Imagem de Capa: Júlia Vieira /Comunicação Visual – Jornalismo Júnior
Não é novidade que os atuais padrões de beleza influenciam a vida de todos. Mulheres magras, com grandes seios, quadris largos, olhos enormes, pele clara e bocas carnudas; homens altos, com rosto largo e corpo malhado, pele clara… todas essas características, comuns do biotipo europeu e norte-americano, de tão enaltecidas, acabaram se tornando símbolos do que a sociedade considera como belo. Ou seja, ser “bonito” hoje em dia é, basicamente, ser branco, europeu ou estadunidense. Entretanto, o tipo oriental não possui essas características. A busca das sociedades orientais em se encaixarem nesse padrão tem levantado a discussão sobre a ocidentalização da beleza oriental. O debate ocorre devido às influências ocidentais estarem cada vez mais presentes na forma dos nascentes se produzirem e, também, por causa da preocupação acerca das consequências culturais que este fenômeno pode ter para essas etnias.
A influência do Ocidente começa a se tornar marcante a partir do século XX, com a dominação estadunidense de algumas áreas do continente asiático, como Coréia do Sul e Japão, após a Segunda Guerra Mundial. A presença de militares norte-americanos no pós-guerra foi intensa nesses países, o que gerou uma mistura de hábitos e culturas entre Oriente e Ocidente. Além disso, no decorrer da Guerra Fria, para impedir a influência soviética sobre a Ásia, os EUA investem muito dinheiro nesses dois países para que eles se tornem “modelos de sucesso do capitalismo na Ásia”. E deu certo.
Nos anos 1970, o Japão já é uma potência econômica consolidada, com um alto nível de importação e exportação. Ou seja, não eram só os produtos japoneses que iam para o mundo, os produtos do mundo inteiro chegavam ao Japão, como roupas, maquiagem, filmes, programas de TV, livros, etc, e com eles o estilo de vida ocidental que, com o passar do tempo, foram assimilados pela população. Entre 1990 e 2000, a Coréia do Sul passa pelo mesmo processo e, atualmente, a China parece estar no mesmo caminho devido a sua abertura econômica.
A alta integração econômica também acaba intensificando as trocas culturais entre os países, sendo este um dos principais fenômenos da globalização. Essas trocas ocorrem de forma tão intensa que tendem à uma uniformização, criando uma cultura global homogênea.
Mas há uma incorporação injusta/superficial das culturas orientais no mundo ocidental. O estudante Victor Miyano, mestiço com descendência oriental, diz: “As coisas são apropriadas e descontextualizadas. Tem uma curiosidade de saber quem foi Buda, mas ela se esgota no momento que as tuas demandas foram atendidas. Buda virou um símbolo de ‘good vibes’ e pronto, ninguém sabe quem é, ninguém sabe o que significa, mas é bacana ter uma imagem dele na sua casa.”
Enquanto isso, ocorre uma adesão sistêmica do modo de vida e dos padrões norte americanos. A música, os filmes, a moda do EUA penetram e influenciam o mundo todo devido ao poder econômico desse país. Eles se vendem como um modelo a ser seguido e nós o compramos. No oriente não é diferente. Há uma busca global em se tornar uma potência igual aos Estados Unidos e, assim, as sociedades passam por um processo de uniformização cultural que imita os estilo de vida norte americano, consequentemente as pessoas passam a entender que devem ser como um yankee: branco.
Isso traz uma série de consequências para as pessoas de etnias asiáticas. A principal é a tentativa de se ocidentalizar em todos os aspectos possíveis, consumindo e praticando o estilo e vida caucasiano, seja ouvindo suas músicas, vestindo suas marcas, vendo seus filmes ou comendo suas comidas. Até aí faz parte da chamada “cultura cosmopolita” redigida nos moldes estadunidenses. O problema por trás disso vai da perda da identidade cultural e o esquecimento das tradições milenares desses grupos étnicos até atitudes extremas para atingir o tipo físico de beleza ocidental.
As músicas pop (comerciais) de países como Coreia do sul (K-pop), Japão (J-pop) e China (C-pop), por exemplo, se assemelham em ritmo, estilo e temática com a da norte americana, por causa da vontade de imitar o arquétipo de música internacional. Usam expressões em inglês e os grupos musicais se assemelham as “boy and girls bands”: grupos de jovens que cantam e dançam coreografias ensaiadas.
Há também os cosméticos que alteram uma aparência típica asiática, como lentes de contato e pregas para pálpebras que aumentam os olhos, artefatos que aumentam temporariamente o tamanho dos lábios, clareadores de pele e roupas íntimas com enchimento. Muitos recorrem às cirurgias plásticas para realizar tais mudanças de forma permanente.
Na Coreia do Sul 1 a cada 5 pessoas já realizou cirurgia plástica, segundo o instituto de pesquisa Trend Monitor e quase 40% das cirurgias são realizadas em turistas chineses. A estudante de contabilidade Thais Ayumi explica que, por ter muito contato com a cultura japonesa e coreana, percebe: “no japão nem tanto, tem um pouquinho (maquiagem, querendo aumentar os olhos, essas coisas), mas eu sinto que é bem mais deles. é um diferencial deles. Ainda tem um pouco de originalidade ali. Mas na Coréia é muito mais voltado pro ocidente, sabe? Tipo, muito muito silicone, tentam colocar um corpo diferente, a maquiagem tenta abrir os olhos, fazem muita plástica para afinar o nariz, essas coisas. Ter uma representação asiática, realmente asiática natural, que nunca fez uma plástica mostrada como uma beleza a ser seguida, não existe, é bem difícil.”
O debate a respeito da preservação e mercadorização das culturas orientais ainda precisa ser ampliado, mas de uma coisa não há dúvida: a hegemonia cultural norte americana coloca todos aqueles que não se encaixam em seus padrões em categorias inferiores, exercendo uma pressão estrutural de mudanças físicas e culturais em diversas etnias, o que acaba provocando graves danos a esses indivíduos.
Por Letícia Martins Tanaka
leticiamtanaka@usp.br
Concordo plenamente com a matéria, muito bem redigida!