Ciganos da Ciambra (A Ciambra, 2017) é o recorte de uma verdade inventada. De todas as nuances que constroem a narrativa, nenhuma delas chama mais atenção do que a naturalidade com que a história é contada. Afastando-se dos tradicionais roteiros cinematográficos que fogem das garras da realidade, o filme, dirigido pelo jovem nova-iorquino de descendência italiana, Jonas Carpignano, é um daqueles cortes orgânicos que nos conduz a pensar que o real é aquilo que está sendo reproduzido na tela, e que nem sempre é bom.
A fórmula de tentar cativar o público através da sensibilidade que brota do natural – e que já foi magistralmente empregada em outras ocasiões, a exemplo de Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016) – nesse caso, parece não ter funcionado. O que se vê é um filme inegavelmente genuíno e suplicantemente ordinário na ordem de sua composição enquanto arte.
Pio (Pio Amato) é um garoto de 14 anos de idade que quer se tornar um homem. Cosimo (Damiano Amato) é seu irmão mais velho que ganha à vida roubando e vendendo peças de carro. Ayva (Koudous Seihon) é um imigrante africano amigo de Pio que desperta a figura paterna que o menino não tem. O cenário caótico da trama é o subúrbio de Ciambra, pequeno vilarejo Romano localizado na cidade de Calábria, ao Sul da Itália.
Vivendo junto de sua família e imerso em um ambiente de pobreza e destemperos, Pio tenta alcançar seu desejo de ser respeitado espelhando-se em seu irmão e incorporando maus hábitos, como o álcool e o cigarro. Em certa ocasião, Cosimo é preso devido às atividades ilícitas que promovia; o que faz de Pio o novo Homem da casa e coloca sobre ele todas as responsabilidades intrínsecas à nova função.
Despido de certos pudores, Pio passa a ser um dos únicos de sua idade a conseguir transitar entre o grupo dos refugiados africanos, dos ciganos romani (do qual faz parte) e dos nativos Italianos. E com a ajuda de seu protetor Ayva, ao assumir suas novas responsabilidades, usa dessa ferramenta para conseguir dinheiro de forma sorrateira, assim como fazia seu irmão.
Da rapidez nos cortes da câmera que visam dar maior dinamicidade à monotonia da obra até a despropositada trilha sonora que só se faz ouvir nos momentos mais inoportunos, assistir Ciganos da Ciambra coloca o espectador em um Carrossel no qual é válido estar, mas pouco arrancará emoções e nunca sorrisos.
O filme chega aos cinemas no dia 3 de maio. Confira o trailer:
por Matheus Oliveira
oliveiramatheus123@gmail.com