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‘Boneca Russa’ – a originalidade por trás de uma história não tão original

A nova temporada da série da Netflix mostra a importância dos conflitos de geração, com uma dose de humor e de drama na medida certa

O que falar de uma série em que qualquer fala seria considerada um spoiler, e poderia estragar a experiência do telespectador com a história? Esse é um grande dilema que pode surgir na cabeça de quem vai recomendar a produção da plataforma de streaming Netflix, Boneca Russa. que voltou para sua 2ª temporada no dia 20 de abril. Trazendo, novamente, uma história inovadora e criativa.

 

Indicada a 13 Emmys (o Oscar da TV) incluindo Melhor Série de Comédia e Melhor Atriz em Série de Comédia , a série aborda questões como viagem no tempo e looping temporal de uma forma bastante dinâmica. Por meio de situações cômicas e originais, termos teóricos como “buraco de minhoca” e “gato de Schröodinger” são explicados com embasamento científico, o que agrada os amantes de ficção científica e auxilia aqueles que não compreendem o tema muito bem.

 

Exemplos dessa originalidade ímpar da série ocorrem logo na primeira temporada, quando a protagonista Nadia, interpretada por Natasha Lyonne (Orange is the new Black), começa a reviver o dia da sua morte várias vezes, uma premissa  bastante utilizada na ficção, mas agora com um toque de humor. Mesmo procurando formas de sair de sua bagunça temporal, Nadia consegue agir com bastante descontração diante da situação, ironizando-a.

 

A protagonista Nadia encontra-se no centro da imagem, enquanto conversa com um personagem que não aparece.
Durante toda a série, Nadia utiliza de bastante humor rápido e ácido [Imagem: Reprodução/Netflix]

 

 Além disso, o que realmente a difere de outras obras que já abordaram assuntos semelhantes é a forma com que ela utiliza esses conceitos de viagem no tempo para abordar questões complexas e profundas, como depressão, luto, culpa, traumas e conflitos de geração. Mesmo para uma série de comédia dramática, Boneca Russa utiliza de muita filosofia ao longo de seus curtos episódios, que duram, no máximo, 30 minutos cada, incentivando questionamentos diversos ao longo das  duas temporadas. 

 

Enquanto que, na temporada anterior, a série abordava a importância de ajudar o outro e prestar atenção nos que estão próximos de você para evitar uma possível tragédia; a atual prefere focar em questionamentos como: se você pudesse mudar o passado, você o faria, mesmo que isso significasse prejudicar a vida de inocentes ao seu redor?

 

Na imagem, as personagens Nadia e Ruth estão nas ruas de Nova York, com prédios ao fundo.
Nadia e jovem Ruth andando pelas ruas de Nova York na década de 80 [Imagem: Reprodução/Netflix]

 

O maior exemplo de assuntos delicados empregados no enredo de  maneira criativa e divertida ocorre no final da 1ª temporada, no momento em que Nadia descobre a existência de Alan Zaveri, um rapaz que, após ser dispensado pela sua esposa e perceber que sua vida se tornou chata e monótona, decide tirar a própria vida e acaba preso em um loop temporal.Após reviver o dia de sua morte inúmeras vezes, ele acaba conhecendo Nadia e ambos desenvolvem uma amizade, trabalhando juntos para resolver o problema em comum — viver constantemente o dia de sua morte —. Enquanto isso,  a protagonista mostra ao rapaz os prazeres da vida, o que faz com que ele passe a se preocupar mais consigo mesmo e desista da ideia do suicídio.

 

Já na 2ª temporada, somos apresentados a um novo problema temporal: a viagem no tempo. Tal problemática é iniciada com Nadia embarcando em um metrô, o que a leva até o passado, encontrando versões jovens de seus antepassados.

 

Um dos maiores pontos de destaque de toda a série é a atuação de Natasha Lyonne, que recebeu sua segunda indicação ao Emmy como Melhor Atriz de Comédia por Nadia, em Boneca Russa. A personagem continua bastante engraçada, fazendo muitas piadas inteligentes e de humor ácido e rápido. Mas o que realmente chama atenção em sua personagem são suas camadas dramáticas, mostrando sentimentos de culpa e de trauma que a personagem carrega por acontecimentos do seu passado, o que pode conseguir emocionar alguns telespectadores. Além disso, é muito divertido acompanhar a dinâmica entre a personagem e seus antepassados quando ela viaja no tempo. 

 

A personagem encontra-se deitada, aparentemente dormindo, em um chão azulado,
Ao longo da segunda temporada, acompanhamos Nadia encontrando seus antepassados jovens, como a sua mãe na década de 80 [Imagem: Reprodução/Netflix]

 

Outro ponto positivo da segunda temporada da série é sua ambientação, a qual perpassa cenários da Nova York dos anos de 1980, da Alemanha Oriental Russa dos anos de 1960 e, até mesmo,  da Hungria nazista dos anos de 1940. Sempre mostrando a Nádia descobrindo novas informações sobre sua família e os traumas que seus antepassados carregaram ao longo de suas vidas. Traumas estes que são tão distintos entre si e ao mesmo tempo tão similares. Novamente, a série emprega de toda sua criatividade ao utilizar uma questão mais física, como a “viagem no tempo”, para abordar uma questão mais humana, os conflitos de geração, já que você só entende realmente as atitudes e a personalidade de uma pessoa quando você passa por tudo aquilo que ela passou, como a série bem exemplifica. 

 

Também vale  um destaque para o elenco coadjuvante que entregam boas performances em Boneca Russa , como Chloë Sevigny (Meninos não choram, 1999); Annie Murphy (Schitt’s creek, 2015)) e Charlie Barnett (You, 2018). Enquanto o elenco feminino apresenta versões jovens de familiares importantes da vida de Nadia, no caso, a sua mãe e a melhor amiga dela; Charlie volta como o divertido e cativante Alan, continuando sua poderosa dinâmica com a protagonista.

 

Os personagens Nadia e Alan encontram-se em uma sala, no centro da imagem, em um ambiente escuro.
A parceria entre Nadia e Alan é um dos pontos altos da série [Imagem: Reprodução/Netflix]

Boneca Russa é uma série de comédia dramática que utiliza conceitos de ficção científica e de física, para abordar questões mais filosóficas. Tal característica vai desde a importância de ajudar os que  estão ao seu redor e de ser  empático da primeira temporada, até a abordagem de um conflito de gerações, na segunda temporada, que só pode ser resolvido  quando você se põe no lugar do seu antepassado e entende o porquê dele agir e de ser assim. Mesmo que, para isso, você precise entrar no corpo deles.

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