Jornalismo Júnior

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As tantas coberturas de uma manifestação – O que já disseram por aí sobre o MPL?

Nesses últimos dias vimos surgir seis atos organizados contra o aumento da passagem no transporte público na cidade de São Paulo. De início, a grande mídia se posicionou contrária aos manifestantes, caracterizando-os como vândalos e baderneiros. No quarto ato, porém, esse posicionamento foi invertido radicalmente: uma forte repressão da Polícia Militar presente no local, tornou …

As tantas coberturas de uma manifestação – O que já disseram por aí sobre o MPL? Leia mais »

Nesses últimos dias vimos surgir seis atos organizados contra o aumento da passagem no transporte público na cidade de São Paulo. De início, a grande mídia se posicionou contrária aos manifestantes, caracterizando-os como vândalos e baderneiros. No quarto ato, porém, esse posicionamento foi invertido radicalmente: uma forte repressão da Polícia Militar presente no local, tornou – devido a diversos fatores -, impossível olhar para as manifestações apenas pelo viés de “baderneiros atrapalhando o trânsito”.

Capa da Folha de São Paulo no dia 12 de junho. Reprodução

Na manhã de quinta feira (13/06) o que se via eram os grandes jornais elogiando a repressão e criticando a ação dos manifestantes. É possível notar isso nos editorias dos dois jornais de maior circulação de São Paulo, Folha e Estadão, que pediam o aumento da presença policial nos locais de confronto. Reforçavam a imagem do movimento como algo caótico, colocando a tropa de choque como a única força mantendo São Paulo longe da destruição.

O ato teve início na frente do Teatro Municipal (perto do metrô Anhangabaú e do Terminal Bandeira) e reuniu cerca de 6 mil pessoas, de acordo com a polícia (quem estava lá diz que eram mais de 10 mil pessoas), caminhando sem problemas até a entrada na Rua da Consolação. A partir desse ponto o que se viu foi uma pesada violência policial, iniciada a partir da tentativa dos líderes do movimento de levar os manifestantes para a Avenida Paulista, o que havia sido vetado pela PM. O confronto se espalhou pelas redondezas da avenida em questão, tendo sua maior presença no cruzamento da Consolação com a Maria Antonia.

Essa noite de confrontos foi um marco para o movimento. Ataques policiais à pessoas ajoelhadas pedindo “sem violência”, até tiros deferidos contra inocentes e contra a imprensa. Com cara de guerra civil, policiais hostilizavam qualquer pequeno grupo, mesmo que não estivessem, no momento, participando ativamente do movimento. Ao todo foram 230 prisões, muitas delas feitas sem bases jurídicas reais (como os casos de prisão por “porte de vinagre”). Nem mesmo a credencial de imprensa servia como “escudo”: houve repórteres e cinegrafistas detidos independente da publicação para a qual trabalhavam. Houve também, protagonizada pelos membros da imprensa, uma das imagens mais chocantes da noite: da jovem repórter Giuliana Vallone do jornal Folha de São Paulo, que recebeu uma bala de borracha na face.

Giuliana Vallone. Reprodução TV Folha

Mudança no olhar

O que se viu na cobertura dos eventos, das publicações de sexta foi uma radical mudança de postura. As principais edições de jornais paulistas trouxeram em suas capas a violência policial, criticando esse exagero e tomando o partido das manifestações no sentido de não haver nada, nem mesmo os pontuais atos de vandalismo,que justificasse tamanha repressão. Um dos exemplos mais claros dessa mudança de postura foi vista nas opiniões de Arnaldo Jabor. De início o comentarista era contrário às reivindicações, comparando os participantes aos membros do PCC e chamando-os de “ignorantes políticos”. Após o ocorrido na quinta-feira e as inúmeras críticas ao seu discurso, o comentarista mudou completamente sua fala, inclusive se desculpando por ter feito uma análise precoce.

Capa da Folha de São Paulo no dia 14 de junho. Reprodução

Essa mudança na forma de cobrir o ocorrido é consequência de vários fatores, como por exemplo, a forte presença das redes sociais, em que se espalharam diversos depoimentos e experiências vividas por quem estava presente, com compartilhamento de inúmeros vídeos caseiros feitos das varandas dos prédios no entorno, ou até mesmo de imagens gravadas diretamente do conflito. A cobertura virtual conseguiu furar os grandes veículos, que estavam acostumados apenas a mostrar os conflitos sendo escoltados pela PM. Quem postava os vídeos e depoimentos não eram necessariamente jornalistas, mas pessoas comuns, o que dava à cobertura na internet uma sensação de maior proximidade. Além disso, se tornou impossível para a imprensa ignorar os diversos atentados contra seus representantes no ato.

Resta saber agora quais serão os rumos, tanto do movimento quanto de sua cobertura. O que está acontecendo nas grandes metrópoles do Brasil é algo novo e, dessa forma, muito difícil de prever, não sendo possível analisar os atos com a mesma visão com a qual se olhava as manifestações do passado. Apesar do futuro incerto que cerca esse momento vivido no país, a simples ideia de algo diferente esta em curso já é digna de esperança. Os primeiros passos, tortos e com tombos, não devem ter sua importância diluída em meio a tantas opiniões divergentes. A importância de ir as ruas, além da luta propriamente dita, está em ver de perto o que realmente acontece, em toda sua amplitude. Assim sendo: vem pra rua!

por Ana Luisa Abdalla e Pedro Passos
anita.abdalla.usp@gmail.com e pedropassos.guijarro@gmail.com

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