[Pourquoi Tu Pleures]
35ª Mostra Internacional de Cinema
O filme de estreia da atriz Katia Lewkowicz como diretora traz um homem (Benjamin Biolay) a quatro dias de seu casamento, lutando contra a angústia e a dúvida sobre seu matrimônio. A crise existencial se reforça quando ele conhece Léa (Sarah Adler), cantora de um clube noturno, em sua despedida de solteiro. Dividido entre a nova paixão e a noiva Anna (Valerie Donizelli), que some inexplicavelmente alguns dias antes da festa, o noivo precisa lidar com todos os preparativos, inclusive a numerosa família israelita de sua noiva, reformar o futuro apartamento do casal e ainda resolver o dilema que o acompanha por toda a história: “Casar para quê?”.
A obra começa e termina com as típicas gravações de depoimentos dos amigos sobre o casal para vídeos de casamento. O que seria uma ótima introdução para o filme se não pelo fato de que não fornece nenhuma informação essencial para a compreensão dos personagens e não contribui essencialmente em nada, exceto em dar mais voz a um grupo de amigos que não convence em sua relação com o noivo e passa uma impressão de desagrado e incômodo em cada encontro entre eles.
O filme não traz nenhuma novidade ou inovação no roteiro ou na condução de seus personagens e está longe de justificar sua classificação como comédia ou sua escolha para ser exibido na “International Critic’s Week” do Festival de Cannes desse ano.
O grande destaque do roteiro é a relação entre o noivo, sua irmã (Emmanuelle Devos) e sua mãe (Nicole García). Os diálogos entre os irmãos, carinhosamente referidos como Quack-Quack e Qui-Qui, único nome atribuído ao noivo, são a forma mais eficaz de conduzir a história, com base na ironia e na capacidade mútua de se irritar, típica entre familiares.
Já a mãe, egoísta e mais preocupada com o status de casado do filho do que com os seus problemas para atingir esse status, serve de parâmetro para um possível futuro da relação entre marido e mulher e aumenta o medo e a ansiedade do noivo.
A grande quantidade de closes e o trabalho rápido de câmera ressalta os sentimentos, em especial a angústia do noivo e contribuem para acelerar um filme naturalmente lento. O rosto de Biolay domina a tela em boa parte do filme e o desconforto e agonia do noivo são muito bem retratados, nas feições, nas roupas azuis e nas inúmeras variações em francês para “fuck”.
A falta de carisma e a inexistência de um alívio cômico atrapalham e tornam alguns momentos e discussões irritantes não apenas para os personagens, mas para o público também e torna o ritmo pesado, incômodo mesmo.
Se o clima de angústia constante era proposital, foi bem sucedido, pois se há algo que se sabe, é que, independente do desfecho, casado ou não, o noivo não terminará a história aliviado e feliz para sempre.
Por Mateus Netzel
mateusnetzel@gmail.com