No Brasil, ouvimos tenebrosas lendas do nosso folclore desde a infância. Uma dessas histórias fala sobre noites de lua cheia em que coisas assustadoras acontecem. Seres humanos passam por transformações bizarras e tornam-se híbridos de lobo + homem. Claro que estamos falando do lobisomem, um mito que não se restringe apenas ao Brasil, sendo conhecido no mundo todo. Em 1983, o mestre do terror Stephen King publicou A hora do lobisomem, e agora, quase 35 anos depois, o livro retorna em mais uma edição, com cara nova, mas mantendo o mesmo bom conteúdo.
A Hora do Lobisomem (Suma de letras, 2017) se passa na cidade de Tarker’s Mill, em Maine, Estados Unidos. A pacata cidade agora tem que conviver com uma realidade que assusta seus poucos moradores. Mortes incompreensíveis passam a ser frequentes na região, e muito se especula sobre elas. No entanto, ninguém sabe ao certo o que realmente está acontecendo.
Tudo começa em Janeiro, com a primeira e misteriosa morte: um sinaleiro de ferrovia que fica preso em um barracão e acaba morto pelo lobisomem. A cidade toda questiona, afinal, ninguém sabe do que se trata. A maioria dos habitantes acredita que um serial killer seria o responsável por todas essas fatalidades, quando na verdade, tratava-se da temível fera.
Aos poucos, mensalmente, uma nova morte ocorre na noite de lua cheia. A cidade fica em situação de calamidade e muitos até mesmo resolvem se mudar. Contudo, ainda é muito duvidosa a ideia de que um lobisomem seja a causa dessas mortes. Todos conseguem perceber a periodicidade dos ataques e todas as evidências. Porém, ninguém teve um encontro com ele e voltou vivo para contar a história. Será mesmo?
O livro é organizado de forma muito interessante, dividido como em um ciclo – o ciclo do lobisomem – que começa no mês de janeiro e encerra-se em dezembro. Cada mês traz a história e ponto de vista de uma personagem diferente, até o momento em que as histórias começam a se cruzar, afinal, trata-se de uma cidade pequena, onde todos se conhecem.
A leitura é bem breve, com uma história rápida e dinâmica, com o acréscimo das várias e belas ilustrações, feitas por Bernie Washington, que agregam ainda mais ao imaginário do leitor e dão um aspecto excelente ao livro. Esses e outros fatores tornam A hora do lobisomem um livro muito fácil de ser devorado – com o perdão do trocadilho.
O terror de Stephen King não assusta, mas horroriza, com as diversas cenas em que o lobisomem destrói suas vítimas para se alimentar, incrementadas pelas artes de Washington, dando um pacote completo de horror. No entanto, sua aura acaba se convertendo em um mistério, à medida que toda a cidade busca desmascarar o lobisomem para assim, quem sabe, sacrificá-lo em nome da segurança da população.
A linguagem utilizada na obra é outro fator que a torna muito interessante, trazendo um vocabulário bem acessível, sem que o livro fique entediante antes do final da história. E esse é um dos principais pontos positivos: o leitor é levado pela narrativa, pois ela se passa tão fluidamente que nem é possível perceber o tempo passando, deixando de lado qualquer possibilidade de cansaço durante a leitura.
Com uma história universal e um personagem que é conhecido no mundo todo, A hora do lobisomem é uma ótima pedida para quem busca se divertir com histórias mais obscuras. A obra do genial Stephen King faz jus ao autor, com uma história que equilibra bem o mistério e o suspense com o horror da criatura monstruosa. A nova edição ainda traz consigo um bônus à leitura, que é o trabalho de artistas brasileiros em algumas ilustrações com a temática do livro. Todos esses fatores tornam a obra uma ótima escolha para as férias e para quem quer aproveitar o tempo livre com uma boa história.
Por Gabriel Bastos
gabriel.bastos@usp.br