Ciganos da Ciambra (A Ciambra, 2017) é o recorte de uma verdade inventada. De todas as nuances que constroem a narrativa, nenhuma delas chama mais atenção do que a naturalidade com que a história é contada. Afastando-se dos tradicionais roteiros cinematográficos que fogem das garras da realidade, o filme, dirigido pelo jovem nova-iorquino de descendência italiana, Jonas Carpignano, é um daqueles cortes orgânicos que nos conduz a pensar que o real é aquilo que está sendo reproduzido na tela, e que nem sempre é bom.
Mesmo com uma equipe de grandes nomes para o cinema atual, diga-se a participação de Martin Scorsese ‒ Taxi Driver (1976) e O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013) ‒ e do produtor brasileiro Rodrigo Teixeira ‒ A Bruxa (The Witch, 2015) e Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, 2017) ‒, ambos como produtores, o longa-metragem não consegue seduzir pelo conjunto da obra.
A fórmula de tentar cativar o público através da sensibilidade que brota do natural – e que já foi magistralmente empregada em outras ocasiões, a exemplo de Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016) – nesse caso, parece não ter funcionado. O que se vê é um filme inegavelmente genuíno e suplicantemente ordinário na ordem de sua composição enquanto arte.
Pio (Pio Amato) é um garoto de 14 anos de idade que quer se tornar um homem. Cosimo (Damiano Amato) é seu irmão mais velho que ganha à vida roubando e vendendo peças de carro. Ayva (Koudous Seihon) é um imigrante africano amigo de Pio que desperta a figura paterna que o menino não tem. O cenário caótico da trama é o subúrbio de Ciambra, pequeno vilarejo Romano localizado na cidade de Calábria, ao Sul da Itália.
Vivendo junto de sua família e imerso em um ambiente de pobreza e destemperos, Pio tenta alcançar seu desejo de ser respeitado espelhando-se em seu irmão e incorporando maus hábitos, como o álcool e o cigarro. Em certa ocasião, Cosimo é preso devido às atividades ilícitas que promovia; o que faz de Pio o novo Homem da casa e coloca sobre ele todas as responsabilidades intrínsecas à nova função.
Despido de certos pudores, Pio passa a ser um dos únicos de sua idade a conseguir transitar entre o grupo dos refugiados africanos, dos ciganos romani (do qual faz parte) e dos nativos Italianos. E com a ajuda de seu protetor Ayva, ao assumir suas novas responsabilidades, usa dessa ferramenta para conseguir dinheiro de forma sorrateira, assim como fazia seu irmão.
A partir daí, muito do que acontece é um eterno ciclo de causa-efeito que se debruça sobre as artimanhas do garoto. A questão crucial com que se joga é sobre o amadurecimento de Pio e sua torta formação, o que no filme se tornaria um exercício contemplativo inteiramente maçante não fosse a viva interpretação de Pio Amato, que dá vida a seu personagem homônimo.
Da rapidez nos cortes da câmera que visam dar maior dinamicidade à monotonia da obra até a despropositada trilha sonora que só se faz ouvir nos momentos mais inoportunos, assistir Ciganos da Ciambra coloca o espectador em um Carrossel no qual é válido estar, mas pouco arrancará emoções e nunca sorrisos.
O filme chega aos cinemas no dia 3 de maio. Confira o trailer:
por Matheus Oliveira
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