Felipe Maia
Na última falando do tema “da HQ ao cinema”, ficou clara a idéia de que chegou-se ao ápice do gênero. É provável que não caibam mais quadrinhos nos frames. Frank Miller endossou a tese em sua tentativa de reviver Sin City e 300 em The Spirit. O clima noir, sutilmente bem-humorado, se esvaiu nos cenários virtuais falsamente contrastados. A isso, soma-se um roteiro minimalista e bem previsível. Mais um dos ingredientes de uma marmita requentada e sem sal.
O ranço do filme já começa com planos recortados e as narrativas em off, bem ao estilo de Sin City. Mas Spirit não está na cidade do pecado. O investigador que renasce dos mortos está em Central City, uma típica cidade criminosa, onde a polícia é o bem e os bandidos são o mal, ciceroneados por um líder, no caso, o megalomaníaco Dr. Octopus. A trama tem alguns nós, caso da personagem Sand Sarif e do próprio Spirit. Uma história simples — cujo autor é Will Eisner, grande nome da arte seqüencial —, e não simplista — o autor dessa é Frank Miller, que capitaneou também a adaptação do roteiro.
Do gibi para a tela, os conflitos entre os personagens perderam densidade e caíram num lugar-comum, tão comum que o vilão fala seu plano antes de tentar matar o mocinho. Alguns momentos de um saxofone sibilante e de uma fotografia bem medida salvam do tédio, bem como a presença (e não a atuação) de Eva Mendez e Scarlett Johanson. Mas os quadrinhos são bem mais legais. Não, não há comparação, e sim um melhor direcionamento de seu tempo.
Spirit não faz o tipo graphic novel, caso do aclamado Watchmen. Tampouco é do tipo quadrinhos para crianças. A HQ de Eisner pode ser lidas por jovens ou adultos — ou por seu pai quando jovem e agora, mais velho, como fez o meu. Isso significa o quão interessante é a história, independente do público ou da época. Miller tirou a essência dos quadrinhos em prol de uma visualidade nauseante e à qual já estamos acostumados. Fica no aguardo quando o diretor irá se renovar. E quando as gigantes midiáticas irão parar de nos empurrar adaptações tão xôxas, como fizeram com V for Vendetta e Elektra.