Depois de mais de seis anos do fim da novela da Globo nomeada Fina Estampa, Crodoaldo Valério volta às telonas em sua segunda comédia. Aqui, um aviso se faz importante: isso não significa que, de fato, haja uma continuação entre a produção de 2013 e esta, de 2018.
De qualquer forma, Crô em Família (2018) apresenta ao público um Crodoaldo ainda rico, mas vulnerável, triste e solitário por conta de um divórcio recente, que o impacta principalmente em decorrência do afastamento provocado entre ele e sua cachorrinha. Como consequência desse cenário, uma mulher convence sua família a se passar por “familiares perdidos” do milionário para, assim, matá-lo e ficar com a sua fortuna. Facilmente, o ex-mordomo cai na história inventada pela vilã, apesar de os amigos dele o alertarem sobre a possibilidade de tudo aquilo ser um golpe. E, com base nisso, os fatos vão se desenrolando em meio a várias piadas.

Seguindo a linha da novela, bem como a do filme anterior, o humor é muito baseado no estereótipo gay e os personagens não são bem desenvolvidos. Obviamente, isso agrada uma parte considerável do público brasileiro, que – em geral – gosta de ignorar os problemas relacionados à intolerância. No entanto, em pleno 2018 não parece adequado reduzir os homossexuais a certos hábitos e trejeitos, além de usar isso como piada. O filme faz parecer que está tudo bem rir dos gays, porque eles são dóceis e engraçados, vão levar na brincadeira.
Talvez como forma de diminuir a provável rejeição da comunidade LGBT, ligada ao rótulo empregado, há no longa a presença de cantoras que fazem sucesso nesse setor da sociedade como a Preta Gil e a Pabllo Vittar. Aliás, existem inúmeras participações especiais. Infelizmente, muitas delas acontecem de forma forçada, não se encaixando com a história, o que dá a impressão de que foram projetadas somente para atrair espectadores.

Outra falha notável se encontra no roteiro. Como já citado, não há continuidade entre os dois filmes do Crô. Evidência disso é o fato de a menina adotada pelo protagonista no primeiro longa simplesmente ter desaparecido sem nenhuma justificativa, algo que também aconteceu com a idolatria que Crodoaldo tinha pela mãe, interpretada por Ivete Sangalo na produção anterior. Todas essas questões podem deixar o público, no mínimo, confuso.
Já em relação aos pontos positivos, pode-se citar a atualização do personagem principal, já que as gírias e as referências à cultura pop são contemporâneas, fator o qual facilita o riso por aproximar o público dos personagens. Além disso, o humor carismático, meio inocente que às vezes chega a ser bobo – como quando Crô finge saber falar francês – consegue atingir desde os mais jovens até os idosos, aumentando a abrangência do filme, algo interessante.
Crô em Família é, então, uma grande contradição, pois é atual por utilizar o dialeto vigente, mas é ultrapassado por fazer uso de um humor tão inconsciente. Contudo, a obra tem até grandes chances de cativar diversas faixas etárias e isso torna tudo ainda pior, já que a mensagem propagada é tão prejudicial.
O filme, que foi dirigido por Cininha de Paula, será lançado no dia 6 de setembro. Confira no trailer abaixo um pedacinho daquilo que está por vir:
por Mayumi Yamasaki
mayumiyamasaki@usp.br