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O cinema psicológicos de Darren Aronofsky

por Fernando Magarian fernandomagarian@gmail.com Conhecido pelos seus filmes centrados na complexidade psicológica dos personagens, Dan Aronofsky é hoje um dos mais talentosos diretores hollywoodianos. Com tramas sempre muito bem desenvolvidas e ricas em referências a diversas áreas do conhecimento (antropologia, psicologia e matemática, por exemplo), Aronofsky ganhou projeção em Hollywood primeiro com Réquiem Para um …

O cinema psicológicos de Darren Aronofsky Leia mais »

por Fernando Magarian
fernandomagarian@gmail.com

Conhecido pelos seus filmes centrados na complexidade psicológica dos personagens, Dan Aronofsky é hoje um dos mais talentosos diretores hollywoodianos. Com tramas sempre muito bem desenvolvidas e ricas em referências a diversas áreas do conhecimento (antropologia, psicologia e matemática, por exemplo), Aronofsky ganhou projeção em Hollywood primeiro com Réquiem Para um Sonho (Requiem for a dream, 2000) e depois com seu filme mais maduro e de maior sucesso, Cisne Negro (Black Swan, 2010), que recebeu cinco indicações ao Oscar. Alguns de seus filmes já conquistaram enorme prestígio entre os fãs do terror psicológico.

Juventude e formação

Darren Aronofsky nasceu em Nova Iorque em 1969, em uma família judia conservadora. Irmão de uma bailarina – o que o levou a conhecer os espetáculos de ballet e teatro e provavelmente contribuiu para a temática de Cisne Negro –, se graduou em Antropologia Social e Cinema em Harvard. Foi lá que despertou e amadureceu seu interesse pela produção cinematográfica, inclusive fazendo amizades com profissionais do meio. Produziu, ao fim da graduação, o filme Supermarket Sweep (1991), que foi sua tese estudantil. O filme foi finalista da premiação de filmes estudantis da Academia de Cinema e Artes Cênicas dos Estados Unidos, uma espécie de “premiação júnior” do Oscar.

Aronofsky estreou em Hollywood com o longa-metragem Pi (Idem, 1997), após dirigir alguns curtas. O filme narra a história de um jovem e obsessivo gênio matemático, Max, que tem sérias dificuldades para se relacionar socialmente, além de sofrer de crises de enxaqueca, paranóia e alucinações, que vão se agravando ao longo da trama. Max acredita que toda a natureza pode ser descrita por padrões matemáticos, e faz previsões para o mercado de ações através de seu supercomputador.

Certo dia o computador imprime um número aleatório de 216 dígitos, logo antes de parar de funcionar. Max acaba descobrindo que aquele número previu a variação do mercado de ações, e percebe que aquele pode ser o padrão matemático que descreve a variação geral do mercado. Logo ele se encontra perseguido por uma empresa de investimentos interessada na sua descoberta, além de um fanático judeu que acredita que o número que Max descobriu pode ser o padrão que descreve o Torah (o livro sagrado judaico), e que revelaria uma mensagem secreta legada por Deus através do livro.

Conforme ele busca uma explicação para a sua descoberta, que ele persegue obsessivamente mesmo após ser desencorajado por seu mentor matemático, ele se torna mais paranóico e tem mais crises de alucinação.

Esta é uma característica recorrente nos filmes de Aronofsky: os personagens, aficionados por um objetivo, desenvolvem um comportamento cada vez mais destrutivo. Para conseguir os efeitos de tensão e terror, são utilizadas cenas-relâmpagos, cortes rápidos e músicas de fundo que aumentam progressivamente de intensidade.

A produção, que teve um orçamento bastante modesto (sessenta mil dólares), foi bem recebida e rendeu a Aronofsky um prêmio de melhor diretor do Festival de Cinema de Sundance.

Réquiem Para um Sonho: projeção em Hollywood

O filme seguinte do diretor, Réquiem Para um Sonho, teve um orçamento muito maior, de quatro milhões e meio de dólares e foi uma adaptação do livro de mesmo nome de Hubert Selby Jr. O roteiro é dividido em duas linhas narrativas, independentes mas entrelaçadas. Sara Goldfarb é uma viúva que recebe um telefonema que diz que ela será convidada para um programa de auditório na televisão e, ao vislumbrar uma perspectiva para sua vida após um longo tempo, entra em uma dieta irracional de comprimidos de anfetamina para perder peso.

Enquanto isso, um grupo de três jovens, Harry, Marion e Tyrone, sendo o primeiro filho de Sara, todos viciados em drogas, decidem entrar em um esquema de tráfico para fazer algum dinheiro e bancar um futuro negócio. Tanto Sara quanto os três colegas se perdem no vício das drogas – ela na anfetamina, eles na cocaína e heroína –, e se vêem cada vez mais miseráveis, se dando conta disso ou não. Por causa de uma combinação entre substâncias químicas e ambições irracionais, todos eles conduzem as próprias vidas à ruína total.

Novamente através de efeitos simples, como cenas aceleradas e principalmente aumento progressivo da tensão e descontrole emocional dos personagens, Aronofsky consegue uma trama extremamente envolvente e intensa, com clímax na situação final dos personagens. Muito mais que um filme sobre drogas – rótulo posto em cheque mesmo pela comparação entre jovens viciados e uma mulher aficionada por seu peso –, trata-se de um filme sobre obsessão e autodegradação, e que foi muito bem recebido pelo público e pela crítica.

Com um elenco modestamente melhor que seu filme anterior, que incluiu Jennifer Connelly, Jared Leto e Marlon Wayans, o destaque foi para Ellen Burstyn, que interpreta fantasticamente Sara Goldfarb e que foi indicada ao Oscar de melhor atriz em 2001.

Réquiem Para um Sonho deu grande visibilidade a Aronofsky em Hollywood, e seu próximo filme, o romance dramático Fonte da vida (The fountain, 2006), foi distribuído pela Warner e teve um orçamento de trinta e cinco milhões de dólares, contando com Hugh Jackman e Rachel Weisz nos papéis principais. No filme, três histórias em três momentos diferentes de uma mesma linha temporal são contadas, não-linearmente, e todas protagonizadas por Jackman e Weisz.

A primeira história (cronologicamente) é uma aventura épica envolvendo uma rainha e um conquistador ocorrida por volta do ano 1500, a segunda, quinhentos anos mais tarde, trata de um médico e sua mulher, que tem câncer, e a terceira, em um futuro distante, de um astronauta, ou um monge, ou os dois, que vaga ao lado da árvore da vida (citada no livro Gênesis, da bíblia), que é possivelmente uma representação da mesma mulher, por quem ele vive.

Na verdade, as três narrativas são conectadas pela árvore da vida, e o roteiro é bem pouco ortodoxo, admitindo um sem-fim de interpretações diferentes, literais, metafóricas e metafísicas. Em entrevista de 2012, Arronofsky declarou que a história é, em última instância, sobre aceitar e lidar com a própria morte. O filme teve recepção morna, e deu prejuízo.

O filme seguinte, O Lutador (The wrestler, 2008), conta a história de um lutador veterano que tenta voltar à ativa, apesar de sua pobre condição física, ao mesmo tempo que procura se reaproximar de sua filha. Com Mickey Rourke no papel principal, o filme foi um grande sucesso de crítica, rendendo indicações ao Oscar, ao BAFTA e ao Globo de Ouro.

Cisne Negro e a consagração

O último filme lançado pelo diretor, Cisne Negro, é o mais bem produzido, com roteiro maduro, personagens extremamente complexas e excelentes atuações – com destaque para Natalie Portman no papel principal, que ganhou por ele o Oscar de melhor atriz em 2010.

O filme conta a história da bailarina Nina, uma jovem de 28 anos emocionalmente desequilibrada que, em sua obsessão para interpretar a personagem principal do musical Lago dos Cisnes, se comporta de maneira extremamente auto-destrutiva, se tornando cada vez mais psicótica e aficionada, processo que vai culminar ao mesmo tempo na sua ruína pessoal e no seu êxtase máximo (o que já ocorre em Réquiem para um sonho).

O maior atrativo da história é mesmo a condição psicológica de Nina, nitidamente relacionada à sua frustração sexual , que catalisa e acompanha seu processo de auto-deterioração. A bailarina mora com sua mãe, bailarina aposentada e presumivelmente mãe solteira, que a superprotege, de forma que Nina é ainda bastante infantilizada.

O recalque de Nina se torna gradualmente insuportável, e ela passa a projetar seus desejos reprimidos em outras pessoas, até o momento em que ela assume um comportamento agressivo em relação à mãe e, simbolicamente, se liberta dela.

O roteiro, novamente, possibilita diversas interpretações sobre as razões das psicoses de Nina, e uma observação atenta dos detalhes do filme sugere que ela era abusada sexualmente pela mãe durante a infância, prática que nunca foi interrompida já que a relação das duas personagens era, ainda, a de um adulto e uma criança.

Diversos princípios da psicologia são inseridos no filme, que conta ainda com uma excepcional trilha sonora. Foi o filme de maior sucesso do diretor até agora, tendo sido indicado ao Oscar de melhor filme e de melhor diretor.

 Atualmente Aronofsky está trabalhando na produção de Noah, uma leitura da história bíblica de Noé que contará com um forte elenco, incluindo Russel Crowe e Anthony Hopkins.

 

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