Abram alas. Chamem os vizinhos. Pichem nos muros: ela está de volta. Taylor Jenkins Reid, um dos maiores nomes do gênero new adult na atualidade, voltou a ocupar a posição de “mais vendido” nas livrarias e, desta vez, com uma protagonista com pouco carisma, mas muito talento. 

Carrie Soto está de volta (Paralela, 2022) é mais uma das biografias de famosos fictícios características da “era de ouro” da autora, composta também por Os 7 Maridos de Evelyn Hugo (Paralela, 2019), Daisy Jones & The Six (Paralela, 2019) e Malibu Renasce (Paralela, 2021). No livro, a tenista com o maior número de Grand Slams do planeta conta suas vivências desde a infância até a adultez. O leitor acompanha sua criação voltada para o esporte e o esforço dedicado pela atleta em chegar ao topo nos campeonatos, sempre na companhia de seu pai, Javier Soto, que também fora um tenista de sucesso.

“Mas o que consigo ouvir com mais clareza é o som da minha voz na minha cabeça, implorando: Tomara que isso enfim seja o bastante.“

— Trecho de Carrie Soto está de volta

Diferentemente dos outros livros recentes de Reid, em que as protagonistas são regadas a sentimentalismos e relacionamentos pessoais profundos, os relatos de Carrie são, pela maior parte da narrativa, racionais e distantes, em concordância com sua personalidade regada a profissionalismo. 

Enquanto as outras celebridades de TJR sofriam, principalmente, para lidar com a pressão de desconhecidos sobre suas vidas, Soto joga em seu livro com aquela que a conhece melhor — sua mente. Assim, para os leitores que esperavam o mesmo estilo de escrita composta por reviravoltas, a obra pode parecer pacata ou técnica demais pelas inúmeras expressões e termos específicos do tênis. A beleza do livro, porém, está justamente nessa sutileza e no caráter intrapessoal.

A personalidade de Carrie é desenvolvida com mais profundidade, ainda que entendida nas entrelinhas, após sua aposentadoria forçada pelo desgaste de seu joelho. A tenista — antes obcecada pela vitória e pelas glórias que carrega — passa a viver a pacata vida de ex-atleta, trabalhando com propagandas de suplementos e marcas de roupas esportivas. Quando, cinco anos depois da sua saída dos campeonatos, uma estreante ameaça quebrar seu recorde em números de prêmios, sua trajetória é alterada pela decisão de voltar às quadras para manter sua posição de melhor do mundo. 

“Você diz que dedicou sua vida ao tênis, mas voltou da aposentadoria para ganhar, não para jogar”

— Trecho de Carrie Soto está de volta

Ao longo das 348 páginas, as atitudes da personagem principal são explicadas, ainda que não se tornem justificáveis. Dificilmente se cria empatia com a egocêntrica e mimada Carrie Soto. Todavia, os contextos que a circundam na obra, como o carinho pelo pai e o envolvimento com o charmoso Bowe Huntley, a humanizam e a aproximam de alguém mais amável. Ao final, seu desenvolvimento e amadurecimento é tamanho que traz algo até então novo nas obras de Reid: a esperança. 

As mulheres do livro são absolutamente modernas e convincentes. Por meio delas, a autora traz críticas vorazes à desigualdade de gênero e de raça, inserindo também personagens de outros livros de seu universo, como Daisy Jones e Nina Riva. Assim, apesar de não ser querida, Carrie Soto possui um apelo às mulheres que focalizam todos os seus esforços em ser a melhor profissional que podem, por vezes abrindo mão de suas vidas pessoais para tal. Mesmo que questionáveis, as atitudes da protagonista  visavam o que ela acreditava ser o melhor para ela. Então, se eles querem dizer que a “vaca” Carrie Soto está de volta, que digam. Mas que percebam que ela tem companhia, principalmente de suas leitoras.