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‘Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio’: Um clássico regado em sangue

Mesmo após 40 anos do seu lançamento, The Evil Dead continua sendo um marco do terror, integrando simplicidade e personalidade

Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio (The Evil Dead, 1981) é um filme de terror que segue uma das fórmulas básicas do gênero: um grupo de jovens, liderados por Ash Williams (Bruce Campbell), resolve passar um final de semana em uma cabana com uma aura sinistra no meio do nada e acabam encontrando-se presos em uma série de eventos sobrenaturais após achar um livro misterioso. A sinopse pode até ser genérica, porém, a execução do projeto fez com que essa premissa simples justificasse o status de cult que o filme adquiriu.

O longa dirigido por Sam Raimi, mesmo longe de ser perfeito, pega uma das propostas mais batidas do cinema e mostra como o estilo, quando bem utilizado, é capaz de agregar a uma obra, independentemente de limitações orçamentárias. A ambientação é composta de uma cabana de quatro cômodos pequenos e mal mobiliados e um lado de fora quase sem iluminação. O grande mal, nunca mostra a fuça para a câmera. Litros e mais litros de sangue falso são utilizados para esconder a maquiagem ruim. E ainda assim, Raimi consegue utilizar essas dificuldades com tamanho esmero, conferindo uma personalidade única ao filme.

A construção da atmosfera é feita de forma que você se sente preso com eles na cabana. A edição do filme é feita para salientar esse encarceramento em cada cena. Você sente desde a cena inicial, dos personagens no carro, essa sensação de falta de espaço, para passar a ideia desde cedo para o público de que de nada adiantaria as tentativas de fuga. Essa aposta de construção de uma tensão claustrofóbica adiciona um senso de urgência em cada tentativa de contra-ataque dado pelos personagens nas cenas de confronto. 

A outra limitação que o diretor sabe utilizar para seu benefício é a iluminação. Ao invés de tentar criar ambientes claros, a escolha aqui é utilizar a luz das lâmpadas da própria cabana para iluminar as cenas internas. Isso resulta em um ambiente sombreado, que destaca os cantos do cômodo, aprisionando um pouco mais o protagonista. Nos ambientes externos, a maioria das luzes são dos holofotes da cabana e dos faróis do Delta 88, carro de Ash Williams, que mal iluminam o ambiente, usando a escuridão como forma de aprisionamento nas cenas externas.

Personagens de A Morte do Demônio entrando em um ambiente escuro, ofuscados por uma luz intensa atrás deles.
Existe algo na floresta, tentando entrar na cabana [Imagem: Divulgação/Renaissance Pictures e New Line Cinema]
Outro ponto acertado pela direção é nunca mostrar a verdadeira face do monstro que persegue os personagens, utilizando do conceito de horror indescritível de Lovecraft para criar o grande Mal. O monstro está solto nos arredores da cabana e nós, público, só vemos através dos olhos dele. A maneira como a câmera é movimentada para simular a ideia de uma criatura caçando suas presas de forma sobrenaturalmente pelo ambiente e a forma como essas cenas são montadas, fazem questão de destacar a natureza demoníaca da criatura. 

É claro, o grande Mal intangível não é a única manifestação sobrenatural no filme. Para as cenas de lutas, o filme conta com o bom e velho clichê de possessões demoníacas para criar oponentes a serem enfrentados pelos protagonistas. Como modo que o monstro acha de interagir com as personagens, os Deadites — nome dado aos humanos possuídos pelo Mal —, acabam sendo uma representação interessante da natureza demoníaca do antagonista. Ao invés de só tentar matar os protagonistas, eles se divertem brincando com os sentimentos e esperanças do personagem principal, num sadismo que faz com que até os personagens se perguntem para que tanta maldade.

Em A Morte do Demônio, Deadites são humanos com rostos demoníacos feitos através de maquiagem duvidosa. Na imagem, um Deadite aparece com um roupão branco, unhas vermelhas e rosto esverdeado, acinzentado e com cortes vermelhos.
Um Deadite se divertindo com o mal que está causando [Imagem: Divulgação/Renaissance Pictures e New Line Cinema]
Contudo, não são só acertos que A Morte do Demônio possui. Se a simplicidade da proposta ajuda na construção do ambiente e ameaça, o mesmo não pode ser dito na construção dos personagens principais. 

Por mais que o gênero de terror não precise de personagens profundos ou com arcos bem definidos, os protagonistas não conseguem fugir dos estereótipos de jovens que querem sobreviver. Como motivação, sobreviver é um ótimo mecanismo de roteiro para justificar as ações dos personagens, porém não para fazer com que o espectador se apegue a eles. Somente Ash, interpretado por Bruce Campbell, tem algum traço de personalidade entre os humanos do filme. As atuações lavadas da maioria dos atores também não ajuda esse problema. 

Alguns elementos que são colocados no filme também ficam meio soltos no produto final. O próprio livro é um elemento que aparece no começo do filme e no final, sem muito aprofundamento de sua função naquela situação. Ele é facilmente esquecível no espaço de suas aparições. Para quem conhece a franquia começada por esse filme, vai ver outros elementos que se tornaram ícones da franquia sendo deixados de lado — claro, isso só será um “defeito” para quem já é fã.

A Morte do Demônio é um filme surpreendente. Mesmo com seus erros e limitações, a produção de Sam Raimi entrega o que promete: um amontoado de clichês B que diverte e prende o espectador. Uma diversão farofa sem perder a qualidade. Para quem procura um bom filme para ver durante o final de semana ou para quem é fã de cinema trash e/ou de filmes B, A Morte do Demônio é uma ótima pedida. Groovy.

Nota do Cinéfilo: 4,5 Ótimo

O filme está disponível para locação no YouTube. Confira o trailer:

1 comentário em “‘Uma Noite Alucinante – A Morte do Demônio’: Um clássico regado em sangue”

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