Por Carla Monteiro (carlamonteiro02@gmail.com)
O Campo de Marte da cidade de São Paulo recebeu, entre os dias 10 e 19 de julho, o Anime Friends, maior evento nacional destinado aos apaixonados pela cultura pop oriental. O Anime Friends recebeu cerca de 120 mil pessoas que puderam se divertir bastante, curtir o som de bandas animes, participar de concursos cosplay, conferir palestras e bate-papos com artistas e convidados especiais, além de poder comprar itens tematizados e ficar por dentro das novidades do mundo dos games – os visitantes puderam testar jogos que ainda nem foram lançados, tudo em primeira mão.
Em grandes eventos como o Anime Friends é que se nota a forte presença e influência da cultura japonesa em nosso meio, não somente com os desenhos animados, músicas e games, mas também na literatura. Os mangás, as histórias em quadrinhos japonesas, foram inventados depois da Segunda Guerra Mundial visando a criação de uma identidade cultural do Japão no campo dos quadrinhos literários, e também a recuperação financeira do país que estava arrasado economicamente depois do conflito. Esses quadrinhos, que são matéria-prima de muitos desenhos animados que conhecemos, como “Os Cavaleiros do Zodíaco”, despertam o interesse de muitos leitores brasileiros. O modo não convencional de leitura é um dos pontos que mais desafiam os apaixonados pelos mangás, uma vez que os quadrinhos japoneses devem ser lidos de trás para frente. “O jeito curioso de ler, de trás pra frente, é bem inusitado. Os traços gráficos das ilustrações também são super interessantes e me agradam bastante”, diz João Guilherme, leitor assíduo e fã dos mangás.
O sucesso é tanto que existe em nosso país o Brazil Manga Awards – Prêmio Brasileiro de Mangás, concurso organizado pela JBC, uma das editoras brasileiras que publicam mangás. O prêmio, que propõe a oportunidade de profissionalização de grandes talentos, seleciona os cinco melhores trabalhos inscritos e premia os autores com a publicação de suas obras, além de oferecer a chance de concorrer ao International Manga Award, importante concurso promovido pelo governo japonês.
Carlos Antunes Siqueira Júnior foi dos vencedores da edição de 2014 do Prêmio Brasileiro de Mangás. Kaji Pato – maneira a qual Carlos gosta de ser chamado – fala também da experiência e oportunidade de consolidar profissionalmente algo que ele sonha e admira desde pequeno. “Foi ótimo ter tido essa experiência com a Editora JBC, foi minha primeira publicação. Essa publicação que me deu abertura para a grande jornada que estou começando agora. Comecei a desenhar com mais ou menos cinco anos de idade, e já aos quatorze estava decidido que queria fazer mangá. O que mais me fascina nos quadrinhos é a sua capacidade de criar uma espécie de filme na mente dos leitores dando vida às personagens”, conta Kaji.
As mulheres foram muito bem representadas no Prêmio de Mangás Brasileiro. Dharílya Rodrigues, outra vencedora da edição de 2014 do concurso, conta que pôde contar com a ajuda de seu parceiro, Pedro Leonelli, e que participar do concurso foi um verdadeiro desafio que exigiu o esforço e empenho da dupla. “Eu e meu parceiro de trabalho, Pedro Leonelli, fazíamos alguns desenhos e ilustrações juntos, mas sempre pensávamos em fazer algo maior, como uma HQ ou até mesmo uma animação. Começamos, então, nosso primeiro roteiro de quadrinhos, mas até então não sabíamos ao certo como publicá-lo – foi quando a JBC anunciou o Brazil Manga Awards. Participar não foi uma decisão muito fácil: além do impasse do roteiro que ainda não estava pronto, tinha a questão da insegurança de participar de um concurso em nível nacional. Conseguimos nos inscrever no último dia do prazo de entrega. No final, recebemos a notícia que estávamos entre os vencedores. Nossos quadrinhos foram uma história feita com muito amor, roteirizada e desenhada por mim e pelo Pedro”, conta sua trajetória.
Dharílya ainda conta que, desde pequena, sempre esteve atenta aos animes, e que só precisou de um ‘empurrãozinho’ para por em prática todo seu talento e paixão pelos desenhos. “Tudo começou com o grande interesse que tinha pela leitura de quadrinhos da Turma da Mônica e da Disney e também por animes que passavam na televisão, como Cavaleiros do Zodíaco. Aos dezessete anos fiz uma Oficina de Quadrinhos, o que me deu um ‘empurrãozinho’ sobre o que eu precisava saber para fazer quadrinhos. Além da expressividade e ritmo da narrativa, o que mais me encanta nos mangás são as mensagens que os quadrinhos japoneses trazem sobre amizade, amor, determinação e bondade”, afirma Dharílya.
No começo do ano, os leitores dos quadrinhos japoneses provaram que ser super-heróis e salvar vidas pode ir muito além das páginas dos livros. Em março, a campanha “Mangá na veia” mobilizou os leitores e fãs dos quadrinhos de todo o Brasil a doarem sangue e conscientizar a população, de um modo geral, da importância dessa ação que pode salvar vidas. A iniciativa da editora JBC em apoio à fundação Pró-sangue fez parte da campanha de lançamento de um novo quadrinho, o Green Blood (Sangue Verde), livro do autor Masasumi Kakizaki. A campanha propunha aos leitores que levassem um livrinho durante a doação de sangue e tirassem uma foto para postar nas redes sociais com a hashtag #MangaNaVeia.
Extrapolando as fronteiras japonesas, os mangás conquistaram de vez o seu espaço. Importante meio de diversão dos pequenos, os quadrinhos, que além de oferecerem grandes perspectivas futuro e de profissionalização de jovens talentosos e amantes dos mangás, mostram seu enorme potencial de incentivo à leitura; à apreciação pela literatura por parte das crianças e adolescentes e às mobilizações e campanhas, como a de doação de sangue. São as grandes aspirações de um simples passatempo de criança que veio para ficar.