Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Chiaki Ishii: há 50 anos, judoca brasileiro conquistava primeira medalha olímpica da modalidade

Ishii, nascido no Japão e naturalizado brasileiro, marcou seu nome na história do judô do Brasil ao ganhar um bronze em Munique - 1972

Há 50 anos, no primeiro dia de setembro de 1972, o Brasil observava a história acontecer: Chiaki Ishii, naturalizado brasileiro, tornou-se o primeiro judoca do país a conquistar uma medalha olímpica na modalidade. Após disputar seis lutas, o atleta nascido no Japão voltava para sua casa no estado de São Paulo levando um bronze — um dos dois conquistados pela delegação brasileira nos Jogos de Munique. 

A vida no Japão

Chiaki Ishii nasceu no dia 01 de outubro de 1941 em Ashikaga, cidade japonesa. Vindo de uma família de judocas, começou a treinar desde criança. “Iniciou o judô aos 6 anos com o pai, Yukichi Ishii, junto com os irmãos”, traduz Vânia Ishii, filha mais nova de Chiaki e representante do judô brasileiro nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, e de Atenas, em 2004. Sensei Ishii preferiu contar sua história ao Arquibancada em sua língua-materna.

Dojô da família Ishii, no Japão (Imagem: Divulgação/Comitê Olímpico Brasileiro)

Viveu uma infância tranquila e se formou na Universidade de Waseda, localizada na capital Tóquio, no curso de Pedagogia. Com o desejo de representar seu país nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 1964 — a primeira edição com a presença do judô —, Chiaki Ishii lutou nas seletivas olímpicas, mas perdeu a vaga para Isao Okano. Foi então que, incentivado por um de seus irmãos, Isamu, sensei Ishii resolveu ir embora do Japão em busca de outros sonhos.

Uma nova vida no Brasil

Partindo das terras japonesas no final de março de 1964, Chiaki Ishii passou quase dois meses a bordo de um navio até chegar no litoral brasileiro em 20 de maio. Tinha a vontade de ser fazendeiro no Brasil, lugar que achava apropriado para a função. “Quando chegou, sentiu dificuldade de adaptação, mas a vontade de realizar os objetivos foi maior, e foi se adaptando ao país”, explica Vânia.

Começou a treinar no Brasil e a participar de campeonatos. Seu desempenho chamou a atenção do presidente da Confederação Brasileira de Pugilismo — instituição que coordenava as lutas, inclusive o judô, na época —, que o incentivou a naturalizar-se brasileiro para poder competir oficialmente pelo país. Representando sua nova nação, ganhou a primeira medalha em mundiais da história do judô do Brasil em 1971, na cidade de Ludwigshafen, na Alemanha, e lutou inúmeros outros torneios importantes.

“A vida inteira do sensei tem sido dedicada aos ensinamentos do judô. Para o sensei, judô é uma religião, e nunca pensou em desistir.”

— Vânia Ishii, traduzindo a resposta de seu pai

Os Jogos de Munique

Foi novamente na Alemanha que Chiaki Ishii deu ao Brasil outra conquista inédita: a primeira medalha olímpica no judô, seu sonho antigo. Depois de passar alguns meses em treinamento no Japão — parte que considera sua maior dificuldade nos Jogos —, sensei Ishii viajou até a Europa como integrante da equipe brasileira junto com Lhofei Shiozawa, primeiro representante do Brasil no judô olímpico.

Apenas 16 segundos foram necessários para que Chiaki Ishii vencesse a luta de estreia: arremessou o senegalês Mohamed Dione e ganhou por ippon. A segunda luta, contra o atleta de Taiwan Jen-Wuh Juang, durou um pouco mais — 38 segundos. Dentro do tatame pela terceira vez, Ishii derrotou Pavle Bajcetic, iugoslavo.

Chiaki Ishii durante luta nos Jogos Olímpicos (Imagem: Divulgação/Comitê Olímpico Brasileiro)

Foi somente no quarto embate que o judoca brasileiro perdeu. Atleta da casa, o alemão ocidental Paul Barth ganhou por decisão dos árbitros. Acabado o tempo regulamentar do combate, o juiz holandês considerou Chiaki o melhor na disputa, mas os juízes norte-americano e japonês preferiram dar a vitória ao adversário.

Na repescagem, sensei Ishii lutou contra outro alemão, dessa vez oriental: o judoca Helmut Howiller. Em 57 segundos, o oponente foi derrubado por ippon pelo que os jornais da época chamaram de “hane-maki-komi, o golpe que sempre leva à vitória”. Em menos de um minuto, Chiaki Ishii havia assegurado para o Brasil um bronze.

Seguindo as regras da época, Ishii ainda teve a chance de disputar as semifinais, mas perdeu para o inglês David Starbrook, que ficou com a prata. Mas a história estava feita: o judô brasileiro conquistava, pela primeira vez, uma medalha olímpica — um bronze, trazido pelas mãos de Chiaki Ishii, que se tornou um dos atletas mais importantes do esporte nacional.

Página de jornal relatando a medalha de Ishii (Imagem: Reprodução/Acervo Estadão)

Depois da medalha

Graças à conquista da primeira medalha, a Confederação Brasileira de Judô passou a ser reconhecida como entidade em 1972. Chiaki Ishii tornou-se espelho para as próximas gerações de judocas no Brasil, inspirando futuros medalhistas olímpicos como Rogério Sampaio, Aurélio Miguel e Ketleyn Quadros. Por conta do feito dele, os lutadores brasileiros puderam acreditar na possibilidade de também subir ao pódio.

Sensei Ishii tornou-se professor em seu próprio dojô — nome dado às academias de judô — e sempre esteve disposto a ajudar os atletas que “o procuravam com o objetivo de se tornarem campeões, desafiando-os e dizendo que ‘se derrubassem o sensei, teriam todas as condições de serem campeões olímpicos’”, conta Vânia.

Sensei Chiaki Ishii em evento em homenagem aos medalhistas olímpicos brasileiros (Imagem: Divulgação/Confederação Brasileira de Judô)

O judô brasileiro avança

Com o exemplo de Chiaki Ishii, o judô do Brasil evoluiu ao ponto de tornar o país uma das potências do esporte no cenário mundial. No momento atual, é a modalidade individual que mais nos trouxe medalhas olímpicas: são 24 no total. O sensei Ishii, apesar de estar afastado dos tatames, continua acompanhando a evolução dos judocas brasileiros. Ele diz sentir-se orgulhoso e satisfeito com essa melhora e acredita que teremos mais campeões olímpicos que possam superar os japoneses.

E para os futuros atletas, que representarão o Brasil assim como Ishii fez há 50 anos, o sensei recomenda que se dediquem e que acreditem, “pois o sensei acreditou, se dedicou e conseguiu.” 

“Tenha personalidade no seu judô, potencialize o seu ponto forte e acredite”

— Chiaki Ishii

*Imagem de capa – Divulgação/Comitê Olímpico Brasileiro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima