Por Aline Noronha (alinenoronha@usp.br)
No último domingo (06), o Brasil conquistou mais uma estrelinha em sua camisa de futsal, após vencer pela sexta vez a Copa do Mundo, desta vez por meio da vitória contra a Argentina por um placar de 2 a 1. A campanha brasileira contou com a melhor defesa e ataque da competição: fez 40 gols, sofreu apenas seis e, no fim, levantou o troféu mundial com 100% de aproveitamento.
Confirmando o favoritismo, o Brasil não conheceu a derrota nenhuma vez. Já em sua estreia, na fase de grupos, mostrou para o que veio na Copa, ganhou de Cuba por 10 a 0, em seguida da Croácia por 8 a 1 e da Tailândia por 9 a 1. Nas oitavas de final, venceu a Costa Rica por 5 a 0 e nas quartas o Marrocos por 3 a 1.
Na semifinal, a seleção brasileira teve o jogo mais difícil do campeonato ao enfrentar a Ucrânia. Até o primeiro tempo, o país verde e amarelo perdia por 1 a 0, mas após o intervalo, com dois gols do protagonista Dyego, o Brasil venceu de virada e sacramentou o resultado de 3 a 2. Pouco tempo depois, os ucranianos conquistaram o terceiro lugar ao vencer a França pelo placar de 7 a 1.
O Brasil quebrou o jejum mais longo da história no futsal, após 12 anos sem conquistar um título ou chegar em uma final [Reprodução/Instagram: @cbf_futsal_]
Hexa ou octa campeão?
Atualmente, a seleção brasileira é a maior campeã na história da Copa do Mundo, com seis vitórias. Possui uma enorme diferença em relação ao segundo colocado, a Espanha, com apenas duas vitórias, como também em relação à Argentina e Portugal, que possuem um troféu cada.
A diferença poderia ser ainda maior caso houvesse a contabilização dos títulos mundiais que o Brasil ganhou em 1982 e 1985. À época, a gestão da seleção estava com a Confederação Brasileira de Futebol de Salão e não com a Confederação Brasileira de Futebol.
As outras conquistas da Copa do Mundo do Brasil ocorreram em 1989, 1992, 1996, 2008 e 2012 [Reprodução/Instagram: @cbf_futsal_]
Já a seleção argentina ganhou apenas uma vez a Copa, em 2016, apesar de ter competido três finais seguidas. Brasil e Argentina já se encontraram em outras finais do futsal, como na Copa América deste ano, quando os brasileiros, que desde 2017 não conquistavam esse título, venceram os hermanos por 4 a 2.
Chama o pivô!
Na final, o técnico Marcos Xavier encontrou dificuldades na escalação, haja vista que os principais destaques, como Pito — o melhor jogador do mundo — e Ferrão, haviam se machucado durante a competição. Apesar disso, mesmo com poucos minutos em quadra, os atletas fizeram a diferença.
O Brasil iniciou a partida em alta intensidade e velocidade. Em menos de dois minutos, Dyego finalizou a bola em direção às redes, mas o goleiro argentino Sarmiento, que está entre os melhores do mundo, defendeu. Os argentinos, não ficaram para trás: aos 18’25’’ (o relógio no futsal é decrescente) eles foram para o ataque, mas o goleiro Willian defendeu.
O jogo equilibrado foi marcado por poucos erros por parte das duas equipes. Por essa razão, uma estratégia adotada pelos argentinos foi acionar os seus pivôs com frequência para procurar faltas mais próximas do gol. No futsal, o pivô é o motor do time, por fazer uma movimentação estratégica entre os zagueiros em direção ao ataque, com jogadas mais elaboradas que culminam, por vezes, em gols — uma posição relativamente parecida com a do centroavante no futebol.
A Argentina teve muitas chances de bola parada: foram 15 escanteios contra dois do Brasil no primeiro tempo [Reprodução/Instagram: @afaseleccion]
Apesar disso, a seleção brasileira procurava controlar mais o jogo. Aos 14’, Neguinho quase fez um gol com passe de Ferrão, mas Sarmiento espalmou a bola para fora. Após muitos “quases” verde e amarelos, a primeira bola que balançou as redes veio aos 14’13’’. Rafa realizou uma cobrança de falta e Ferrão, no rebote, fez o gol.
O jogador brasileiro nem comemorou o próprio gol. Após a finalização, caiu no chão, levou a mão à coxa e saiu de campo mancando bastante. Ferrão, eleito três vezes o melhor do mundo, entrou na partida no sacrifício e foi essencial para a vitória. A resposta foi imediata: aos 13’58’’. Willian realizou uma defesa inacreditável com o cotovelo e freou o ataque argentino.
Aos 12’04’’, Pito cometeu uma falta no argentino Rosa e o juiz espanhol, Alejandro Martinez, foi confirmar a possibilidade de expulsão. O brasileiro pisou no pé do adversário com força, quando a bola não estava mais em disputa direta. Os minutos de tensão terminaram quando o juiz afirmou que não era lance de cartão vermelho, mas de amarelo.
Depois do primeiro gol, o Brasil recuou um pouco e a Argentina foi para cima, mas a partida voltou a ser equilibrada, com lances de perigo brasileiros. Quando o técnico Marquinhos cobrou ritmo de jogo aos seus atletas, a resposta foi imediata. Aos 7’27’’, Valério construiu uma jogada linda com direito a caneta e chutou ao gol. Apesar de não ter balançado as redes, no rebote, a bola bateu no joelho machucado do pivô Rafa e consagrou o segundo gol brasileiro. Logo após, o atleta deixou a partida por causa das dores.
No primeiro tempo, as melhores chances de gols estavam no Brasil. A Argentina estava com dificuldades de finalizar suas bolas no gol, seja pela potente defesa brasileira ou pelo paredão Willian. Aos 4’10’’, Willian defendeu um chute veloz e forte. Pouco tempo depois, aos 3’22’’, novamente defendeu uma grande jogada do pivô argentino Rosa. Do outro lado, Sarmiento também foi muito acionado: após cobrança de falta foi a vez do capitão Dyego quase cravar um gol.
“Sem falta, sem falta, sem falta!”
No segundo tempo, o Brasil finalizou menos que a Argentina, mas mesmo assim apresentou perigo. Aos 15’20’’, no segundo tempo, Pito chutou com força a bola em direção às redes, mas Sarmiento defendeu. O pivô brasileiro, apesar de estar jogando em um nível abaixo do que geralmente desempenha, continuou durante toda a segunda etapa, já que seus suplentes estavam lesionados.
Minutos depois, Marcos parou o jogo para ajustar a primeira linha que estava descendo muito, com alto risco de faltas próximas à linha do pênalti. Após outras grandes defesas de Willian, a seleção argentina teve que arriscar e chamou aos 6’56’’ o goleiro de linha — o goleiro sai da quadra e entra um outro jogador para aumentar o volume ofensivo. Caso haja um contra-ataque, este jogador sai rapidamente para o goleiro voltar ao gol.
Os jogos do Brasil foram tão seguros que não usaram em momento algum o goleiro linha [Reprodução/Instagram: @afaseleccion]
O desespero chegou para os hermanos que tentavam de todos os lados vencer a defesa implacável de Willian. Aos 4’14’’, Gauna quase finalizou um cruzamento tão próximo do gol que, ao tentar cabecear, bateu o rosto na trave. Diferentemente do futebol, não há impedimento no futsal, por essa razão os jogadores podem ficar à frente da defesa do time rival.
Pouco tempo depois, o Brasil cometeu a quinta falta coletiva, o que faria com que a próxima falta fosse como uma cobrança de pênalti a dez metros de distância do gol, o que fez com que o banco brasileiro começasse a gritar “sem falta” repetidamente.
Aos 2’, Rosa diminuiu a diferença do placar, o que trouxe os argentinos novamente para o jogo. Após uma sequência de defesas incríveis de Willian, aos 0’11’’, ele realizou a última grande defesa e garantiu a vitória brasileira. Com menos de um segundo no relógio, os hermanos reclamaram de um toque de mão, mas o juiz apitou o fim da partida, colocando um fim ao sonho dos argentinos, que choraram bastante no salão.
O destaque e atuação de ouro do Brasil
Não foi apenas o troféu de campeões do mundo que os brasileiros trouxeram para casa. O paredão Willian recebeu tanto a premiação de melhor jogador da partida quanto o Luva de Ouro – o melhor goleiro desta edição da Copa do Mundo de Futsal.
“Somos campeões do mundo. É o que todo mundo sempre sonhou aqui. Só tenho a agradecer a esse grupo maravilhoso. Merecíamos muito!”, destacou Willian [Reprodução/Instagram: @fifaworldcup]
O capitão Dyego recebeu a Bola de Ouro, como melhor jogador, e Marlon levou a de prata. Já na artilharia, Marcel recebeu o Tênis de Ouro, com dez gols marcados, seguido por Abakshyn da Ucrânia, com sete gols, e Kevin Arrieta da Argentina, com a mesma quantidade do europeu. O troféu de fair play, espírito da competição, ficou com Portugal, que foi eliminado nas oitavas de final pelo Cazaquistão.
Imagem de capa: [Reprodução/Instagram: @cbf_futsal_]