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Agonia de uma mulher oprimida

Bruna Buzzo Após um grande desfile de patrocinadores, as ondas de alguma praia no Rio Grande do Sul iniciam os longos créditos de Dias e Noites, novo filme de Beto Souza, produzido e estrelado por Naura Schneider. Se o começo do longa é cansativo e os 80 minutos de ação não são tão dinâmicos, a …

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Bruna Buzzo

Após um grande desfile de patrocinadores, as ondas de alguma praia no Rio Grande do Sul iniciam os longos créditos de Dias e Noites, novo filme de Beto Souza, produzido e estrelado por Naura Schneider. Se o começo do longa é cansativo e os 80 minutos de ação não são tão dinâmicos, a história de Clotilde (Naura Schneider) se repete em seus dramas com os homens e a sociedade em que vive.

Baseado no livro Clô & Dias e Noites, de Sergio Jockyman (que por sua vez é baseado em uma história real), o filme conta a trajetória desta forte mulher durante 30 anos de sua vida, de 1957 até o final da década de 70. Obrigada pelos pais a se casar com Pedro Ramão (Antonio Calloni), um rico fazendeiro que esconde suas grosserias por trás de sua elevada posição social, Clô vive um casamento que se arrasta por incontáveis agressões físicas e morais.

Na trama, o desejo de Pedro por um filho homem faz com que leve a senhora Firmina (Irene Brietzke) para sua casa. Ela aplicará supersticiosas regras à vida de Clotilde para que dê a luz a um menino. Após o nascimento de Joana (Natalia Hizajim, quando menina e Nathalia Schneider, já adulta), primeira filha do casal, a vida da protagonista torna-se mais difícil e rígida, sendo submetida à presença constante e opressora de Firmina, atenta aos movimentos da moça e informando-os ao patrão.

Em meio à rigidez mítica de Firmina, a crise entre o casal se agrava e o temperamento de Pedro vai ficando cada vez mais difícil e violento. Após dar a luz ao tão desejado filho homem, Clotilde sai de casa, distanciando-se do marido e dos filhos, pelo amor dos quais lutará por toda sua vida.

O forte deste filme é a reflexão que provoca sobre a violência domestica e a opressão às mulheres. Clô é tratada pelos homens durante toda sua vida como um objeto e mercadoria. Aos amantes, entrega-se por paixão ou por dinheiro, não percebendo os interesses que alguns deles têm por trás disso. À mãe e à avó diz que com elas só aprendeu a ser esposa e não sabe viver de outro jeito.

Este filme reflete ainda sobre o contexto político e social da época e a forma como a ditadura militar influenciou a vida das pessoas. Do irmão comunista (Rafael Sieg) de Clotilde ao rico senhor (José de Abreu) que precisa exibir uma bela amante na sociedade, cria-se um retrato de época que nos permite perceber que quase nada mudou nos últimos 20 e poucos anos.

Apesar dos fatores louváveis, o filme é um pouco comum e não ultrapassa algumas barreiras reflexivas que poderiam torná-lo melhor. A trilha sonora é um pouco exagerada, mas ajuda a criar tensões em vários pontos. O charme da narração em primeira pessoa, em que Clotilde nos conta sua história, perde sua graça em alguns pontos, mas tem seus momentos de brilho com frases que revelam um pouco mais do pensamento e mentalidades da época. “Me tornei mercadoria. Não poderia voltar para o homem que me vendeu. Resolvi ficar com o que havia me comprado.”

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