Já pensou se a internet acabasse?
Por: Cesar Isoldi (ceisoldi@gmail.com)
Alô… al… alô! Estou tentando mandar essa mensagem, espero que algum dia ela chegue.
Meu nome é Cesar, falo do futuro. Mas não, não se impressionem. O futuro não é tão incrível como vocês devem pensar. Por quê? Bem, o nosso maior pesadelo finalmente aconteceu: a internet caiu no mundo todo.
Os especialistas ainda estão perplexos. Explicaram pela televisão que isso é realmente inexplicável. A internet foi planejada para ser altamente confiável e capaz de sobreviver a toda uma sorte de ataques. Segundo ouvi, para que duas máquinas se conectem via internet seria necessário que existisse apenas um caminho – que poderia ser fibra óptica, wifi, cabo axial e etc. Ou seja, mesmo que vários nós dessa rede fossem eliminados, a comunicação deveria ser garantida.
Mas não foi. Contrariando a todos, acabou acontecendo mesmo. Ainda é um mistério se foi um hacker, embora essa seja a hipótese mais provável segundo quem investiga o caso. É claro que os esforços para recuperá-la vêm sendo feitos de todas as maneiras e em todo o mundo, mas nada vem dando resultado por enquanto e os países e as empresas já começaram a se reestruturar.
Até aq…
Até aqui, a única coisa que nós temos sentido é o colapso. Autoridades têm aparecido na TV com frequência para tentar tranquilizar as pessoas. Assim que a internet acabou, ou melhor, caiu — todos se recusam a usar a primeira expressão —, as bolsas de valores despencaram, inúmeras empresas de tecnologia entraram em verdadeira queda livre, indo à falência e colocando centenas de pessoas nas ruas.
Sim, estamos em uma crise econômica fortíssima. Acho que é até difícil para vocês imaginarem o que aconteceu nos bancos nos primeiros dias. Foi um verdadeiro caos. As pessoas, é claro, sentiram medo e foram cuidar do seu dinheiro. Mas, como vocês já vêm sentindo, a maioria das transações nos bancos são feitas pela internet, e não há funcionários suficientes para atender a todos nas agências. São filas e mais filas, gente irritada e tumultos frequentes.
As coisas nã…
As coisas não estão fáceis. Ninguém quer aceitar, mas aos poucos os especialistas vão admitindo que essa situação será permanente. As grandes potências já estão tendo que repensar toda a estratégia econômica, que estava ligada a serviços online. Os presidentes e ministros nunca desejaram tanto não terem sido eleitos. Os movimentos sociais já começaram a atacá-los.
Ah, sim, quase me esqueço de falar deles. Os movimentos sociais perderam um pouco da capacidade de mobilização, é verdade. Equilibrar forças com instituições políticas e exércitos graças ao apoio de pessoas de todo o mundo, que chegam através da internet, parece ter se tornado um passado meio distante. Mas a vida tem que continuar e eles estão aos poucos começando a se reunir nas ruas para criticar governos e imprensa. Uma das principais pautas é a transparência política. Os atos dos nossos governos voltaram a ser obscuros, já que a maioria dos dados eram encontrados pela internet.
Sobre a imprensa, agora temos apenas o rádio, a TV e os jornais impressos para buscarmos saber o que está acontecendo no resto do mundo — confesso que nunca esperei tanto uma capa quanto espero a que anuncie a volta da internet. Mas a grande mídia já vinha em descrédito desde a popularização da internet. As pessoas não perderam aquele sentimento crítico e têm buscado outras fontes de informação, além de irem para as ruas se manifestar. Em todo o mundo as praças estão sendo ocupadas cada vez mais e por mais gente.
Tem at…
Tem até um grupo de pessoas que defende uma espécie de volta ao passado, mas não é o que parece que vai acontecer. Nossa geração nasceu no meio da internet, é impossível que a próxima simplesmente não saiba o que foi isso. As coisas não são tão fáceis quanto parecem e, para falar a verdade, ainda não temos saída. Como eu disse, estamos tentando nos reestruturar, mas o desastre ainda é recente e a população ainda sequer aceitou que a internet não vai voltar.
Não é incomum ver gente ligando seus velhos computadores para tentar fazê-los voltar à vida. Eu mesmo, nesse momento, enquanto tento mandar essa mensagem. Tenho esperança. Algum dia ela chega.
*Fontes: professor Marcio Moretto Ribeiro, da EACH; Pedro Frizo, economista pela ESALQ.