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A visibilidade do basquetebol feminino profissional no Brasil

No país que teve Hortência, Paula e Janeth, a expectativa é de uma modalidade reconhecida e incentivada, porém a realidade é diferent

No Brasil, há uma instituída cultura monoesportiva que desvaloriza a prática de modalidades alternativas ao futebol masculino, como o basquete. Essa desconsideração, presente nas categorias profissionais, acentua-se intensamente no âmbito feminino, cuja visibilidade é impactada em um país com tradição no esporte, apesar da falta de reconhecimento. O que falta, então, para que o basquetebol feminino profissional seja visto e incentivado no Brasil?

O papel da mídia

Ausente nas Olimpíadas pela primeira vez desde a edição de Barcelona 1992, o basquete feminino tem história no Brasil: são duas medalhas olímpicas, duas no campeonato mundial e doze no pan-americano. Uma geração marcada por lendárias atletas, como Hortência, Magic Paula e Janeth Arcain, inspirou muitas das fãs a se inserirem na modalidade, sobretudo ao ser destacada pela mídia televisiva da década de 1990. Contudo, os meios de comunicação pouco trataram dela nas últimas décadas, embora este cenário esteja em progresso.

   Olimpíadas       Campeonato Mundial      Jogos Pan-Americanos
      Ouro                –                      1 (1994)               4 (1967, 1971, 1991 e 2019)
      Prata           1 (1996)                            –               4 (1959, 1963, 1987 e 2007)
    Bronze           1 (2000)                      1 (1971)               4 (1955, 1983, 2003 e 2011)
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Desde 2020, a parceria da Liga de Basquete Feminino do Brasil (LBF)com a TV Cultura significa a transmissão programada em televisão aberta dos jogos, um meio de consolidar novos públicos e registrar a instituição na mente do telespectador. Caso o fã da LBF deseje assistir uma partida na tarde de domingo, ele saberá em qual canal se conectar.

Atletas do Ituano Basquete celebram o título da temporada 2020/2021. [Imagem: Reprodução/Juca Ferreira/Ituano Basquete]

A tradição do esporte também tem suas raízes no interior do estado de São Paulo, em cidades como Americana, Sorocaba e Santo André. O Campeonato Nacional de Basquete, predecessor da LBF e disputado entre 1998 e 2010, contou com treze edições, sendo dez delas vencidas por equipes paulistas. O Ourinhos/UNIMED chegou em sete finais consecutivas, um exemplo da falta de competitividade e a necessidade de incentivo privado para a permanência na modalidade e a sua dispersão nas demais regiões do país.

Nesse sentido, Matheus Moura, assessor de imprensa da LBF comenta que “uma das preocupações da Liga é conectar-se ao público local de onde ela está inserida, para além das quadras.”,através de ações sociais promovidas nas próprias comunidades. A Fundação de Amparo ao Esporte no Município de Araraquara (FUNDESPORT Araraquara), é um exemplo, pois ela busca desenvolver oportunidades de treinamento para alto rendimento em competições para a comunidade, como visto na conquista do campeonato paulista pelo Sesi Araraquara Basquete em 2021. 

É através dessa ligação que o basquete feminino está sendo reestruturado no Brasil, porém apesar dos patrocinadores e programas sociais, como a formação de jovens atletas no LBF nas Escolas, ainda é árdua a busca pela visibilidade no país. Para Vladir Lemos, Diretor de Esportes na TV Cultura, a falta de um sólido plano nacional de esportes acomete diretamente a falta de incentivos tanto para a prática da modalidade como para a cobertura da mídia, uma vez que a imprensa se interessa em cobrir aquilo que a motiva.Lemos citou como exemplo o título da Champions League das Américas, vencida pelo basquete do São Paulo FC, que instigou a mídia a acompanhar o time de perto.

Por meio do Ministério da Cidadania, a Lei de Incentivo ao Esporte direcionou recursos para a LBF, de modo que, em 2019, a liga tenha conseguido atrair patrocinadores. Ainda assim, este é apenas o início de um projeto de múltiplas etapas, afinal, o investimento em uma criança hoje pode resultar em uma década de medalhas de ouro e uma possibilidade de expandir a cultura do basquete no Brasil.

Um caminho cheio de percalços

Para incentivar a aproximação dos holofotes, a LBF iniciou um processo de renovação em 2017, por meio do qual a liga garantiu sua autonomia e tornou-se uma instituição de referência no basquete feminino profissional ao conquistar a certificação ISO 9001 e definir um planejamento para as próximas temporadas. A norma padroniza a gestão e organização de empresas, para a garantia da entrega de um serviço com qualidade. Por sua vez, a preparação do calendário do basquete feminino permitiu um trânsito das atletas que atuavam nas quadras internacionais, como a Raphaella Monteiro, LBF em 2017, melhor jogadora da LBF (MVP) emF 2019,  duas vezes MVP da liga portuguesa e integrante do Ituano Basquete na atual temporada.

No entanto, foi um movimento criado pelas próprias atletas que ganhou destaque nas redes sociais: o #LevanteABolaDelas. A mobilização surgiu em 2020 como uma reivindicação pela igualdade feminina e ainda mais, pelo apoio e visibilidade ao basquete feminino. Matheus Moura comenta sobre a presença da LBF na causa: “ampliamos a voz delas porque também desejamos uma liga mais reconhecida e devidamente valorizada. Nosso trabalho nesse sentido é constante.”. Assim, a liga se une à uma ação cujo objetivo é de romper uma barreira sistêmica e enraizada na sociedade brasileira: a do machismo.

Érika de Souza, multicampeã da LBF, WNBA e Liga Espanhola, e fundadora do movimento #LevanteABolaDelas [Imagem: Reprodução/Julian Campos]

Ainda instituída na maioria das estruturas sociais do Brasil, a desigualdade de gênero escancara uma realidade intragável para o basquete brasileiro: a falta de respeito e de acesso aos direitos, agrava ainda mais a condição das precárias infraestruturas e materiais raramente disponíveis para usufruto das atletas profissionais. A campanha foi um primeiro passo para o engajamento na luta por investimento na modalidade.

Sem patrocínios e apoio governamental, a ideia de seguir uma carreira no esporte carece de motivações. De acordo com Edineia Fernandes, técnica de basquetebol feminino de base em São Bernardo do Campo, o descaso com a modalidade surge desde cedo, visto que não existe uma competição de base para o feminino – como a LDB (Liga de Desenvolvimento do Basquete) no masculino – e os poucos treinos que existem não dispõem de recursos suficientes, como equipamentos ou tempo. A treinadora ainda levantou um ponto elementar na fase juvenil: “sem receber um auxílio, um salário digno, como é que as jogadoras se dedicam aos treinos? Os treinos são [por exemplo] três vezes por semana e elas têm que trabalhar para ajudar nas contas da casa, não se forma profissional assim”.

Em um lado de esperança, a modalidade passa por uma reconstrução de médio a longo prazo. Através de projetos como a já mencionada LBF nas Escolas, a LBF Social e o Cestinhas do Futuro, visa deixar um legado de cidadania, de desenvolvimento social das comunidades e acima de tudo, de reconhecimento dessa modalidade.

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