quem, além de ser o astro do time de rúgbi escolar, é um menino gentil e divertido que mergulha em um processo de autodescobrimento, depois de conhecer Charlie.

 

 

A imagem apresenta fundo amarelo com folhas azuis, do lado direito, e o contrário no lado esquerdo. Há dois garotos sentados um em cada lado, se olhando, o da esquerda branco e loiro de braços cruzados e usando uma gravata azul listrada com camisa branca dobrada nos cotovelos, e o da direita branco de cabelos pretos cacheados, de blazer verde e blusa verde.
Na história, Charlie e Nick constroem uma relação especial e inusitada, enfrentando a opinião contrária de seus colegas, que não entendem como garotos tão diferentes possam ser tão compatíveis.
[Imagem: Divulgação/Netflix]

 

Na história, Charlie e Nick constroem uma relação especial e inusitada, enfrentando a opinião contrária de seus colegas, que não entendem como garotos tão diferentes possam ser amigos.

O primeiro encontro dos protagonistas se dá a partir da formação de uma dupla para uma aula que frequentam juntos, a qual acaba forçando-os a se sentarem lado a lado todos os dias. Mesmo com essa rotina estabelecida e com os muitos “oi!” (cumprimento clássico entre os dois) nos corredores da escola, o ponto chave para a aproximação dos colegas é o enfrentamento de Nick com Ben Hope (Sebastian Croft), o ex-namorado secreto — e absolutamente cruel — de Charlie. Ao se deparar com Ben beijando seu colega de classe à força, Nicholas parte em sua defesa. Após esse episódio, há a construção de uma amizade sincera entre os protagonistas e indícios de um “crush”, que, depois, se transforma em um namoro. 

 

Representações reais 

A escolha de elenco sempre envolve uma grande responsabilidade, especialmente, quando se trata da adaptação de um romance em formato de quadrinhos, nos quais já se formou a identidade visual dos personagens. Apesar do desafio de conciliar as expectativas do público com as demandas da produção, a decisão final dos atores principais de Heartstopper agradou muito a mim e aos fãs da história, uma vez que, além da grande semelhança com as ilustrações, eles são de fato adolescentes, apenas tendo completado 18 anos recentemente. Esse ponto me surpreendeu positivamente, pois a decisão diverge da maioria dos seriados adolescentes cujos atores são adultos com mais de 20 anos interpretando adolescentes no ensino médio. Exemplos claros dessa representação são as séries Riverdale (2017-) e Elite (2018-), que transmitem estereótipos não condizentes com a realidade dos jovens em fase de crescimento.

 

 

Na imagem, há nove jovens de diversas etnias segurando papéis escrito "Heartstopper", os roteiros. Cada um utiliza uma roupa colorida diferente, e duas deles estão sentadas no chão.
A representatividade, tanto dos personagens, quanto dos atores que os interpretam, é essencial para uma maior identificação do público. [Imagem: Divulgação/Netflix]

 

Outro aspecto importante está na representatividade nos personagens LGBTQIA+, os quais são interpretados por artistas da comunidade, como o próprio Joe Locke, que interpreta Charlie Spring, e a maravilhosa Yasmin Finney, que vive Elle Argent na trama. 

Especialmente entre o público jovem, a demanda por representatividade efetiva é cada vez mais forte, visto que apenas abordar as vivências dessas pessoas não é o suficiente: deve-se lutar por mais oportunidades para atores e atrizes LGBTQIA+. 

 

Dos quadrinhos para as telas

Não se pode negar na série a minuciosa fidelidade com as HQs, que pode ser conferida em muitos — muitos! —paralelos, desde diálogos entre os personagens a roupas escolhidas para cada um.

 

A imagem é dividida em duas partes. Na superior, há um desenho em preto e branco de dois pés, o da direita usando tênis all star e o da esquerda usando vans, em um piso de grama. Embaixo, há dois pés reais, da série Heartstopper para a Netflix, o da esquerda de meias e na ponta dos pés, e o da direita de tênis vans.
A série se aproxima das ilustrações até nos mínimos detalhes, o que oferece uma experiência muito mais gratificante para os fãs dos livros.
[Imagens: Reprodução/Twitter/@GUNSTHETIC]

 

Dito isso, sinto-me na obrigação de fazer menções honrosas a algumas adaptações observadas em Heartstopper que conseguiram trazer a essência do livro para as telas. 

Para começar, a adição de efeitos visuais inspirados nas ilustrações de Alice Oseman, como as icônicas folhas e flores ao vento, e a maneira como foram distribuídas com o intuito de transmitir sentimentos nas cenas. Além disso, a presença constante das mensagens de texto para a interação entre os personagens acompanha um ponto característico do livro. Por último, uma outra pequena ponte entre a série e os quadrinhos está nos nomes de alguns episódios, que fazem referência aos capítulos escritos. 

Mesmo com tantas semelhanças, é claro que houveram algumas modificações, principalmente acerca das figuras secundárias e seus espaços na obra. Entretanto, tais mudanças, só contribuíram para o enriquecimento da história, a partir da introdução de maior representatividade, e um melhor desenvolvimento da história, já que nos permitem conhecer mais experiências diversas de vida e outros pontos de vista. Por exemplo, o arco do melhor amigo de Charlie, Tao Xu (William Gao), tem uma construção muito maior na série da Netflix do que nos livros, o que possibilita uma análise mais completa de sua personalidade e, consequentemente, de suas atitudes. 

 

Temas sérios, mas nada de “textão”

A adaptação conta com personagens cativantes e uma história de aquecer o coração, espelhando fielmente sua essência leve e apaixonante. Sendo uma narrativa LGBTQIA+ que trata de autoconhecimento, e ambientada no ensino médio, o público tende a esperar um tom trágico, comumente empregado em obras desse perfil. No entanto, a série aborda esse tema de maneira muito inocente, sem o peso sufocante que a sociedade aplica sobre o chamado “sair do armário”. Ao meu ver, esse é o grande diferencial de Heartstopper: conseguir tratar de temáticas sérias sem aderir a práticas panfletárias, pelo contrário, atendo-se às particularidades dos personagens e à relação entre eles. 

Podemos perceber a relevância de certos assuntos sem a necessidade de uma espécie de locutor enunciando discursos que já caíram no senso comum e que, por sua vez, perderam seu impacto. Nesse sentido, existe uma sutileza ao mencionar tópicos como o bullying, a transfobia e a importância do apoio familiar por meio de flashbacks e cenas que dizem por si só. Um exemplo desse tratamento delicado pode ser observado nas cenas de Charlie com sua irmã, Tori Spring, interpretada pela atriz Jenny Walser.

 

Panorama geral 

Heartstopper entra na minha lista de essenciais de 2022 pelo fato de traduzir o sentimento de muitas pessoas LGBTQIA+ que se descobrem durante a juventude e, também, por oferecer uma oportunidade para jovens encontrarem nas telas algum tipo de identificação com si mesmos. Além de ocupar um lugar de destaque ao contar uma história de autoconhecimento na adolescência de maneira harmoniosa e inovadora, a série desestigmatiza a ideia de que existe uma idade certa para discutir temas como sexualidade e gênero. 

Por isso e muitos outros motivos, não deixem de conferir essa série encantadora, já disponível na Netflix! Porém, tentem não se apaixonar tanto pelos personagens, para não sofrer como eu quando acabarem de assistir aos episódios e não tiverem mais conteúdo deles para consumir!

 

Imagem de capa: [Reprodução/Netflix]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima