Alguma Coisa Assim (2018) é o nome do filme mais recente de Esmir Filho e Mariana Bastos. É também o primeiro alerta acerca do que a história se trata: uma obra edificada sobre peças em constante movimento.
Tudo começou em 2006, e o que hoje se tornou um longa metragem na verdade foi construído durante 12 anos e três atos. A princípio, a película era um curta metragem que contava a vida de dois adolescentes no auge da descoberta de suas identidades. Em 2013, novamente a equipe se reuniu e decidiu dar continuidade à história dos jovens protagonistas, dessa vez contando as mudanças em suas vidas “sete anos depois”, título que nomearia o segundo filme, do último encontro. Diferente do curta de 2006, que foi muito bem recebido em Cannes, a continuação de 2013 não chegou a ser lançada. Os diretores optaram por guardar todo o material filmado e usá-los em um só filme, na época sem previsão de estreia. Em 2017, fecharam uma parceria que possibilitou a coprodução entre Brasil e Alemanha. Mais de uma década depois, a história finalmente poderia ser concluída.
O resultado, que chega às telas dia 26 de julho, traz a confortante sensação de que valeu a pena o tempo investido. O filme ー assim como sua história ー fala sobre construções e demolições; consegue mexer com o íntimo do público e o fazer refletir acerca de incertezas inomináveis. Alguma Coisa Assim narra a relação entre Caio (André Antunes) e Mari (Caroline Abras). Dois amigos de longa data que se reencontram em Berlim após anos separados. Caio é um recém divorciado que ainda sofre por seu ex-marido e está fazendo residência médica em uma universidade Alemã. Mari trabalha como decoradora em uma imobiliária e vive como nômade, morando por curtos períodos em cada casa que decora.
Ao se reverem, os dois personagens passam a compartilhar as experiências que adquiriram enquanto estiveram separados, bem como recordar parte das coisas que já viveram juntos. Entre as cenas que se passam em três tempos distintos ー 2006, 2013 e 2016 ー os dois acabam se aproximando de um jeito novo e Mari engravida. A decisão e ponto de tensão do filme, agora, é se essa gravidez será ou não interrompida.
Além de tocar em questões atuais tão necessárias, como o direito ao aborto e o casamento homoafetivo, o que mais impressiona no filme é como a narrativa é forjada de modo dinâmico. Do vai e vem dos cortes temporais até às significações que naturalmente tenderiam a ser óbvias, nada é dado como certo ou rígido; nem mesmo se de fato os protagonistas são amigos ou não, como falou Esmir Filho à imprensa.
Talvez seja exatamente esse modo metamórfico de conduzir o filme que explique Alguma Coisa Assim como uma narrativa em constante construção. Tal ideia é corroborada através da trilha sonora assinada por Lucas Santtana, que sutilmente insere sons de ferramentas de construção durante todo o longa. Outro fator que salta aos olhos, e que tem Caroline Leone como responsável, é belo encadeamento de cenas que agrupam mais de dez anos de filmagens em perfeita sincronia.
O resultado de todo o trabalho é um filme que enche os olhos pelas belas imagens e especialmente nos faz refletir sobre o tempo e a rigidez das coisas ー e até permite terminar esse texto com um substantivo abstrato.
Alguma Coisa Assim estreia dia 26 de julho. Confira o trailer:
por Matheus Oliveira
oliveiramatheus123@gmail.com