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‘Crimes do Futuro’: muito body para pouco horror

O que prometia ser a volta do body horror se mostrou um verdadeiro show de presunção e nonsense

Crimes do Futuro (Crimes of the Future, 2022), a volta do aclamado diretor e ícone do terror mundial David Cronenberg, chega às salas de cinema no dia 14 de julho e estará disponível pela Mubi do Brasil no dia 29 do mesmo mês. O longa retrata um mundo onde o genoma humano passou por numerosas mutações para se adaptar à nova realidade sintética e tecnológica, e a chamada Síndrome de Evolução Acelerada vem desencadeando diversas metamorfoses nos corpos das pessoas. Cirurgias invasivas e coléricas se tornaram comuns, sendo consideradas pelo público como performances artísticas. No entanto, o que prometia ser a volta do body horror se mostrou um verdadeiro show de presunção e nonsense; na verdade, o filme entrega muito body e pouco horror, e algumas das cenas chocantes parecem não servir a um objetivo claro para o desenvolvimento da trama.

O enredo acompanha Saul Tenser (Viggo Mortensen), um homem cujo corpo tem a capacidade de produzir regularmente novos órgãos funcionais. Junto de sua parceira Caprice (Léa Seydoux), se aproveita de sua condição para ganhar a vida fazendo apresentações chocantes onde retira cirurgicamente tais órgãos na frente do público com auxílio de uma máquina de autópsias. Após um de seus shows, Saul é abordado na volta para casa por um homem que diz ter o corpo de seu filho guardado em casa e o oferece para que seja dissecado ao vivo pela dupla. 

A partir daí, o restante da trama foca no dilema enfrentado pelos artistas, que se veem indecisos quanto à proposta, ao mesmo tempo que tentam buscar uma solução para o problema que Tenser apresenta para consumir alimentos orgânicos, registrar os novos órgãos na base de dados do governo e lidar com o trabalho infiltrado em um grupo revolucionário. O roteiro apresenta muitas ideias e não consegue sustentar todas.

Por mais interessante que seja a premissa, o diretor se perde em uma infinitude de conceitos e analogias, e se torna evidente que o filme definitivamente busca passar uma mensagem, mas ele não o faz de forma clara. As referências à sexualidade estão muito presentes no longa, e muitas das cenas mais grotescas são retratadas através de uma lente influenciada pelo erotismo. “Cirurgia é o novo sexo”, diz em certo momento a personagem Timlin (Kristen Stewart). Existe uma crítica metafórica muito válida aos padrões de beleza impostos pela mídia, e uma das personagens chega a dizer que “o que os cirurgiões plásticos não entendem é que eu não quero me tornar mais bonita.” Nesse mundo, o escatológico é considerado belo, e o antigo belo está sendo cada vez mais deixado no passado.

As atrizes Léa Seydoux e Denise Capezza em cena de Crimes do Futuro. [Imagem: Reprodução/O2 Play]
Um dos grandes problemas do filme é a falta de esclarecimento sobre o que é a trama. Sim, uma das regras primordiais do roteiro é “mostre, não conte”, e o longa não conta e também não mostra. Todos os enredos secundários apresentados não recebem uma conclusão, e o final abrupto funciona bem em fazer o espectador pensar, mas não são pensamentos reflexivos a respeito do tema e mensagem do filme, mas sim pensamentos de “o que foi que aconteceu?”.

No geral, Crimes do Futuro é um filme promissor e certamente digno de ser representante do cinema de David Cronenberg, porém as suas falhas de roteiro, andamento arrastado e violência gratuita e desnecessária há uma cena de morte nauseante que não desenvolve em nada a história do filme seguram seus pés no momento exato em que começa a decolar. Talvez se o diretor tivesse aproveitado o conceito inovador, os ótimos efeitos especiais e o elenco talentoso, teria conseguido contar uma história intrigante. Ou não.

O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:

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