Por Giovanna Chencci,
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De origem italiana, mas com nome francês, o ballet encanta os espectadores há mais de 500 anos. A dança, que só foi amplamente difundida no século XIX, teve seu início na corte italiana por volta do ano 1490. Somente tempos mais tarde, quando a italiana Catarina de Medicis casou com o rei Henrique II e se tornou rainha da França, é que o ballet foi de fato introduzido na corte francesa. Desde então, a dança vem sofrendo diversas alterações, mas sem nunca deixar as suas maravilhas de lado.
No seu início, o ballet contava, além dos movimentos da dança, também com a poesia e com canções. Os espetáculos chegavam a durar horas, principalmente quando se tratava das apresentações do maior amante da dança no século XV, o rei Luis XIV (Rei Sol). Já em 1661, foi fundada, por esse mesmo rei, a Academia Real de Ballet, onde foi criada a base do ensino do ballet clássico, as cinco posições dos pés.
Não foi do dia para a noite que o ballet se tornou a dança que conhecemos hoje. Foram séculos de modificações que o fizeram ter as suas características mais marcantes. Fatos como presença das mulheres nos palcos e a dança nas pontas dos pés só foram de fato introduzidos no decorrer dos anos.
Não é a toa que essa dança ganhou destaque em muitos filmes que vemos por ai. O ballet clássico, principalmente, foi base para muitos enredos que buscaram retratar desde as dificuldades pessoais do bailarino até o seu maravilhoso desempenho nos palcos.
Billy Elliot
Billy Elliot (1999), dirigido por Stephen Daldry, conta a história de um menino de 11 que anos que vive em uma pequena cidade da Inglaterra dedicada a mineração de carvão. O pai de Billy, muito conservador como todos em sua vila, incentiva o filho a treinar boxe, porém logo o menino se vê em contato com o ballet e se fascina com a dança. Apoiado pela professora do clube da cidade, Billy começa a dançar ballet escondido de seus familiares, com medo de ser repreendido. E é justamente isso que acontece. Seu pai e seu irmão não aceitam que Billy queira praticar ballet e não boxe, afinal, para a família do garoto, dançar não é coisa para homens e sim, para mulheres.
Com esse enredo, o filme traz para os seus espectadores o sofrimento que muitos bailarinos homens têm ao longo de suas carreiras. O preconceito que eles passam é real e em muitos casos, interferem em suas atividades. Billy, por sua vez, superou qualquer desafio e se tornou um ilustre bailarino. Essa vitória do protagonista emociona quem assiste o filme, tornando-o ainda mais surpreendente e inspirador.
Os sapatinhos vermelhos
O clássico Os sapatinhos vermelhos (The red shoes, 1948) foi dirigido pelos diretores Michael Powell e Emeric Pressburger e foi ganhador de dois Oscars e um Globo de Ouro. A sua história gira em torno de uma promissora bailarina, Victoria Page, que se apaixona pelo maestro da peça em que ela é a grande protagonista, Sapatinhos Vermelhos. Ao mesmo tempo, seu diretor, exigente e autoritário, oferece a ela uma grande oportunidade de se tornar a maior bailarina daquele momento. Victoria se vê em um dilema, já que quer dançar e brilhar nos palcos, mas não consegue deixar de se envolver com seu amado.
O ballet é a chave dessa trama, pois ao mesmo tempo em que une os dois amantes, os separa, mostrando o quanto pode ser influente na vida pessoal de seus dançarinos. A prática do ballet sempre acaba levando aqueles que o fazem a fazer escolhas, que são em geral muito difíceis. Esse filme, como muitos outros, retratam essa entrega que os bailarinos fazem pela dança, evidenciando como essa decisão pode ser dolorosa. O prazer pela dança é tão grande, que muitos não conseguem abandoná-lo.
Cisne Negro
Falando da entrega ao ballet, esse é mais um filme em que essa devoção é mostrada. Cisne Negro (Black Swan, 2010), dirigido pelo diretor Darren Aronofsky, conta a história da bailarina Nina que sofre uma grande pressão de sua mãe, de sua companhia de dança e até mesmo de si mesma. Ao mesmo tempo em que tem que lidar com essa responsabilidade, Nina também se vê em uma situação de extrema competição e inveja das outras bailarinas. Tudo isso a leva a ter alucinações e a se comportar de forma anormal. Sua dedicação à dança é notada, o que a faz ganhar a protagonista do espetáculo Cisne Negro. Ao assumir esse papel principal, Nina começa a piorar seu estado psicológico, levando-a a um final trágico.
Assim como na vida real, esse filme retrata de forma clara a pressão e a concorrência que os bailarinos sofrem no decorrer de sua vida.
Como em Billy Elliot e Os Sapatinhos Vermelhos, Cisne Negro também evidencia uma realidade da vida no ballet. Cada filme com a sua particularidade, eles conseguem mostrar para seus espectadores o que está além da beleza apresentada nos palcos. O sofrimento e grande competição são fatores muito presentes no dia a dia dos bailarinos, além, é claro, da sua dedicação que os leva a ter performances maravilhosas.
A Última Dança
O filme A última dança (Onde last dance, 2003), da diretora Lisa Niemi, narra a história de uma companhia de dança que se vê sem rumo quando o seu diretor e criador morre de forma inesperada. Para conseguir manter a companhia em funcionamento, os seus integrantes decidem estrear um espetáculo que foi feito sete anos atrás pelo mesmo diretor. Sem a presença do falecido, eles recorrem a três bailarinos já aposentados que, enquanto ainda atuavam, aprenderam essa coreografia. Nesse momento, inicia-se a trama desses bailarinos que aceitam o grande desafio de voltar aos palcos mesmo após anos sem dançar.
O filme mostra ainda uma realidade pouco abordada, que é a dos profissionais de dança que se aposentam, nesse caso, porém, de forma traumática. Movidos pela paixão pela dança e pelo ballet, muitos dançarinos se aposentam de forma forçada, e em alguns casos, sem aceitar que a idade chega e não se pode dançar para sempre.
Com uma visão diferente, o filme vai mostrando a dificuldade que os aposentados têm em regressar ao ballet assim como a sua vontade e determinação de conseguir repetir os grandes feitos do passado.
O ballet tem uma beleza inigualável e que encanta a todos. Filmes que o abordam, tentam trazer as realidades da vida de quem o pratica. De preconceitos a responsabilidades, o ballet influenciou esses enredos de filmes, como vai continuar inspirando tantos outros.