Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

De 22 em 22: Uma Fotorreportagem da exposição Cem Anos Modernos

Em 1822, o Brasil se tornou independente de Portugal em um cenário que mantinha o sistema escravocrata e reforçava o poder de grandes fazendeiros. Cem anos depois, a Semana de Arte Moderna aconteceu e, enquanto alguns comemoravam esse centenário com um nacionalismo exagerado, alguns artistas se reuniam, no centro de São Paulo, com uma postura …

De 22 em 22: Uma Fotorreportagem da exposição Cem Anos Modernos Leia mais »

Em 1822, o Brasil se tornou independente de Portugal em um cenário que mantinha o sistema escravocrata e reforçava o poder de grandes fazendeiros. Cem anos depois, a Semana de Arte Moderna aconteceu e, enquanto alguns comemoravam esse centenário com um nacionalismo exagerado, alguns artistas se reuniam, no centro de São Paulo, com uma postura mais crítica em relação a isso. 

Hoje, 200 anos depois, olhamos para trás e vemos tudo o que foi construído até aqui. É esse o entusiasmo da exposição Cem anos modernos, em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS) de junho até agosto de 2022. A mostra é rica em referências, retoma o Brasil representado na Semana de Arte Moderna de 1922 e, em paralelo, os outros diversos brasis que fomos e somos. Propõe uma leitura que extrapola qualquer ideia de que a “arte brasileira passou a ser construída depois da Semana” e mostra que, na realidade, foi abertura para o modernismo no país.

Na época da Semana de Arte Moderna, a arte produzida nas academias literárias ficava longe do Brasil popular, fato que deixa seus resquícios até hoje. A própria Semana é representação disso: a elite falava para a elite. 

Artistas idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922.

Nesse mesmo contexto, os pólos urbanos do país experimentavam esse espaço que vemos hoje. Por exemplo, na capital de São Paulo é clara a diferença entre seu Leste e Oeste. Em questão de alguns quilômetros, são mudanças evidentes de espaços. Nesse sentido, os que foram sendo marginalizados para as periferias tinham ainda mais dificuldade para acessar ambientes elitizados, como o da própria Semana. 

O evento ocorreu no Theatro Municipal de São Paulo, o qual foi projetado financeiramente, desde o início, pelos grandes proprietários do café, e foi reprojetado nas paredes da exposição.

Emicida, em uma sala da exposição com mostra audiovisual, comentando sobre a Semana de Arte Moderna.

Porém, não nos enganemos: a Semana trouxe à tona, e sem medir limites, questões que antes eram adormecidas.

Referências da obra Macunaíma.

São exemplos dessas questões a quebra de padrões na escrita e de tabus para a representação da natureza, a apresentação de poesias não metrificadas, a liberdade de construção artística… rupturas essas que certamente marcaram a arte do século XX e reverberam até hoje.

Poema de Paulo Leminski.
Poema de Décio Pignatari.

Referência à alegria. Oswald de Andrade teria dito que o humor seria a prova dos nove de uma cultura nova, de uma nova perspectiva de civilização. É a introdução do elogio à alegria.

O acervo dá liberdade para o visitante explorar, pois não há um caminho específico a ser percorrido lá dentro. “Duas pessoas não viverão a mesma exposição”, diz o curador Marcello Dantas. Há uma diversidade de possibilidades para experimentar a construção, “em que um Brasil múltiplo, indomável, incoerente e por vezes contraditório vai se revelando”, como apresenta o site. O visitante é convidado, a cada nova sala, a explorar e se apropriar das mais diversas texturas da nossa cultura. Toda a exposição aproveita a figura das portas, que vão de simples cortinas até portões de cela.

Sala exclusiva que reuniu falas de figuras da cultura nativa, como Aílton Krenak
Representação de uma cela com Diário de Um Detento, dos Racionais Mc’s, projetado.

Por essas possibilidades, há caminhos que levam ao “verde e amarelo” do integralismo, movimento fascista no Brasil do século XX que tinha como lema “Deus, pátria e família”. Isso é, a mostra tenta perpassar pelos traços mais evidentes da cultura brasileira da época, até mesmo as mais delicadas, até chegar nos dias de hoje, pois “a ideia é tratar, também, dos aspectos autoritários que entraram pela porta da modernidade”, segundo o site da exposição. Ou seja, o modernismo não se restringe às artes plásticas ou poesias, mas se expande à política, ao teatro, cinema,  músicas, literatura popular…

Apresentação do Teatro Experimental do Negro, projeto de Abdias do Nascimento.
Figuração do cordel brasileiro, também conhecida no Brasil como folheto, literatura popular em verso.

Nessa “ciranda”, como nomeia o curador, são expostos artistas dos últimos 100 anos. E é difícil conter a emoção vendo de perto os nossos contemporâneos.

Racionais Mc’s.
Elza Soares.
Emicida.
Jorge Ben.
Sala audiovisual que apresenta músicas que vão desde Caetano, passam por Jorge Ben e Mc Fioti, até a Anitta, com “Vai Malandra”.
Mc Fioti Bum Bum Tan Tan – Anitta Vai Malandra

Além de tudo isso, algumas frases, fazendo ou não referência a alguma obra, são um tanto intrigantes. Consciente ou inconscientemente promovem reflexão.

Referência ao filme Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
Trechos de Principia, canção de Emicida.
Canção Tropicália, de Caetano Veloso, em referência ao movimento artístico.

“O legado maior da semana para nós é pensar sempre que a atualização é um móvel muito importante, uma atualização que pressuponha uma leitura crítica da realidade e não uma mera incorporação de coisas que vem de fora, que a gente valida e replica”, como explica Marcos Moraes, doutor em Literatura Brasileira e pesquisador do IEB/USP. Por isso, agradecemos aos “artistas incomodados” da Semana na mesma medida que agradecemos, hoje, à Liniker, Mc Hariel, Djavan, Kyan, Tasha e Tracie e a todos os artistas que se desprendem de fórmulas ao se expressarem. Que dão visibilidade artística aos assuntos por vezes apagados e se entregam às possibilidades de produção de arte. Eles fazem parte da construção dos brasis que existem. E é significativamente importante toda vez que alguma dessas referências tocam o dia-a-dia a ponto de promover releituras dessa leitura de Brasil. 

[Imagem/Reprodução: Instagram @funkeiroscults]

Por fim, a exposição atinge os mais diversos propósitos. Expõe o Brasil múltiplo e, por vezes, contraditório, tal qual expressa em sua apresentação.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima