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Seriam os streamings o futuro do cinema?

Com queda de faturamento nas bilheterias durante a pandemia, plataformas de streaming ganham maior adesão e alteram o mercado cinematográfico

O ano de 2020 se iniciou com a promessa de grandes lançamentos no cinema, como Velozes e Furiosos 9 (F9: The Fast Saga, 2021) e o live-action Mulan (2020). Mas com a suspensão de estreias devido à pandemia de Covid-19, a solução encontrada pelos produtores foi lançar os mesmos títulos em plataformas de streaming. Paralelamente, a adesão de novos consumidores a esses serviços de entretenimento indica uma possível mudança nos padrões de consumo a longo prazo.

A chegada do novo coronavírus ao ocidente teve grande impacto na indústria cinematográfica. Só no Brasil, a quantidade de ingressos vendidos foi de 176 mil, em 2019, para 35 mil em 2020. Mesmo com a reabertura gradual das salas de cinema, ainda não é possível visualizar uma recuperação nesse setor, já que, até outubro de 2021, os números ainda estavam próximos aos de 2020.

Da mesma forma, o cenário de isolamento social foi o que colaborou com o aumento do consumo de conteúdos por streaming – serviço de vídeo por demanda –, como ocorreu com a carioca Carina Donadio. Habituada a ir ao cinema uma ou mais vezes por semana antes da pandemia, ela passou a assistir filmes e séries em casa por meio de serviços de assinatura.

“A gente ia muito ao cinema porque era um programa divertido, para sair da rotina. Agora assistimos muito à Netflix. Vemos filmes, ‘maratonamos’ séries, tudo dentro de casa. O cinema que a gente frequentava já reabriu, mas fomos só umas duas vezes. Perdemos o ritmo”, conta. 

O Brasil é, atualmente, o segundo maior consumidor de streaming do mundo. Segundo uma pesquisa realizada pela empresa Finder com dados de dezoito países, cerca de 64% da população assina ao menos um serviço dessas plataformas, sendo a Netflix a líder de mercado no país. Com isso, a taxa de adesão brasileira já se encontra acima da média mundial, que é de 55%.

A Netflix, que também trabalha com produções próprias, vem alcançando mais que o ambiente doméstico. Em 2020, filmes originais da companhia foram os recordistas de indicações na cerimônia, ocorrida em fevereiro do mesmo ano. As vinte e quatro produções indicadas demonstraram uma significativa ampliação da presença do estúdio no evento, mesmo que muitas delas não tenham vencido em suas categorias. Vale mencionar que o prêmio, além de representar o reconhecimento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles (EUA), é geralmente responsável por alavancar a audiência dos títulos indicados.

Outro fato inédito de 2020 foi o lançamento de produções de estúdios tradicionais em plataformas digitais. O Disney+, que existia nos EUA desde 2019 com conteúdos da Fox e da Marvel, entre outros, foi usado pelos estúdios Disney para a estreia de filmes durante a pandemia, sendo Mulan o pioneiro. Por meio do “Premiere Access”, o usuário pagava uma taxa extra e podia assistir, pela plataforma, a filmes lançados simultaneamente no cinema.

Contudo, ainda em agosto a empresa encerrou o serviço e Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (Shang-Chi and The Legend of The Ten Rings, 2021) foi o primeiro filme lançado diretamente no cinema e, após 45 dias, também na plataforma. Segundo Bob Chapek, CEO da Disney, a medida tinha como objetivo privilegiar a retomada do cinema mundo afora.

Simu Liu em cena de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis. [Divulgação/Marvel Studios]
Simu Liu em cena de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis. [Divulgação/Marvel Studios]
Em seguida, a HBO Max, da Warner Bros, seguiu o exemplo da concorrente e incluiu Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984, 2020) ao catálogo. A perspectiva é de que o sucesso dessa estratégia motive sua manutenção, já que, em 2021, a companhia fez o mesmo com títulos como Duna (Dune, 2021), Invocação do Mal 3 (The Conjuring: The Devil Made Me Do It, 2021) e outros mais.

Enquanto isso, a Amazon Prime Video Channels chegava ao Brasil. Com a possibilidade de adicionar canais à assinatura, a Amazon Prime Video, que já era um dos serviços mais populares no país, passou a concentrar conteúdos da Paramount+, do Starzplay e de outros adicionados posteriormente.

Com tantas opções disponíveis à ponta dos dedos, é possível questionar quanto custaria assinar todos os serviços disponíveis. Esse levantamento foi feito em uma matéria do Canal Tech, que considerou o preço de onze serviços de assinatura em julho de 2021. A conclusão é que todos os planos básicos custariam R$ 221,00 ao mês e que os planos mais completos totalizariam R$ 331,30.

“O cinema é um gasto que você tem. Eu moro perto do shopping, mas muita gente gasta para ir até lá, e ainda tem o lanche. Em casa, você ‘dá pause’, não fica preso no filme. Pode parar para mexer na panela, para ver o celular. Também é mais econômico, você vê um filme no conforto do seu sofá e pode fazer ou pedir um lanche”, diz Carina.

Para quem assiste a longas e séries com frequência, os streamings apresentam a vantagem de um custo fixo e um catálogo variado. Além disso, a desigualdade na distribuição de salas de cinema no Brasil é um obstáculo para muitas populações fora das capitais e os serviços de assinatura podem tornar a experiência das obras audiovisuais mais acessível. Até mesmo a possibilidade de pausar a película pode ser vista tanto como vantagem ou como desvantagem, já que as interrupções do ambiente doméstico podem atrapalhar o fluxo de atenção.

Por outro lado, como nos streamings os filmes teriam a arrecadação com bilheterias reduzida, há risco de que esse déficit gere prejuízos à produção. Diretores de cinema também defendem que, em casa, os recursos de imagem e som das obras não podem ser totalmente aproveitados como o são na infraestrutura de uma sala de cinema. O diretor estadunidense Peter Bogdanovich afirma:

 “Os streamings têm muita coisa boa, mas não são cinema. Cinema é algo que depende de uma plateia. Uma plateia que se deixe comover.”

Outro diretor que preferiu se manter fiel ao cinema foi Christopher Nolan, que tinha o lançamento do longa Tenet (2020) previsto para agosto de 2020, mas fez questão de que a estreia fosse postergada até a reabertura dos cinemas. Disponibilizado nas salas norte-americanas em setembro de 2020, ainda durante a pandemia, o resultado das bilheterias não cobriu os custos dessa que foi a produção mais cara de Nolan, deixando à Warner Bros um prejuízo de cerca de 50 milhões de dólares.

Christopher Nolan no set de filmagem. [Imagem: Reprodução/Flickr/@AndrewLeos]
Christopher Nolan no set de filmagem. [Imagem: Reprodução/Flickr/@AndrewLeos]
Diante de novos cenários e uma esperada divisão de opiniões, o que se pode esperar sobre o futuro dos streamings após a pandemia é que eles continuem coexistindo com a sétima arte. Afinal, o cinema se manteve no coração das plateias por mais de um século e a paixão que motiva telespectadores mundo afora dura muito além do apagar dos projetores.

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