Exposições de arte em museus são inúmeras e diversas. Apesar disso, todas possuem algo em comum: as obras e seus artistas, em um ambiente onde tudo é pensado.
Ao visitar uma exposição, você já se questionou como ela é feita? Quais são os critérios para a seleção de artistas e obras? Quem está por trás da montagem? Nesta reportagem, falaremos sobre o processo de curadoria, abordando o que é, quem a integra, e o fato de que ela é, antes de tudo, um lugar de exercício de poder.
Desconhecida por muitos, a curadoria refere-se ao processo de formação e produção da exposição artística. Segundo Hélio Menezes, curador, antropólogo e pesquisador, um dos primeiros passos para fazer uma exposição é pensá-la conceitualmente. Assim, é necessário refletir sobre o tema que será abordado, bem como sobre o enfoque geral da narrativa a ser trazida.
Em seguida, é realizada a pesquisa de acervo, isto é, a busca de obras e artistas para integrar a exposição, de acordo com o conceito previamente definido. Dessa forma, cabe ao curador se deslocar: ir às galerias, ver publicações e catálogos de outras exposições e entrar em contato com artistas. É importante que o curador vá aos ateliês, a fim de ouvir, direto da fonte, como foi a elaboração e o processo criativo da produção, bem como o conceito e contexto das obras.
É necessário ressaltar, de acordo com Hélio, que não há uma ordem específica no processo curatorial. O conceito e a pesquisa podem tanto ser trabalhados simultaneamente, quanto não. Isso depende da dinâmica do curador. Contudo, para fins didáticos, escolhemos dividir o processo em etapas.
Depois da pesquisa de acervo, há a organização das obras no espaço. Neste momento, a disposição delas é pensada de maneira a construir narrativas. Assim, as obras selecionadas dialogam umas com as outras, seja reforçando o tema de uma, contradizendo a visão de outra ou destacando as impressões de cor, forma ou conteúdo. Tudo é pensado. Dessa forma, percebe-se que o curador ressignifica a série de obras que serão expostas: elas deixam de ser meros objetos espalhados pelo ambiente, e passam a formar uma narrativa que promoverá o diálogo de sensações, ideias e experiências ao público.
Sabendo o papel do curador no processo de montagem de exposições, podemos questionar, agora, quais são os critérios de seleção de obras e artistas que entram no museu. Ao visitar exposições, você já reparou quantas obras são feitas por artistas mulheres? Quantos daqueles artistas presentes são negros? Em quantas obras está presente a figura negra? Ela assume um papel de subserviência ou empoderamento? E a figura feminina?
“A curadoria de artes é um lugar muito fechado: muito elitista, muito masculino, muito rico, muito branco, muito sudestino”, afirma Hélio. “A curadoria é um lugar de exercício de poder”. Afinal, há a disputa de narrativas por meio da arte. A escolha de determinada obra para integrar um ambiente expositivo consagrado confere visibilidade a ela, ao mesmo tempo em que invisibiliza outras obras e artistas que poderiam ocupar aquele espaço. O fato de haver exposições pouco representativas diz, portanto, muito sobre quem está por trás delas.
